Estão
incluídos na lista carne e café, produtos importantes da pauta
exportadora brasileira. Ao todo, são mais de 200 itens agrícolas e da
pecuária, incluindo alguns fertilizantes à base de amônia.
Em
comunicado, Trump cita a conversa que teve por videoconferência com o
presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O republicano
afirma que ouviu opiniões de outras autoridades no sentido de que as
tarifas não são mais necessárias porque "houve progresso inicial nas
negociações com o governo do Brasil".
A isenção será retroativa para tudo que tiver entrado nos EUA a partir de 13 de novembro.
No fim de
julho, Trump impôs uma sobretaxa de 40% a produtos importados pelo
Brasil, que somou-se às chamadas "tarifas recíprocas" de 10% aplicadas
globalmente. O decreto, no entanto, previu uma lista com quase 700
exceções, como suco de laranja e produtos de aviação, que livrou 43% do
valor de itens brasileiros exportados para o exterior, segundo
levantamento feito pela Folha de S.Paulo.
Na semana
passada, o governo americano derrubou a tarifa de 10% das principais
exportações brasileiras, como carne e café. Agora, a sobretaxa de 40%
também caiu, isentando esses produtos das taxas adicionais aplicadas
pelo republicano desde abril.
Um dos motivos para a decisão dos americanos foi a alta da inflação no país, pressionada por itens como alimentos.
O café, por
exemplo, acumula alta de cerca de 20% em relação ao ano passado nos EUA,
segundo dados do CPI (índice oficial de inflação do país). Em 2024, o
Brasil exportou US$ 1,96 bilhão em café para os Estados Unidos, sendo o
maior fornecedor no período, segundo dados da International Trade
Administration, órgão vinculado ao Departamento de Comércio americano.
Desde que as
tarifas de 50% entraram em vigor em agosto, no entanto, as vendas de
café despencaram, segundo o Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do
Brasil). Em outubro, a retração foi de 54,4% em relação ao ano passado.
Para Marcos
Antonio Matos, diretor-geral do Cecafé, a decisão permite que o Brasil
recupere o espaço perdido nesses meses. "Os próprios torrefadores
[americanos] lutaram e muito pela reconquista da isonomia para os cafés
brasileiros. A gente está agora em pé de igualdade, é o que a gente
sempre quis", afirmou.
Para a carne
bovina, os EUA enfrentam uma inflação de 12% a 18% em relação ao ano
passado. Além das tarifas sobre o Brasil, o maior exportador global, uma
redução do rebanho local também tem pressionado os preços.
A Abiec
(Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes) diz que
celebra a retirada das sobretaxas sobre a carne bovina. A entidade diz
que a reversão reforça a estabilidade do comércio internacional e mantém
condições equilibradas para todos os países envolvidos, inclusive para a
carne bovina brasileira.
"A medida
demonstra a efetividade do diálogo técnico e das negociações conduzidas
pelo governo brasileiro, que contribuíram para um desfecho construtivo e
positivo. A Abiec seguirá atuando de forma cooperativa para ampliar
oportunidades e fortalecer a presença do Brasil nos principais mercados
globais."
A Câmara
Americana de Comércio no Brasil (Amcham) afirmou que a derrubada da
sobretaxa sinaliza um resultado concreto do diálogo entre Brasil e
Estados Unidos.
"A medida
representa um avanço importante rumo à normalização do comércio
bilateral, com efeitos imediatos para a competitividade das empresas
brasileiras envolvidas", disse.
A entidade,
no entanto, reforçou que ainda é preciso intensificar as negociações
para eliminar as sobretaxas aos produtos que ainda não foram
beneficiados por isenções, como os bens industriais.
O presidente
da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Ricardo Alban, disse que a
decisão de Trump é um avanço na renovação da agenda bilateral entre EUA e
Brasil.
"Vemos com
grande otimismo a ampliação das exceções e acreditamos que a medida
restaura parte do papel que o Brasil sempre teve como um dos grandes
fornecedores do mercado americano", afirmou.
Alban também
ressaltou a atuação do setor privado nas negociações do Brasil com os
EUA. Como mostrou a Folha de S.Paulo, o empresário Joesley Batista, um
dos donos da gigante de carnes JBS, foi recebido em audiência por Trump,
e a própria CNI foi a Washington com representantes de diversos setores
para negociar a derrubada das tarifas com o governo americano.
O anúncio do
governo americano foi celebrado por petistas e integrantes do centrão no
Congresso, sobretudo pelo impacto positivo para o agronegócio. O líder
do PT na Câmara, José Guimarães (CE), disse que a decisão "confirma a
força da diplomacia ativa do governo Lula, que trabalha com diálogo,
respeito e inteligência estratégica".
Já o
presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Nelsinho Trad
(PSD-MS), comemorou a medida, sem mencionar a atuação do governo
brasileiro, e disse que ainda é preciso avançar para retirar tarifas de
mais produtos.
"É preciso
reconhecer: embora os passos dados pelos EUA sejam muito positivos, o
processo está longe de terminado. Persistem tarifas que atingem
segmentos estratégicos e reduzem o potencial de expansão do nosso agro
no maior mercado consumidor do planeta", disse.
Integrantes
da oposição, por sua vez, evitam creditar às autoridades brasileiras a
nova redução de tarifas. De acordo com eles, trata-se de uma decisão tão
somente para atender interesses comerciais dos Estados Unidos, que
querem reduzir os preços.
O líder do PL
na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), disse que, se fosse resultado das
ações diplomáticas do governo Lula, teria sido anunciado ao lado de
Mauro Vieira na semana passada. "Só interesse americano. Zero
aproximação com o governo brasileiro. Trump está defendendo os
interesses do país dele", disse.
O empresário
Paulo Figueiredo, que atua ao lado de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos
Estados Unidos, usou o mesmo argumento. "Trump simplesmente retirou as
tarifas de alguns produtos brasileiros (como já tinha feito
anteriormente) em busca da redução de preços domésticos -em alguns
setores onde os EUA não são competitivos", disse.
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