Um pouco mais de oito meses depois de o Museu de
Arte Moderna (MAM) receber os holofotes do mundo para a reunião do G20
(grupo formado por 19 países e as uniões Europeia e Africana), o Rio de
Janeiro ocupa novamente cenário de destaque no palco das relações
internacionais. No domingo (06) e na segunda-feira (07), será realizada a reunião de Cúpula do Brics, sob a presidência brasileira.
Fórum das maiores economias fora do G7, que reúne as potências
alinhadas aos Estados Unidos, o grupo é apontado como uma voz do Sul
Global. Entenda mais sobre esse evento internacional com a série de
perguntas e respostas abaixo, preparadas pela Agência Brasil.
O que é o Brics?
O grupo se define como um foro de articulação político-diplomática de
países que formam o chamado Sul Global, buscando cooperação
internacional e o tratamento multilateral de temas globais.
Além de buscar mais influência e equidade de seus integrantes em
instituições como Organização das Nações Unidas (ONU), Fundo Monetário
Internacional (FMI), Banco Mundial e Organização Mundial do Comércio
(OMC), o Brics tem em seu radar a criação de instituições voltadas para
seus participantes, como o Novo Banco de Desenvolvimento, chamado
de banco do Brics.
Por não ser uma organização internacional, o Brics não tem um orçamento próprio ou secretariado permanente.
Quantos países fazem parte do Brics?
Atualmente, o grupo conta com 11 países-membros e dez países-parceiros.
Países-membros: África do Sul, Arábia Saudita, Brasil, China, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia, Índia, Irã e Rússia.
Países-parceiros: Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Nigéria, Tailândia, Uganda, Uzbequistão e Vietnã.
Qual a diferença entre país-membro e país-parceiro?
A modalidade país-parceiro foi criada durante a Cúpula de Kazan, na
Rússia, em outubro de 2024. Esses países são convidados a participar dos
encontros e dos debates. A principal diferença entre as
categorias é que apenas os países-membros têm poder de deliberação, ou
seja, votar nos encontros, por exemplo, para referendar a declaração
final do grupo.
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Cúpula de Kazan criou a modalidade de país-parceiro - REUTERS/Maxim Shemetov/Pool/Proibida reprodução |
O Brics começou com quantos países?
O termo Brics nasceu em um estudo de 2001, formulado pelo
economista-chefe da Goldman Sachs, Jim O'Neil, que projetou a crescente
importância que Brasil, Rússia, Índia e China teriam na economia e na
geopolítica global no Século 21.
A organização desses países enquanto grupo se deu em 2006. Cinco anos depois, em 2011, o acrônimo ganhou o “s”, de South Africa (África do Sul, em inglês).
Em 2024, o grupo passou a incluir Egito, Etiópia, Irã, Arábia Saudita
e Emirados Árabes Unidos. A Argentina chegou a ser convidada, mas sob a
presidência de Javier Milei, recusou o ingresso. Em 2025, a Indonésia
passou a fazer parte do Brics.
Também no ano passado, foi anunciado que os países-parceiros Belarus,
Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Tailândia, Uganda e Uzbequistão
passariam a fazer parte do Brics a partir de 1º de janeiro de 2025.
A Nigéria recebeu o status em 17 de janeiro. O mais recente parceiro é o Vietnã, que foi anunciado no último dia 13 de junho.
Mais de 30 nações já manifestaram interesse em participar do Brics, tanto na qualidade de membros como de parceiros.
O que é o Sul Global?
O Sul Global pode ser entendido como uma união entre países em
desenvolvimento, em regiões como América Latina, África, Ásia Meridional
e sudeste asiático.
Esses países apresentam similaridades, como passado de colonização,
economias diversificadas e desafios sociais. As nações buscam
articulações entre si para reivindicar reformas na ordem econômica e
política global, reduzindo a dependência dos países desenvolvidos.
Apesar no nome, muitos desses países se localizam geograficamente no
hemisfério Norte, como Rússia, China, Arábia Saudita e Egito.
Mais países podem entrar no grupo?
Segundo a presidência brasileira, não há previsão, no momento, de se
realizar novo processo de expansão. Eventual manifestação de interesse
de ingresso no Brics será avaliada caso a caso. A decisão final sobre a
adesão é feita por consenso entre os líderes do grupo.
O Brics tem poder de decisão sobre temas internacionais?
O Brics não é uma organização internacional ou um bloco formal.
Trata-se de um foro de coordenação e cooperação entre países do Sul
Global. Consensos de discussões precisam ser implementados internamente
pelos países, caso queiram seguir o encaminhamento.
Por que o encontro acontece no Brasil? É a primeira vez?
A reunião de cúpula acontece no país-membro que ocupa a presidência
rotativa ─ em 2025, é a vez do Brasil. Por isso, foi escolhido o Rio de
Janeiro. Ao longo da presidência brasileira em 2025, foram realizadas
mais de 200 reuniões online e presenciais.
Em 2026, a cúpula será na Índia. No ano passado, o encontro foi em Kazan, na Rússia.
O Brasil sediou três edições da cúpula: Brasília (2019 e 2010) e Fortaleza (2014).
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Museu de Arte Moderna (MAM Rio) recebeu Cúpula do G20 no ano passado e recebe a do Brics neste ano - Tânia Rêgo/Agência Brasil |
O Brics representa quanto da população e da economia mundial?
Os 11 países representam 39% da economia mundial, 48,5% da população
do planeta e 23% do comércio global. Em 2024, países do Brics receberam
36% de tudo que foi exportado pelo Brasil, enquanto nós compramos desses
países 34% do total do que importamos.
Qual o potencial do Brics na área de energia?
Em termos de capacidade energética, o grupo representa 43,6% da produção mundial de petróleo e 36% de gás natural. O Brics detém 72% das reservas mundiais de minerais classificados como terras raras, elementos químicos fundamentais para diversas aplicações tecnológicas, desde eletrônicos até energia renovável.
Quais as prioridades brasileiras no Brics?
- Cooperação em saúde global;
- Comércio, investimento e finanças;
- Combate à mudança do clima;
- Governança da inteligência artificial;
- Arquitetura multilateral de paz e segurança;
- Desenvolvimento institucional do Brics.
O que é o Banco do Brics?
Criado em 2015, O New Development Bank (NDB), Novo Banco de
Desenvolvimento, também conhecido como Banco do Brics, é um banco
multilateral de desenvolvimento criado para mobilizar recursos para
financiar projetos de infraestrutura e de desenvolvimento sustentável em
países em desenvolvimento.
De acordo com o site da instituição, o NDB já aprovou 120 projetos e US$ 39 bilhões (equivalente a mais de R$ 210 bilhões) em financiamentos.
Países de fora do Brics, casos de Uruguai, Argélia e Bangladesh,
também podem fazer parte. Os fundadores do Brics são os maiores
depositantes de recursos do banco de fomento. A Colômbia já manifestou
interesse em virar integrante. Por outro lado, a entrada no Brics não
garante acesso ao NDB.
Em 2023, a ex-presidente Dilma Rousseff foi escolhida presidente do NDB, sendo reeleita em 2025.
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Dilma Rousseff é a presidenta do Novo Banco de Desenvolvimento, com sede em Xangai, na China - Ricardo Stuckert/PR |
O que é o Arranjo Contingente de Reservas (ACR)?
O Arranjo Contingente de Reservas (ACR) é uma plataforma de apoio
financeiro entre os integrantes do Brics para os casos de dificuldades
no balanço de pagamentos do país (fuga de moedas estrangeiras, por
exemplo).
O ACR está plenamente operacional e pode ser acionado a qualquer momento por iniciativa de um dos membros.
Por meio do ACR, os membros se comprometem a colocar à disposição
reservas internacionais no valor de até US$ 100 bilhões, distribuídos da
seguinte maneira: China (US$ 41 bilhões), Brasil (US$ 18 bilhões),
Índia (US$ 18 bilhões), Rússia (US$ 18 bilhões) e África do Sul (US$ 5
bilhões).
Os novos membros do Brics podem solicitar adesão ao ACR.
Blog JURU EM DESTAQUE com Agência Brasil - Edição: - Vinicius Lisboa - Bruno de Freitas Moura - repórter da Agência Brasil