‘ESTOU SENDO MASSACRADO’: Ricardo Coutinho afirmar para o UOL que está sendo perseguido pelo Ministério Público – LEIA A ENTREVISTA COMPLETA
O STJ (Superior Tribunal de Justiça) determinou a
soltura depois de ele ficar um dia atrás das grades. “A prisão
preventiva não pode ser usada como método investigativo”, diz Coutinho,
acusado pelo MP-PB (Ministério Público da Paraíba) de chefiar uma
organização criminosa suspeita de desviar mais de R$ 130 milhões em
recursos públicos durante seu mandato, entre 2011 e 2018. De acordo com a
denúncia, a verba seria destinada originalmente à educação e à saúde.
O
ex-governador afirma que seu caso entra no mesmo contexto das
condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e também critica a
operação Lava Jato e o ministro da Justiça, Sergio Moro.
O
político revelou à reportagem como foram seus últimos dias. Ele estava
em viagem com a esposa em Istambul (Turquia) quando foi informado de que
era alvo de um mandado de prisão da Operação Calvário.
Depois
de 15 horas de viagem, desembarcou no terminal internacional de Natal,
onde era aguardado por policiais federais. De lá, foi levado no banco
traseiro de uma viatura para uma viagem de 188 quilômetros até João
Pessoa. Eram 3h da madrugada de sexta-feira quando chegou à sede da PF
(Polícia Federal) na capital da Paraíba.
Na
manhã seguinte, participou por duas horas em uma audiência de custódia.
Em seguida, foi levado a uma ala especial da Penitenciária de Segurança
Média Juiz Hitler Cantalice, no bairro de Mangabeira. Foi libertado
após liminar favorável ao pedido de habeas corpus assinada pelo ministro
Napoleão Nunes Maia Filho.
Confira abaixo os principais trechos da entrevista.
UOL – Como o senhor rebate as acusações?
Ricardo Coutinho –
Estamos em meio a uma guerra violenta. Não é só comigo. Eu estou sendo
massacrado. Essa construção de narrativas não visa somente me atacar.
Existe um claro mapeamento sobre o partido [PSB] e sobre o nosso grupo
de militantes.
A prisão da prefeita
do Conde [Marcia Lucena, acusada de envolvimento no mesmo esquema] é de
uma violência. Ela foi presa porque, em 2014, tinha feito três dispensas
de licitação para contratar uma empresa que hoje foi denunciada. Se
tivesse algo errado, o Tribunal de Contas diria na época. Não é
simplesmente algo contra o Ricardo. É contra um projeto que mudou a
correlação de forças na Paraíba, gerando atritos com instituições.
O Ministério Público o acusa de chefiar uma organização responsável por desvios de mais de R$ 130 milhões dos cobres públicos.
É
uma acusação absurda. Nunca vi um empresário dizer que, para receber
fatura, teve que pagar alguma coisa. Aí arrumaram [Ministério Público da
Paraíba] uma delação para me acusar. Mas delação não é prova.
Meu
patrimônio é totalmente compatível com a renda que obtive ao longo
desses 28 anos de exercícios de mandatos públicos. A casa que eu tenho
foi declarada no valor integral. E não se apresenta uma prova de onde
está esse dinheiro. Rapaz, meu carro é de 2007! Estou sendo vítima de
uma perseguição política.
O sr. vê alguma relação entre o seu caso e o de outros políticos presos no país?
O
Brasil perdeu uma determinada estrada da civilidade democrática desde
2013. Entrou numa aventura, que não se sabia onde ia parar. Essa
aventura desorganizou a nossa economia, criminalizou a política e nos dá
um país destruído, com as pessoas sentindo apenas ódio. Com as pessoas
sendo manipuladas nas redes sociais.
Esse
período é pior do que a ditadura. Lá, você sabia o que estava
acontecendo. Agora, tem capa de democracia que cada vez nega mais
direitos, principalmente para a parte da população que mais precisa.
Entra numa lógica de que todo mundo é ladrão e tem que destruir todo
mundo.
Amigo,
se alguém roubou, é preciso instalar o devido processo legal,
investigar e arranjar as provas necessárias. A prisão preventiva não
pode ser usada como método investigativo.
Por que o sr. faz tantas críticas ao uso da delação em investigações de corrupção?
Porque
todas elas foram feitas para livrar os infratores até chegar no alvo da
investigação. Precisamos voltar para os parâmetros normais do estado
democrático de direito. Não vamos chegar a lugar nenhum enquanto
perdurar essa tosca definição. Surgem justiceiros assassinando
reputações para condenar. O papel da política é governar, esclarecer a
população e colocar em prática os seus projetos. O do MP é investigar.
Na denúncia, o MP afirma que os desvios foram em verbas destinadas à saúde e à educação. Como o senhor rebate essas acusações?
Isso
não tem fundamento. Quando eu assumi o governo, o hospital de trauma
[Hospital Estadual de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena] tinha
148 leitos e fazia 4 mil atendimentos por ano. Hoje, tem 331 leitos e
faz 17 mil atendimentos.
Toda semana,
havia greve do setor. A população, coitada, era massacrada lá dentro.
Em maio de 2011, um adolescente morreu na porta do hospital. Depois
disso, decidi que iria contratar uma OS [Organização Social] para
melhorar o funcionamento do hospital. Eram mais de 3 mil prestadores de
serviço em situação precária, que precisavam ser regularizados. Aí,
contratamos a Cruz Vermelha e tivemos uma melhoria significativa.
O
MP diz que eu recebia R$ 500 mil por mês. Pelo amor de Deus, como
alguém recebe esse valor? Vou botar onde esse dinheiro? É um negócio
absurdo, que se diz sem a menor preocupação com o dano que se causa às
pessoas envolvidas. Falaram até que eu tinha propriedades em Portugal,
Espanha, Estados Unidos, Minas Gerais, Pernambuco. Uma loucura, rapaz.
Uma instituição do porte do MP deveria ser mais cuidadosa. É tão
estúpido que não dá nem para responder. É só forma de destruir a pessoa
para poder condená-la.
Por que o sr. acha que isso está acontecendo?
O
grande alvo é o que se representa politicamente. Temos 150 escolas de
ensino integral. Fizemos um processo evolutivo na educação, rapaz.
Construímos 2.680 quilômetros em asfalto e 1.500 quilômetros de adutora.
Deixei o estado com R$ 300 milhões em caixa, fora os convênios. O
dinheiro que apareceu para obras e investimentos é a prova concreta de
que nunca se combateu tanto a corrupção. Antes, o dinheiro não aparecia,
meu amigo.
Tem diálogo que eles
vazaram em que estou buscando fazer com que o laboratório do estado, que
é público, vendesse mais para poder economizar. Estão tentando
criminalizar a defesa do estado. Quando recortam trechos, provavelmente
editados, truncados, mudam a perspectiva. É preciso apresentar provas
concretas.
O
que eu faço é política. E eles (MP-PB) usam trecho de diálogo fora do
contexto para me reduzir a chefe de organização criminosa? Tem que
provar. Ninguém diz onde está esse dinheiro. Saí do governo, não tem
mais nada. Mas a história era destruir a reputação. Eu compreendo que
isso faz parte do Brasil de hoje. Outras pessoas já passaram por isso.
Mas quem recupera? Isso não se recupera. E é algo lamentável.
O que o senhor tem a dizer sobre os diálogos que fazem parte da investigação?
Uma
dessas conversas diz respeito à ajuda de campanha. Houve essa conversa,
não daquela forma, descontextualizada. Nunca recebi nada, nenhum tipo
de doação. Essa conversa truncada e provavelmente editada se deu na
campanha de 2018. E eu pedi que procurasse uma determinada pessoa. Eu
não tenho conhecimento se houve qualquer tipo de doação dessa OS para a
campanha.
Uma outra diz respeito à
participação na sociedade em um laboratório farmacêutico, em uma
conversa com um empresário que estava sendo extorquido por uma
autoridade, que não posso dizer quem é. Fiquei jogando o jogo dele para
obter a informação. Fiquei fazendo de conta que gostaria [de ter
participação na sociedade] até conseguir a informação. Nunca tive
sociedade com ninguém. Não é a minha área.
O sr. vê um paralelo entre a investigação em Paraíba e a operação Lava Jato?
Fazem
parte do mesmo contexto. Lula foi acusado e condenado por uma
propriedade que ele efetivamente não tinha. Se não tem propriedade, como
pode ser culpado? E tem essa condenação prévia da opinião pública. O
que está acontecendo aqui é um retrato do Brasil. Isso de um juiz virar
ministro e querer controlar tudo [se refere Sergio Moro, ex-juiz da Lava
Jato e hoje ministro da Justiça]. A operação Lava Jato quer ser maior
do que o MP e do que o Judiciário.
Fonte: Uol - Publicado por: Érika Soares
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