‘NÃO AGUENTOU O BAQUE’: irmã diz que Paulo Henrique Amorim não suportou afastamento do Domingo Espetacular
Familiares
e amigos de Paulo Henrique Amorim se reuniram na manhã desta quinta-feira (11) na sede
da Associação Brasileira de Imprensa, no Centro do Rio, onde ocorreu o
velório do jornalista, que morreu na madrugada de quarta-feira aos 76 anos. A
irmã do jornalista, Marília, que mora na França, veio ao Brasil para o
velório, e estava muito emocionada.
“A
gente se adorava. Ele era meu irmão mais velho. Éramos três, minha irmã
também já faleceu. Ele era meu herói, uma pessoa muito corajosa,
extremamente generoso. Corajoso no embate dele de não abrir mão das
ideias dele, do que ele achava que tinha que ser dito, revelado,
mostrado. Uma pessoa muito corajosa, muito íntegro nas convicções do
trabalho dele. Adorava trabalhar”, disse.
Ela
também comentou o afastamento de Paulo Henrique do Domingo Espetacular,
programa que apresentava desde 2006. A irmã disse que o apresentador já
havia perdido outros espaços na mídia por conta de “pressão política”.
“Falamos
pouco porque estava na França. Ele teve vários casos de perder o lugar
dele por pressão política. Ele escreveu pra mim e falou: ‘Não se
preocupe, você sabe que eu tive isso várias vezes e que eu aguento o
tranco’”, disse ela, que citou outros casos em que o apresentador teria
sido afastado de suas funções supostamente por críticas a políticos.
“Me
lembro que na Band ele tinha acabado de receber dois prêmios por dois
programas [que apresentava]: um era o jornal das 20h e outro era um
programa de entrevistas chamado Fogo Cruzado. Poucos dias depois do
prêmio, ele perdeu o programa por pressão do [ex-presidente] Fernando
Henrique. Ele já conhecia isso, mas claro que sempre é um baque forte.
Parece que dessa vez foi demais e ele não aguentou”.
A
apresentadora Mylena Ciribelli se emocionou ao se lembrar da parceria
profissional com Paulo Henrique Amorim: “Durante 10 anos fizemos parte
das equipes que cobriram os eventos esportivos, começamos em Vancouver,
no Canadá, nos Jogos de Inverno, foram muitos eventos”.
“Sempre
tudo era muito alegre e divertido com o Paulo porque a gente tinha uma
troca bacana. A gente gostava de esporte, então a gente sempre falava de
futebol, de gastronomia, ele me dava dicas de bons restaurantes em São
Paulo, a gente sempre brincava muito. Estou bem mexida porque você não
espera um colega que está sempre com você. Há duas semanas a gente
estava brincando na TV… Enfim, a gente está aqui agora”, disse ela,
emocionada.
A historiadora Rosa Maria
Araújo, amiga de longa data de Paulo Henrique Amorim e da mulher dele,
Geórgia, jantou com o jornalista horas antes de ele morrer e contou que
ele estava feliz.
“Nos últimos 15
anos convivemos muito porque o Paulo, mesmo morando em São Paulo,
adorava o Rio, comprou um apartamento há três anos em Ipanema. Nós
sempre jantávamos, íamos a shows de música”, contou.
“Ele
estava muito alegre com compras da livraria, disco da Nana Caymmi, do
último livro do Garcia Rosa, discutimos política, falamos do João
Gilberto, falamos do Brasil. Às 11h15 da noite levei-os em casa, deixei
eles na porta. Quando cheguei pertinho, a Geórgia me ligou, achei que
era pra comentar o jantar e falou: ‘Rosa, preciso da ajuda de vocês. O
Paulo caiu no banheiro e não consigo levantá-lo’. Ele infartou escovando
os dentes assim que chegou”.
Mesmo feliz com estada no Rio, a historiadora contou que Amorim estava indignado com o afastamento do Domingo Espetacular.
“Qualquer
interferência no pensamento político e na liberdade de imprensa nos
parece muito forte. A liberdade de imprensa é fundamental. Ele
demonstrava uma certa indignação. Era uma pessoa muito aberta, que
falava tudo o que pensava, como vários jornalistas e muito importante.”
No
local, foram colocadas mais de 15 coroas de flores, com as mais
diversas homenagens, como das diretorias do SBT e da Record TV, e do
ex-presidente Fernando Collor.
A
cerimônia, que é aberta ao público, ocorre até as 15h. Originalmente, o
corpo seria cremado, mas agora ele será sepultado no cemitério da
Penitência, no bairro do Caju.
Amorim
trabalhava na Record desde 2003, onde apresentou o Jornal da Record –
2ª edição, ajudou a criar o Tudo a Ver e esteve à frente do Domingo
Espetacular até junho passado, quando foi afastado da revista eletrônica
em um momento em que fazia fortes críticas ao governo de Jair
Bolsonaro (PSL). Em nota, a Record informou que ele permanecia na casa à
disposição para novos projetos.
A
emissora divulgou uma nota de pesar em que relembrou a trajetória
profissional do apresentador: “A Record TV lamenta profundamente o
falecimento de Paulo Henrique Amorim e se solidariza com os amigos,
familiares e admiradores. A todos, nossas sinceras condolências”.
Amorim deixa uma filha, dois netos e a mulher, a jornalista Geórgia Pinheiro.
Trajetória
O
jornalista estreou no jornal A Noite, em 1961, foi correspondente em
Nova York da revista Realidade e trabalhou na Veja. Na TV, passou também
por Manchete e Globo –onde também foi correspondente internacional–,
Band e TV Cultura.
Em
1972, ganhou Prêmio Esso, um dos mais importantes do jornalismo
brasileiro, na categoria informação econômica, pela reportagem “A renda
dos brasileiros”, publicada pela revista Veja.
Entre
2000 a 2004, o jornalista passou pelo UOL, onde foi âncora do UOL News,
programa pioneiro de jornalismo em vídeo na internet brasileira.
Fonte: Expresso PB
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