MISS TAVARELA BRUCE: condenada por matar o amante em motel vence concurso de beleza na prisão
RIO
– Presa há sete anos por ter matado o amante, Verônica Verone de Paiva,
que ganhou o apelido de “Loura Fatal”, foi coroada “Miss Talavera
Bruce” no início da tarde desta terça-feira. A jovem de 25 anos foi a
vencedora do concurso de beleza realizado na Penitenciária Talavera
Bruce, no Complexo de Gericinó, na Zona Oeste do Rio, onde cumpre pena.
Ela disputou o título com outras nove presas.
As
candidatas desfilaram com dois modelitos: um despojado e outro de gala.
Verônica usou, primeiro, uma saia colorida, blusa branca, chapéu e
chinelos. Já o segundo “look” foi um vestido longo, justo, preto e
dourado, e uma sandália preta alta. Maquiada, a jovem estava de batom
vermelho e loiríssima. As presas foram avaliadas por dez jurados, a
maioria funcionários da Secretaria de Administração Penitenciária
(Seap), responsável por promover o concurso.
—
Estou com o coração acelerado e muito feliz. Realmente não esperava.
Cheguei aqui (na cadeia) rebelde e agora estou aqui porque me comportei.
Me preparei muito para esse dia. Treinei muito — falou Verônica, após
saber o resultado.
Para participar do
Concurso Garota Talavera Bruce, que está em sua 13ª edição, é preciso
ter bom comportamento na cadeia. Até ano passado, Verônica não tinha bom
comportamento e, por isso, não podia competir. Na ficha disciplinar da
jovem, há oito faltas graves cometidas na prisão. Este ano, ela
conseguiu ser selecionada e ficou entre as dez finalistas.
O
objetivo da competição é ressocializar e resgatar a autoestima das
presas. Elas foram avaliadas nos quesitos beleza, elegância e simpatia.
Antes de subir no palco, todas foram maquiadas e fizeram penteados. O
prêmio para a vencedora foi um ventilador; a segunda colocada, Mariana
Santos, recebeu um secador de cabelo e a terceira, Michele Neri, uma
prancha para alisar o cabelo. Verônica comemorou o prêmio.
— Isso (o ventilador) aqui dentro é muito útil. É calor demais — afirmou.
Na
ficha que preencheu para participar do concurso, Verônica afirmou que
seu maior arrependimento foi “não ter seguido os conselhos da mãe”.
Elizabeth Verone de Paiva, mãe da jovem, esteve na cadeia nesta manhã
para torcer pela filha. Os familiares das candidatas puderam acompanhar
os desfiles, assim como um grupo de presas.
—
Desde pequena, todo mundo sempre queria que ela fosse modelo. Foram
muitas propostas. Eu dizia que só deixaria quando ela crescesse e olha
onde ela foi desfilar pela primeira vez. Mas isso aqui está sendo muito
importante para a autoestima dela — contou Elizabeth.
Verônica
foi condenada a 15 anos de prisão por ter assassinado, com um cinto, o
empresário Fábio Gabriel Rodrigues, de 33 anos, em um motel de Niterói,
na Região Metropolitana do Rio. A vítima era casada e vivia um romance
com Verônica, 15 anos mais jovem. Em depoimento na delegacia, a jovem
afirmou que se defendeu de uma tentativa de estupro. Ela está presa
desde 16 de maio de 2011 e, de acordo com dados da Vara de Execuções
Penais (VEP), poderá sair da cadeia em quatro meses. O cálculo prevê que
ela vai passar do regime fechado para o semiaberto em janeiro do ano
que vem.
Na ficha disciplinar de
Verônica, há oito faltas graves cometidas na prisão. Ela é acusada de
xingar funcionárias, de incitar colegas de cela a colocar fogo em
colchões e de bater em outras presas e em inspetoras. Por cada uma das
faltas, Verônica teve que passar 30 dias em isolamento, sem contato com
as demais presas. Por conta das punições, a detenta, que poderia já ter
saído da cadeia, teve o benefício da progressão para o regime semiaberto
adiado em dois anos.
Verônica
recebeu a faixa e a coroa de “Miss Talavera Bruce” de Mayanna Rosa
Alves, acusada de integrar uma quadrilha de roubo de cargas composta
apenas por mulheres, que agia na região do Complexo do Chapadão, Zona
Norte do Rio. A jovem, condenada a 35 anos de prisão, foi a campeã do
ano passado.
— A maioria dessas
mulheres entra aqui com a autoestima destruída. Esse é o momento que
elas têm, um dia da beleza, para se sentirem especiais. Aumenta a
autoestima, demonstra que elas não são invisíveis e ajuda muito na
ressocialização — explica Ana Cristina Faulhaber, coordenadora de
unidades prisionais femininas e cidadania LGBT.
Fonte: O GLOBO - Publicado por: Felipe Nunes
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