Exército sul-coreano expulsa uma militar que passou por transição de gênero
Uma
militar da Coreia do Sul que ingressou no Exército como homem e, mais
tarde, passou por uma cirurgia de redesignação sexual, pediu nesta
quarta-feira (22) para permanecer nas Forças Armadas depois de saber de
sua expulsão.
A
Coreia do Sul é profundamente conservadora em questões de identidade de
gênero, e as relações homossexuais entre militares ainda são
consideradas crime.
Byun Hee-soo, sargento de 20 anos, alistou-se
voluntariamente em 2017 e passou por uma cirurgia de redesignação sexual
na Tailândia em novembro de 2019.
Tendo se tornado mulher, ela
havia comunicado claramente à sua hierarquia seu desejo de permanecer no
Exército. Mas uma comissão militar ordenou a sua expulsão.
Byun,
cujo anonimato havia sido protegido pelos militares, decidiu quebrar o
silêncio e apareceu diante da imprensa nesta quarta-feira.
“Eu sou uma militar da República da Coreia”, disse, em voz trêmula, na coletiva de imprensa.
Ela
explicou que servir no Exército era um sonho de infância. Mas também
explicou que sofria de depressão devido a uma “disforia de gênero”, ou
seja, um profundo sentimento de inadequação entre seu corpo e sua
identidade sexual. Daí a sua escolha de fazer uma cirurgia.
“Quero
mostrar a todos que, independentemente da minha identidade de gênero,
posso ser um daqueles grandes soldados que defendem o país”, afirmou,
segurando as lágrimas. “Por favor, me deem essa chance”, implorou.
Ameaça da Coreia do Norte
O
serviço militar é obrigatório na Coreia do Sul, onde o Exército é
designado principalmente para proteger o território diante da ameaça do
Norte. Todo homem apto é obrigado a servir por dois anos.
Um
porta-voz do ministério da Defesa disse que Byun havia sido examinada em
um hospital militar, que concluiu que a perda de seus órgãos genitais
constituía uma deficiência mental ou física, o que levou a comissão a se
reunir.
Em seu comunicado, os militares disseram que estavam determinados a evitar “discriminação ou tratamento injusto”.
O
Centro Militar para os Direitos Humanos na Coreia, uma ONG com sede em
Seul, informou que o Exército marcou a data efetiva para o desligamento
de Byun na quinta-feira (23), quando ela deixará oficialmente o hospital
militar.
“Isso mostra a determinação do Exército de não permitir
por nem um segundo a presença de um transgênero no Exército”, denunciou
Lim Tae-hoon, responsável da ONG.
Este
é o primeiro caso do tipo na Coreia do Sul. Mas as associações há muito
denunciam o fato que o sexo consensual entre dois homens continua sendo
um crime aos olhos da lei militar sul-coreana.
E o Exército
sul-coreano persegue incansavelmente os soldados que mantêm relações
homossexuais. Nos termos do artigo 92.6 do seu código penal, conhecido
como lei militar sobre sodomia, enfrentam dois anos de prisão com
trabalhos forçados, se condenados por uma corte marcial.
Fonte: G1 - Publicado por: Fabricia Oliveira
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