Impeachment do presidente Jair Bolsonaro já teria um apoio de mais de 50%, aponta Atlas Político
A
guerra pública travada entre o presidente Jair Bolsonaro e o agora
ex-ministro Sergio Moro em meio às acusações de interferência política
no comando da Polícia Federal empurrou o presidente a um patamar inédito
no derretimento de sua imagem pública: pela primeira vez na série
histórica de pesquisas realizadas pela consultoria Atlas Político, a
maioria dos entrevistados (52%) é favorável a um processo de impeachment
contra Bolsonaro.
O presidente já
vinha experimentando queda na aprovação de seu Governo desde fevereiro
diante de seu comportamento errático durante a crise do coronavírus e do
baixo desempenho econômico nesse período, mas os reflexos da demissão
de seu ministro mais popular afetaram diretamente seu capital político:
64,4% responderam que desaprovam seu desempenho enquanto 30% o aprovam.
Enquanto isso, o ex-ministro Sergio Moro fortalece a sua imagem
pública e vê sua aprovação chegar a 57%, índice que não alcançava desde a
suspeição levantada sobre a sua atuação como juiz após o vazamento de
mensagens de integrantes da força-tarefa da Lava Jato.
Na
última sexta-feira, Moro deixou o cargo de superministro da Justiça e
da Segurança Pública. Na ocasião, fez graves acusações contra o
presidente Bolsonaro por querer interferir nas investigações da Polícia
Federal, exonerando o diretor geral da corporação, Maurício Valeixo, à
revelia de seu então ministro. Bolsonaro rebateu em um longo
pronunciamento feito no mesmo dia, no qual acusava Moro de mentir
e negava intenção de interferir na PF. Ambos protagonizaram uma guerra
política em meio à crise sanitária mais grave do século que atingiu suas
imagens públicas. Em meio a esse cabo de guerra ―segundo indica a
pesquisa do Atlas Político feita com 2.000 pessoas entre os dias 24 e 26
de abril ― a imagem do presidente saiu ferida. A pesquisa, que tem uma
margem de erro de dois pontos percentuais, mostra que 68% dos
entrevistados discordam da demissão de Valeixo por Bolsonaro enquanto
72% concordam com as críticas feitas por Moro ao presidente, como a
alegação de tentativa de interferir politicamente em investigações da
PF.
“Há
uma queda sem precedentes da imagem positiva que o presidente tinha na
nossa série histórica. Isso se reflete em várias perguntas relacionadas,
como a pergunta sobre o impeachment. Pela primeira vez, a gente observa
uma maioria a favor num momento em que se começa a discutir mais sobre
isso, o que pode criar uma pressão popular sobre o Congresso”, afirma o
cientista político Andrei Roman, criador do Atlas Político.
O embate
entre Bolsonaro e Moro colocou o impeachment de volta ao debate
público. Oposicionistas têm aumentado a pressão na Câmara dos Deputados
para iniciar um processo. A Casa já recebeu ao menos 19 pedidos que
acusam o presidente de crime de responsabilidade, sendo oito deles
protocolados neste ano. Na sexta-feira, mais um se somou a esta lista,
feito por três parlamentares da REDE. E um vigésimo pedido deverá ser
entregue nos próximos dias pelo partido que elegeu Bolsonaro, PSL.
Paralelo
ao derretimento da imagem pública de Bolsonaro, Sergio Moro vê seu nome
se fortalecer politicamente diante da opinião pública. O ministro
chegou a ter sua imagem arranhada com as denúncias da Vaza Jato, quando
chegou a ter 48% de aprovação. Voltou a crescer e, durante a crise do
coronavírus, manteve estabilidade, com cerca de 53% de aprovação, em
pesquisa do dia 15 de abril. Ao protagonizar o embate público com o
presidente, viu sua aprovação voltar a crescer e atingir o percentual
que tinha antes da suspeição sobre sua atuação como juiz da Lava Jato.
Entre dez líderes políticos incluídos na pesquisa, Moro tem aprovação
menor apenas que a de Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde que foi
demitido por Bolsonaro por divergências na condução da crise do
coronavírus.
Pela primeira vez,
Bolsonaro tem índices de rejeição maiores que o ex-presidente Lula (PT).
O presidente se elegeu em 2018 com forte discurso de polarização, no
qual combatia o petismo. Bolsonaro também tem menos popularidade que o
ministro da economia Paulo Guedes, cuja aprovação só é menor que a de
Mandetta e Moro. Líderes políticos que se colocam como oposição, como
por exemplo Lula e Fernando Haddad, não têm crescido em meio à crise.
“Você tem todo um desgaste do Bolsonaro, que não está conseguindo ser
capitalizado pela esquerda, pela oposição formal ao Governo. O
desempenho de Lula e Haddad segue sendo o mesmo. Mas existe o surgimento
dessas novas figuras de direita, como Mandetta e Moro, que se colocam
fortes competidores para 2022”, analisa Andrei Roman.
Fonte: El País - Créditos: Beatriz Jucá - Publicado por: Anderson Costa
Nenhum comentário:
Postar um comentário