COVID-19: Brasil registra 888 óbitos em 24 horas e chega a quase 20 mil casos de coronavírus
Ainda segundo o ministério, 3.483 óbitos suspeitos ainda estão em investigação e 156.037 casos seguem em acompanhamento
Um
dia após o Brasil registrar mais de mil mortes em 24 horas pela Covid-19, o Ministério da Saúde divulgou a maior quantidade de
resultados de diagnósticos entre um dia e outro desde o início da
pandemia: 19.951 casos confirmados, totalizando 291.579 infectados no
país.
São 888 novos óbitos confirmados pela pasta entre ontem e hoje. Com
isso, chega a 18.859 o número de mortes pelo novo coronavírus. Ainda
segundo o ministério, 3.483 óbitos suspeitos ainda estão em investigação
e 156.037 casos seguem em acompanhamento. Um total de 116.683 pacientes
já se recuperaram da doença.
Ontem,
o país havia passado pela primeira vez a marca de mil mortes pela Covid-19 em um dia — foram 1.179 registros novos. A estratégia do
governo federal diante deste cenário insiste no tratamento com
cloroquina e hidroxicloroquina, apesar de não haver comprovação
científica sobre a eficácia do medicamento em infectados pelo novo
coronavírus.
Estudos no mundo todo refutam eficácia da cloroquina
Sob comando do general Eduardo Pazuello, ministro interino — que
Bolsonaro já avisou que deve “ficar muito tempo” — o Ministério da Saúde
divulgou hoje um protocolo para o uso de cloroquina e hidroxicloroquina
nos tratamentos, sugerindo a adoção dos fármacos em casos leves da
doença.
O medicamento foi o principal motivo para a saída dos ex-ministros Nelson Teich e Luiz Henrique Mandetta da pasta.
No mundo inteiro, não há estudos definitivos que comprovem a eficácia
da cloroquina no combate à Covid-19. As pesquisas são mais claras
quanto aos efeitos colaterais do que quanto aos supostos benefícios. A
OMS (Organização Mundial da Saúde) afirma que não há tratamento
“conhecido e efetivo” contra o novo coronavírus.
O maior estudo feito até hoje é da Universidade de Columbia, nos
Estados Unidos, que contou com a participação de mais de 1,3 mil pessoas
em Nova Iorque. O artigo publicado no último dia 7 aponta que pacientes
da Covid-19 que foram tratados com hidroxicloroquina não apresentaram
resultados melhores do que os que não receberam o medicamento.
Outro estudo norte-americano, este da Universidade de Virginia,
concluiu que “não houve evidência de que o uso de hidroxicloroquina,
seja com ou sem azitromicina, reduziu o risco de ventilação mecânica em
pacientes internados com Covid-19”. Pior, os cientistas notaram “uma
associação de aumento de mortalidade geral” em pacientes tratados apenas
com a cloroquina.
No Brasil, um estudo sobre cloroquina precisou ser interrompido em
Manaus por questões de segurança após 11 pacientes morrerem. A pesquisa
da Fiocruz Amazônia e da Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira
Dourado (FMT-HVD) notou em apenas três dias que pacientes que tomavam a
dose mais alta da cloroquina apresentavam arritmias cardíacas como
efeito colateral.
O estudo brasileiro tentava replicar as conclusões de três cientistas
chineses, que em fevereiro publicaram um artigo que alegava “melhora do
estado dos pulmões” e “diminuição da duração da doença” em pacientes
tratados com cloroquina. Estes resultados nunca foram replicados por
outros estudos.
Há certa confusão entre os estudos, por isso pesquisadores dos EUA e
do Canadá analisaram os artigos que já existem. O trabalho analisou 12
pesquisas publicadas e concluiu que a metodologia usada até agora tem
sido “muito pobre”.
Entre os efeitos colaterais da cloroquina estão náusea, alterações na visão, taquicardia e problemas no rim.
Paciente deve assinar termo de consentimento
Acompanhando o protocolo, também foi publicado pelo Ministério da
Saúde um termo de consentimento a ser assinado pelo paciente sobre os
riscos dos medicamentos.
Segundo a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde,
Mayra Pinheiro, o termo deixa a responsabilidade sobre possíveis efeitos
colaterais nas mãos do paciente. Ela havia sido questionada sobre a
possibilidade de um paciente tentar processar a União em caso de fortes
efeitos colaterais por causa da cloroquina.
“O termo de conhecimento livre e esclarecido deixa o paciente
estabelecido que ele tem acesso a todas as informações e riscos”, disse
ela durante entrevista coletiva concedida pelo Ministério da Saúde nesta
tarde. A secretária afirmou que assinar tais termos faz parte da
“rotina de procedimentos médicos”.
Contestado por sociedades médicas, pela Opas (Organização
Pan-Americana da Saúde) e pela OMS (Organização Mundial da Saúde), o
protocolo do Ministério da Saúde pode ser lido, na íntegra,
através deste link.
Hoje,
o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) elogiou o ex-ministro Teich, e
afirmou que continua seu amigo. “Estou quase apaixonado por ele.
Diferentemente do anterior [Mandetta], que está lá criticando”, disse.
Durante coletiva de hoje do Ministério da Saúde para atualização
sobre a situação do novo coronavírus, o secretário-executivo, Élcio
Franco, garantiu que a decisão da pasta tem respaldo científico, apesar
dos diversos estudos que contestam a eficácia do medicamento e apontam
diversos efeitos colaterais.
“Esse trabalho vem sendo feito já há algum tempo e em momento algum,
algum princípio ético ou científico foi negligenciado ou foi conduzido
somente por determinação de alguma autoridade”, disse.
“Não é um cumprimento de ordem, mas sim um trabalho sério, técnico,
conduzido por especialistas com reconhecimento na comunidade científica e
que integra o corpo do ministério, com colaboração de outros técnicos
do Brasil e do mundo”.
A secretária de Gestão do Trabalho e da Educação do ministério, Mayra
Pinheiro, ainda acrescentou que “nós não podemos esperar evidências”
[sobre a eficácia do medicamento], em nome de uma “equidade no acesso à
saúde”.
“Não podemos permitir que o Brasil seja dividido entre pessoas que
podem ter acesso em hospitais privados e brasileiros que não terão
acesso no âmbito do serviço de saúde”, concluiu.
Cálculos da Saúde não refletem as últimas 24 horas
Os números de diagnósticos e óbitos confirmados pelo governo entre um
dia e outro não necessariamente ocorreram de ontem para hoje.
O Ministério da Saúde explica que há atrasos de até dois meses nos
registros feitos pelas secretarias, provocados pela fila de testes, e
que as confirmações podem refletir ocorrências desde o início da
pandemia.
O UOL já identificou atrasos de mais de 50 dias para a oficialização de mortes.
UOL.
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