‘COQUETEL DE VACINAS’: O que se sabe até agora sobre a combinação de doses contra o novo coronavírus
Isso acelerou a necessidade de combinar a vacina britânica com outras.
Resultados
Os resultados preliminares do estudo Com-COV1, publicado no final de junho, foram altamente promissores.
A combinação de uma primeira dose de AstraZeneca e uma segunda dose da Pfizer gerou mais anticorpos e células T (as células imunes que matam os patógenos) do que usar dois componentes de AstraZeneca.
E usar a Pfizer primeiro e depois a AstraZeneca também foi mais benéfico do que usar a vacina britânica duas vezes (embora não tão eficaz quanto usá-las na ordem inversa).
Embora os testes tenham mostrado que o uso de duas doses de Pfizer gerou o maior número de anticorpos, o uso da AstraZeneca primeiro e depois da Pfizer provocou uma resposta mais forte das células T, que é chave para combater a infecção.
O ensaio espanhol, do qual participaram 676 pessoas entre 18 e 59 anos que receberam a primeira dose de AstraZeneca, concluiu que, com uma segunda dose de Pfizer, os anticorpos eram mais do que o dobro que os gerados por duas doses de AstraZeneca.
A segunda dose – também chamada de reforço – geralmente multiplica os anticorpos por três quando a AstraZeneca é aplicada duas vezes.
Se a Pfizer for usada como o segundo componente, a multiplicação é por sete, segundo o resultado do estudo espanhol.
No final de julho, outro ensaio clínico investigando a combinação AstraZeneca e Pfizer, desta vez na Coreia do Sul, confirmou os benefícios dessa mistura.
O estudo, que incluiu 499 profissionais de saúde, concluiu que a combinação de AstraZeneca com Pfizer gerou níveis seis vezes maiores de anticorpos neutralizantes do que o uso de duas doses de AstraZeneca.
Combinando plataformas
Esta ideia de misturar vacinas usando diferentes tecnologias também é objeto de pesquisa pela Universidade de Oxford em um segundo ensaio clínico, intitulado Com-COV2.
O trabalho, com 1.050 voluntários, pesquisa os efeitos da combinação de AstraZeneca com Moderna ou com Novavax (vacina sueco-americana licenciada em alguns países e que usa uma proteína do vírus SARS-CoV-2 como plataforma).
A pesquisa, cujos resultados preliminares ainda não foram publicados, também analisa os efeitos da mistura de uma primeira dose de Pfizer com uma segunda dose de Moderna ou Novavax.
Em artigo na revista científica Horizon, publicada pela Comissão Europeia, a jornalista Annette Ekin destacou que combinar vacinas de diferentes plataformas pode ser especialmente útil para quem foi inoculado com uma primeira dose de vetor viral.
“Como algumas vacinas são entregues ao corpo por um vírus modificado, é possível que o sistema imunológico ataque a própria vacina. Misturar as plataformas de reforço pode reduzir o risco de desenvolver imunidade contra uma vacina de vetor viral”, explicou.
Ekin observou que “os especialistas não consideram essa estratégia de misturar vacinas perigosa”.
No entanto, alertou que, como a técnica de mRNA é nova e está sendo usada pela primeira vez em humanos durante esta pandemia, “deve-se avaliar a segurança” de combinar vacinas de mRNA com aquelas que usam adenovírus, daí a importância de estudos como Com-COV e outros.
Sputnik V
Enquanto na Europa os estudos de combinações de vacinas se concentraram principalmente nas combinações com AstraZeneca, em parte da América Latina uma estratégia semelhante está sendo aplicada para resolver questões com a Sputnik V.
Milhões de pessoas em várias partes do mundo, mas principalmente em países vizinhos do Brasil na América do Sul, foram vacinadas com a primeira dose da vacina russa, mas por problemas de abastecimento não têm acesso ao segundo componente.
O país mais afetado é a Argentina, que vacinou cerca de 9 milhões de cidadãos com uma dose da Sputnik V, mas apenas 2,5 milhões deles com as duas doses.
Com mais de 6 milhões de argentinos aguardando a segunda dose (um milhão e meio deles com o período máximo recomendado de três meses entre as vacinas já vencido), as autoridades argentinas começaram no início de julho a estudar possíveis combinações.
Após um mês de testes, em 4 de agosto, a ministra da Saúde, Carla Vizzotti, anunciou que os resultados preliminares foram “satisfatórios” e “encorajadores”.
Vizzotti disse que o país passará a oferecer àqueles que receberam a primeira dose da Sputnik V a possibilidade de combiná-la com a AstraZeneca, cujo princípio ativo é fabricado em Buenos Aires, ou com a Moderna, após a doação dos Estados Unidos de 3,5 milhões doses.
As autoridades sanitárias argentinas informaram que os resultados preliminares da combinação da Sputnik V com a Sinopharm (vacina chinesa que também é amplamente utilizada na Argentina) não foram “conclusivos” e que por enquanto a opção está descartada.
“Pioneiros”
A Sputnik V usa a mesma plataforma da AstraZeneca: um vetor de adenovírus (a russa usa adenovírus humano enfraquecido, em vez de um de chimpanzé).
Um jornalista do serviço russo disse à BBC Mundo que esses testes começaram em 2020, mas foram interrompidos e reiniciados este ano. Os resultados finais são esperados para março de 2022.
No entanto, o RDIF observou que “os resultados preliminares da investigação confirmaram a segurança total e a alta eficiência dessa abordagem.”
“Os coquetéis de vacinas, dos quais a Sputnik V foi pioneiro, terão um papel decisivo no combate às mutações”, disse o RDIF por meio do Twitter, referindo-se às variantes do coronavírus, como a delta, que hoje são uma das principais preocupações no mundo.
Muitos concordam. Pierre Meulien, diretor executivo da Iniciativa de Medicamentos Inovadores da União Europeia, disse à revista Horizon que o principal incentivo para misturar vacinas é induzir uma resposta imunológica mais ampla “para cobrir as variantes que estão aparecendo em todas as partes”.
Enquanto isso, Frédéric Martinon, imunologista do Instituto Nacional Francês de Pesquisas Médicas e de Saúde (Inserm), disse que a combinação de vacinas dificultará a circulação de variantes ou o aparecimento de novas.
Reforço no Brasil?
No Brasil, não há ainda definição sobre o reforço vacinal, mas tanto o Ministério da Saúde quanto o Instituto Butantan (responsável por finalizar a produção da CoronaVac no país) avaliam e consideram essa possibilidade.
Em julho, o Ministério da Saúde informou que iniciaria estudo inédito para avaliar a necessidade de uma terceira dose de vacinas contra Covid-19 para quem tomou Coronavac.
A pesquisa, em parceria com a Universidade de Oxford, vai verificar a intercambialidade da Coronavac com outros imunizantes disponíveis para a população brasileira.
Fonte: G1 - Publicado por: Fabricia Oliveira
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