'Não entendi a polêmica', diz delegado da Polícia Federal que vetou saída do ex-presidente Lula
Irmão de Lula, o Vavá, foi enterrado nessa quarta (30), em São Bernardo do Campo, mas o petista não foi liberado a tempo de participar do enterro
© REUTERS/Leonardo Benassatto
Responsável pela decisão
administrativa que negou ao ex-presidente Lula a permissão de ir ao
enterro do irmão, o superintendente da Polícia Federal no Paraná,
Luciano Flores de Lima, voltou a defender, nesta quinta (31), os
argumentos do órgão, e disse que atender ao pedido da defesa era
impossível.
"Temos que botar na balança se é possível e se o pedido vai
ser alcançado", afirmou, depois de questionado pela Folha de S.Paulo
durante entrevista sobre a nova fase da Operação Lava Jato.
"Eu
não entendi a polêmica. Simplesmente não era possível; não dependia da
boa vontade de ninguém. Apenas não havia condições logísticas e
policiais suficientes para garantir a segurança do próprio conduzido e
dos agentes públicos."
O irmão de Lula Genival Inácio da Silva, o Vavá, foi enterrado nesta quarta (30) em São Bernardo do Campo.
A
defesa do ex-presidente pediu que ele fosse ao local, argumentando que
este era um direito humanitário e previsto em lei, mas a permissão só foi concedida pelo STF (Supremo Tribunal Federal), depois de duas negativas da Justiça, pouco antes do sepultamento.
Flores
afirmou que não havia condições logísticas e, principalmente, de
segurança para fazer o transporte e escolta de Lula até São Bernardo do
Campo.
Além
da falta de aeronaves disponíveis, a PF mencionou riscos de
manifestações e aglomerações durante o enterro, e que poderiam, segundo o
órgão, criar possibilidades de fuga ou colocar em risco a integridade
física do ex-presidente e dos agentes de segurança.
"Vocês viram,
todos são testemunhas da dificuldade que é tirar alguém de um local
cercado por uma multidão que, por uma razão ideológica, não quer que uma
medida judicial, dentro de um Estado de Direito, seja cumprida",
declarou o delegado, mencionando as manifestações em abril do ano
passado, quando Lula foi preso, e quando de sua condução coercitiva, em
2016.
O delegado disse que a polícia tinha que agir "com
responsabilidade", e que a previsão de saída para velório de familiares,
prevista na Lei de Execução Penal, não é necessariamente obrigatória.
"Pode ser feito, não significa que deve ser feito. Cada caso deve ser analisado", afirmou.
Segundo
ele, após a decisão do STF, a polícia começou a se estruturar para,
entre outras possibilidades, levar uma aeronave de Brumadinho (MG) até
Curitiba -a PF informou que todos os helicópteros disponíveis do órgão
estavam trabalhando no resgate de vítimas e corpos da tragédia.
De acordo com o delegado, o uso de uma aeronave cedida por terceiros não foi cogitado.
"Imagine
se usássemos uma aeronave particular, emprestada por alguém que não se
sabe quem, conduzida por um piloto que não sabemos quem é, que vai
transportar um ex-presidente, com policiais armados... Para onde? Quem
garante que ele vá para o destino que ele deveria ir?".
Ao
ser questionado sobre por que a polícia não sugeriu condições para a
saída, como fez o STF (que proibiu manifestações públicas e determinou
que Lula fosse a uma instalação militar para se encontrar com os
familiares), Flores afirmou que isso não cabia à PF, mas ao judiciário
ou à defesa.
O delegado falou durante cerca de 12 minutos seguidos a respeito do
tema. "Tem alguma coisa aqui que eu tinha que falar", disse, ao final da
entrevista coletiva.
Notícias ao Minuto com informações da Folhapress
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