Governo federal vai 'destravar' distribuição de cargos do segundo escalão
O governo ainda não preencheu a maioria das vagas de segundo escalão nos Estados
© Carolina Antunes/PR
Dois meses após a
edição de um decreto que instituiu o Sistema Integrado de Nomeações e
Consultas, mais conhecido como "banco de talentos", o governo ainda não
preencheu a maioria das vagas de segundo escalão nos Estados, mas
promete "destravar" as indicações e acelerar a distribuição dos cargos
para partidos que apoiaram a primeira etapa da reforma da Previdência na
Câmara. Até agora, a maior parte dos compromissos assumidos pelo
Planalto foi com o Centrão, grupo que atuou como fiel da balança para a
aprovação das mudanças na aposentadoria.
A estratégia do Planalto também prevê atenção especial ao
Nordeste, antigo reduto do PT e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, preso desde abril do ano passado. É naquela região que está, por
exemplo, a cobiçada Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São
Francisco e do Parnaíba (Codevasf), foco de corrupção em um passado não
muito distante. Diretorias da estatal serão loteadas entre DEM, PP, MDB e
PSDB, que, apesar de não integrar o Centrão, é uma espécie de
"agregado" no bloco que dá as cartas do poder na Câmara.
As
negociações têm sido feitas com as bancadas estaduais, e não com os
líderes dos partidos, mas até hoje a liberação dos espaços nas
repartições federais foi a conta-gotas. A ideia é que, além da Codevasf,
superintendências do Departamento Nacional de Infraestrutura de
Transportes (Dnit), da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), do Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e do Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) sejam preenchidas no
pós-Previdência.
Às vésperas da votação da reforma, vista pela
equipe econômica como fundamental para o ajuste das contas públicas,
deputados começaram a pressionar o Planalto não apenas pelo pagamento de
emendas orçamentárias, mas também por nomeações. O governo garantiu um
crédito suplementar para obras em redutos de parlamentares bem antes das
eleições municipais de 2020 e empenhou R$ 2,5 bilhões em emendas apenas
nos cinco primeiros dias deste mês, mas a promessa de mais recursos
dificilmente será cumprida a curto prazo, por causa do aperto fiscal.
Desconfiados,
deputados iniciaram, então, um movimento para cobrar os cargos
represados. Antes mesmo de o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni,
perder o posto de articulador político do Planalto, a deputada Joice
Hasselmann (PSL-SP), líder do governo no Congresso, já estava recolhendo
as indicações de seus pares.
"No caso da Bahia, nada foi tratado
com a bancada e os cargos ainda são ocupados pelas mesmas pessoas que
estavam no governo anterior", disse o deputado José Rocha (PL-BA), que é
vice-líder do governo na Câmara. "Pelo que sei, não houve mudanças e,
na maioria dos órgãos, continuam os nomeados da gestão Temer, mas o
pessoal está dando um crédito de confiança para o governo Bolsonaro",
afirmou o ex-coordenador da bancada do Maranhão, Hildo Rocha (MDB-MA),
escolhido para presidir a Comissão Especial da reforma tributária.
Fervura
Bolsonaro
foi aconselhado por aliados a abandonar o uso do termo "velha política"
para se referir ao Congresso. Diante da provocação do presidente da
Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para quem o chefe do Executivo foi "muito
competente" ao representar a "nova política" depois de cumprir sete
mandatos ininterruptos de deputado, até o novo ministro da Secretaria de
Governo, general Luiz Eduardo Ramos, tentou jogar água na fervura.
"Quando
se fala em velha e nova política se busca o antagonismo, a divisão.
Política é política. Quando é feita essa diferença, gera calor",
argumentou Ramos em café da manhã com jornalistas, na sexta-feira. "Não é
que o presidente tenha se dobrado à velha política. Ninguém escondeu
nada, foi tudo transparente. Não estou vendo esse processo como se
estivesse sendo um toma lá, dá cá. Se o deputado recebe (emendas) não é
para ele; é para a sua cidade", completou o ministro.
Ex-comandante
militar do Sudeste e há poucos dias na articulação política do governo,
general Ramos disse que quer servir de "ponte" entre o Palácio do
Planalto e o Congresso. "No andar da carruagem, vou arrumar as melancias
que estão em cima", brincou ele.
O apoio da maioria dos deputados
do Nordeste à reforma da Previdência, porém, provocou estranheza nos
adversários. Nos bastidores, muitos políticos comentavam que promessas
de cargos e emendas estavam por trás do "sim" à Previdência na bancada
nordestina.
"Os governadores do PT falaram contra, mas atuaram pesadamente pela
reforma. Somente isso explica essa explosão de votos", comentou o
ex-ministro Ciro Gomes, candidato derrotado na disputa presidencial do
ano passado pelo PDT. "Só o Ceará não deu maioria", acrescentou. Joice
negou qualquer acordo com os governadores dos partidos de oposição.
"Eles não ajudaram em nada. Foi trabalho nosso e muito duro", reagiu.
Notícias ao Minuto com informações do jornal O Estado de S. Paulo
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