Veja a íntegra da carta de renúncia de Cunha à presidência da Câmara
Publicado por:
Amara Alcântara
O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) renunciou nesta quinta-feira (7) à presidência da Câmara dos Deputados,
após dois meses de afastamento. Veja a íntegra da carta de renúncia
entregue ao presidente em exercício da Casa, Waldir Maranhão (PP-MA).
Excelentíssimo Senhor Deputado Waldir Maranhão,
Vice-Presidente da Câmara dos Deputados,
Cumprimentando-o cordialmente, comunico à Vossa Excelência a
decisão que tomei em renunciar ao cargo de Presidente da Câmara dos
Deputados. Essa decisão é irrevogável e irretratável.
Ao completar 17 dos 24 meses do meu mandato de Presidente, 2
meses de afastamento do cargo e, ainda, estando no período de recesso
forense do Supremo Tribunal Federal – onde não existe qualquer previsão
de apreciação de recurso contra meu afastamento –, resolvi ceder aos
apelos generalizados dos meus apoiadores.
É público e notório que a Casa está acéfala, fruto de uma
interinidade bizarra, que não condiz com o que o País espera de um novo
tempo após o afastamento da Presidente da República. Somente minha
renúncia poderá por fim a essa instabilidade sem prazo. A Câmara não
suportará esperar indefinidamente.
No período de efetivo exercício do mandato, pude conduzir a
Câmara de forma proposta na minha campanha, com protagonismo e
independência, votando todas as pautas do governo, mas trazendo a debate
também as pautas da sociedade e a pauta dos seus representantes – que
são Deputados. Reforma política, terceirização de mão de obra, redução
da maioridade penal, “PEC da Bengala”, estatuto do deficiente, pautas da
segurança pública, correção do FGTS, foram alguns dos importantes temas
votados na minha gestão. Mas, sem dúvida alguma, a autorização para
abertura do processo de impeachment de um governo que, além de ter
praticado crime de responsabilidade, era inoperante e envolvido com
práticas irregulares, foi o marco da minha gestão, que muito me orgulha e
que jamais será esquecido.
Sofri e sofro muitas perseguições em função das pautas adotadas.
Estou pagando um alto preço por ter dado início ao impeachment. Não
tenho dúvidas, inclusive, de que a principal causa do meu afastamento
reside na condução desse processo de impeachment da Presidente afastada,
tanto é que meu pedido de afastamento foi protocolado pelo PGR em
16/12/2015, logo após a minha decisão de abertura do processo. E o
pedido de afastamento só foi apreciado em 5/5/2016, em uma decisão
considerada excepcional e sem qualquer previsão constitucional, poucos
dias depois da decisão desta Casa por 367 votos autorizando a abertura
do processo por crime de responsabilidade.
Em decorrência dessas minhas posições, venho sofrendo também uma
representação por quebra de decoro parlamentar por supostamente ter
mentido a uma CPI, aberta por mim como Presidente e na qual compareci
espontaneamente para prestar esclarecimentos. Continuarei a defender
minha inocência de que falei a verdade.
A par disso, sofro de seletividade do órgão acusador que atua com
relação a mim diferentemente do que com outros investigados com o mesmo
foro. Após a decisão da Câmara de instaurar o processo de impeachment
em 17/04/2016, seis novos inquéritos foram abertos contra mim e duas
novas denúncias foram apresentadas, sendo que muitos desses eventos se
davam sempre às vésperas de deliberações no Conselho de Ética. Quero
reiterar que comprovarei minha inocência nesses inquéritos, confiando na
Justiça do meu país. Reafirmo que não recebi qualquer vantagem indevida
de quem quer que seja.
Quero agradecer a DEUS pela oportunidade de presidir a Câmara dos
Deputados do meu país. Quero agradecer ao meu partido e a todos os
Deputados que me elegeram em primeiro turno em fevereiro de 2015. Quero
agradecer a todos que me apoiaram e me apoiam no meio dessa perseguição e
vingança de que sou vítima. Quero agradecer especialmente a minha
família, de quem os meus algozes não tiveram o mínimo respeito, atacando
de forma covarde, especialmente a minha mulher e a minha filha mais
velha. Usam minha família de forma cruel e desumana visando me atingir.
Tenho a consciência tranquila não só da minha inocência bem como de ter
contribuído para que o meu país se tornasse melhor e se livrasse do
criminoso governo do PT.
A história fará Justiça ao ato de coragem que teve a Câmara dos
Deputados sob o meu comando de abrir o processo de impeachment que
culminou com o afastamento da presidente, retirando o País do caos
instaurado pela criminosa e desastrada gestão que tanto ódio provocou na
sociedade brasileira, deixando como legado o saldo de 13 milhões de
desempregados e o total descontrole das contas públicas.
Que este meu gesto sirva para repor o caminho que a Câmara dos
Deputados estava trilhando na minha gestão, de protagonismo, de
independência, de austeridade no controle dos gastos públicos e de
coragem para enfrentamento das pautas da sociedade. Acima de tudo,
espero que este meu ato ajude a restaurar o nosso País após o processo
de impeachment.
Desejo sucesso ao Presidente Michel Temer e ao futuro Presidente da Câmara dos Deputados. Que DEUS abençoe esta nação.
Peço a leitura deste expediente em sessão plenária.
Brasília, 07 de julho de 2016.
G1
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