Construtora Odebrecht tinha interesse legítimo em palestras de Lula, diz Marcelo
O
empresário Marcelo Odebrecht, delator e ex-presidente da companhia que
leva seu sobrenome, afirmou nesta terça-feira (08) em depoimento à Justiça Federal que a
contratação das palestras feitas pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva (PT) faziam parte do interesse “legítimo” da empresa em sua
estratégia de relações públicas e também da intenção de “ajudar” na
consolidação do Instituto Lula.
“As
palestras tinham sim uma intenção legítima que era de relações
públicas, agora havia também por trás, no meu entendimento das conversas
com meu pai, a intenção de ajudar o Instituto Lula”, afirmou o
empresário.
Segundo Marcelo Odebrecht, a contratação de Lula como
palestrante foi negociada entre o ex-presidente e o pai do empresário,
Emílio Odebrecht, que tinha relacionamento mais próximo com o petista.
Lula realizou palestras bancadas pela Odebrecht em países onde a
empreiteira tinha negócios, como Angola.
Marcelo
Odebrecht prestou depoimento hoje na 10ª Vara Federal de Brasília, ao
juiz Vallisney de Souza Oliveira, na ação em que o ex-presidente Lula
responde pelos crimes de corrupção, tráfico de influência e lavagem de
dinheiro.
Nesse processo, Lula foi denunciado por suspeitas de ter
atuado para favorecer a Odebrecht com empréstimos do BNDES voltados a
obras da empreiteira em Angola.
A acusação do MPF (Ministério
Público Federal) afirma que as palestras contratadas pela Odebrecht
foram uma forma de repassar propina a Lula, em contrapartida pelo
financiamento do BNDES.
Outra fonte de propina, segundo o MPF,
teria sido a contratação pela Odebrecht de uma empresa de Taiguara
Rodrigues dos Santos, sobrinho da primeira mulher do ex-presidente Lula.
No
depoimento de hoje, Marcelo Odebrecht não relacionou a contratação das
palestras ao pagamento de propina ao ex-presidente, mas afirmou que as
palestras foram contabilizadas na planilha mantida por ele em conjunto
com o ex-ministro Antonio Palocci, denominada de “planilha italiano”,
que computava os repasses ao PT.
Palocci, que foi ministro no governo Lula, também fechou acordo de colaboração com a Justiça.
A
contratação de Lula para palestras, segundo Marcelo Odebrecht, foi
contabilizada como um dos diversos itens do apoio ao ex-presidente e ao
PT, como doações para campanhas eleitorais.
Marcelo diz não ter conhecimento sobre se o ex-presidente sabia da existência dessa contabilidade paralela.
O
empresário diz que conversou com Palocci previamente à realização das
palestras por Lula, para que todo tipo de apoio da empresa ao
ex-presidente e ao Instituto Lula, negociados por Emílio Odebrecht,
fosse incluído na contabilidade de recursos destinados ao PT.
“Como
as palestras estavam sendo pagas, esse valor tinha sido previamente
descontado da planilha. Isso numa conversa minha com Palocci e sem o
presidente Lula saber, pelo menos de minha parte”, afirmou o empresário.
Na
divisão de trabalho interna da empreiteira, Marcelo afirma que cabia a
seu pai, Emílio, manter um maior relacionamento com o ex-presidente Lula
e, por isso, a contratação das palestras foi negociada entre eles.
“Havia
uma percepção nossa de que o presidente Lula era uma pessoa que tinha
uma imagem bastante positiva em vários países que a gente atuava e,
portanto, ao levar ele numa palestra não deixava de ser um trabalho de
relações públicas”, disse o empresário.
“Então
eu acho que havia sim tanto um interesse de ter esse trabalho de
relações públicas, como havia o interesse de algum modo ajudar o
Instituto Lula, aí o peso desses dois só quem decidiu, que foi no caso
meu pai, pode dizer”, afirmou Marcelo.
O executivo disse ainda nunca ter presenciado o ex-presidente Lula participando de negociações ilícitas.
“Eu
nunca tive relação nem responsabilidade pelas tratativas com o
presidente Lula”, disse o empresário. “Inclusive as provas e evidências
que eu trouxe que vinculavam Lula aos acertos que eu fazia com Palocci
eram provas indiretas e que vinham muitas das conversas com meu pai e
com Palocci”, afirmou Marcelo Odebrecht.
Na sexta-feira, em
depoimento ligado a outro processo que também tem os empréstimos do
BNDES em Angola como foco, Marcelo Odebrecht afirmou haver contradições
entre os depoimentos de seu pai, Emílio Odebrecht, e de Antonio
Palocci sobre o envolvimento de Lula nos fatos sob investigação.
Fonte: UOL - Publicado por: Larissa Freitas
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