'Lula está lá de visita, de favor', diz diretor da Polícia Federal sobre prisão do ex-presidente
Rogério Galloro diz que 30 policiais estavam prontos para invadir o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC em abril e prender Lula
© Valter Campanato / Agência Brasil (Arquivo)
Trinta homens do Comando de
Operações Táticas (COT), a tropa de elite da Polícia Federal, estavam a
postos com suas armas para invadir o Sindicato dos Metalúrgicos, em São
Bernardo do Campo. Com mandado de prisão expedido pelo juiz Sérgio Moro,
o ex-presidente Lula resistia a se entregar.
Na primeira entrevista desde que assumiu o cargo, há cinco
meses, o diretor-geral da PF, Rogério Galloro, relata detalhes das
negociações para levar o petista a Curitiba naquele sábado, 7 de abril. O
número um da polícia se aproximou dos negociadores de Lula: "Acabou! Se
não sair em meia hora, vamos entrar". Em seguida, ordenou que os
agentes invadissem o prédio no fim do prazo estipulado.
Como foi o episódio da prisão do ex-presidente Lula?
Foi
um dos piores dias da minha vida. Quando eles (interlocutores de Lula)
pediram detalhes da logística da prisão, nos convenceram de que havia
interesse do ex-presidente de se entregar ainda na sexta (6 de abril,
prazo dado pelo juiz Sérgio Moro). Acabou o dia e ele não se apresentou.
Nós não queríamos atrito, nenhuma falha. Chegou o sábado, Moro exigiu
que a gente cumprisse logo o mandado. A missa (improvisada no sindicato)
não acabava mais. Deu uma hora (da tarde) e eles disseram: 'Ele vai
almoçar e se entregar'.
O sr. perdeu a paciência em algum momento?
No
sábado, nós fizemos contato com uma empresa de um galpão ao lado, lá
tinha 30 homens do COT (Comando de Operações Táticas) prontos para
invadir. Ele (Lula) iria sair em sigilo pelo fundo quando alguém, lá do
sindicato, foi para a sacada e gritou para multidão do lado de fora, que
correu para impedir a saída. Foi um susto. A multidão começou a
cercá-lo e eu vi que ali poderia acontecer uma desgraça. Ele retornou.
Qual era o risco?
Quando
tem multidão, você não tem controle. Aquele foi o pior momento, porque
eu percebi que não tinha outro jeito. A pressão aumentando. Quando deu
17h30, eu liguei para o negociador e disse: 'Acabou! Se ele não sair em
meia hora nós vamos entrar'. E dei a ordem para entrar. Às 18h, ele
saiu.
Houve alguma exigência?
Eles pediram
para não haver muita exposição, que não humilhasse o ex-presidente, nós
usamos tudo descaracterizado. Ele estava quieto o tempo todo, bastante
concentrado.
Por que o ex-presidente está na superintendência da PF?
Isso
não nos agrada. Nunca tivemos preso condenado numa superintendência. É
uma situação excepcional. O juiz Moro me ligou, pediu nosso apoio, ele
sabe que não temos interesse nisso. Mas, em prol do bom relacionamento,
nós cedemos.
Recentemente, Lula mandou chamar dirigentes
do PT para discutir, dentro da superintendência, a eleição presidencial.
É um tratamento diferenciado?
Não somos nós que
organizamos isso (as regras para visitas), mas o juiz da Vara de
Execuções Penais. O Lula está lá de visita, de favor. Nas nossas novas
superintendências não vão ter mais custódia. No Paraná, não vamos mexer
agora. Só depois da Lava Jato.
O sr. conversou com o ex-presidente na prisão?
Eu estive na superintendência, mas não fui vê-lo. É um simbolismo muito ruim.
O
segundo momento tenso para a PF envolveu a ordem de soltar Lula dada
pelo desembargador Rogério Favreto e a contraordem de Moro e dos
desembargadores Gebran Neto e Thompson Flores, do TRF-4.
Eu
estava no Park Shopping, em Brasília, dei uma mordida no sanduíche,
toca o telefone. Avisei para a minha mulher: 'Acabou o passeio'.
Em algum momento a PF pensou em soltar o ex-presidente?
Diante
das divergências, decidimos fazer a nossa interpretação. Concluímos que
iríamos cumprir a decisão do plantonista do TRF-4. Falei para o
ministro Raul Jungmann (Segurança Pública): 'Ministro, nós vamos
soltar'. Em seguida, a (procuradora-geral da República) Raquel Dodge me
ligou e disse que estava protocolando no STJ (Superior Tribunal de
Justiça) contra a soltura. 'E agora?' Depois foi o (presidente do TRF-4)
Thompson (Flores) quem nos ligou. 'Eu estou determinando, não soltem'. O
telefonema dele veio antes de expirar uma hora. Valeu o telefonema.
O
ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo, blindou o delegado da PF
Cleyber Malta Lopes ao autorizar a prorrogação do inquérito dos Portos,
que investiga o presidente Michel Temer. O sr. tentou trocar o delegado?
Não.
Eu estive com o Cleyber antes de me tornar diretor-geral. Depois disso
sequer o vi. Houve um momento em que eu coloquei 25 policiais para
ajudá-lo. Foi no período anterior à decisão do ministro de prorrogar por
mais 60 dias.
Não lhe pareceu um recado o fato de o ministro especificar em sua decisão que o delegado deveria continuar à frente do caso?
Acho
que o ministro quis dizer que Cleyber toca bem o caso. Na linha: 'Olhe,
não tire ele, não. Se ele entrar de férias, não põe outro no lugar'.
A
PF está perseguindo professores da UFSC que fizeram protestos contra
agentes da operação que investigou o ex-reitor Luiz Carlos Cancellier?
Depois
que o reitor se suicidou, uma situação terrível, começou um movimento
de muita crítica às autoridades que participaram da investigação, a
delegada, a juíza, o corregedor da universidade. Foram colocadas fotos
deles dizendo: 'autoridades que cometeram abuso de poder e mataram o
reitor'. E essa faixa é exposta toda vez que fazem uma manifestação. E
essas autoridades se sentiram ofendidas.
Houve necessidade de abertura de inquérito?
É
a mesma coisa de colocar, por exemplo, a foto de servidores e dizer:
'Esses indivíduos estupraram alguém'. É uma acusação seríssima. E esses
indivíduos, cada vez que saem da oitiva, dizem que estão sendo
perseguidos. Não é uma investigação contra a universidade. É de crime
contra a honra.
Mas o inquérito não pode ser uma forma de censura?
Tem outros meios de protestar que não acusar uma autoridade de abuso.
O sr. é um gestor, um técnico. Como evitar que o próximo presidente nomeie um delegado amigo para a diretoria da PF?
Tem policial com viés político. E isso é legal. Mas será que um
desses, se tornando diretor-geral, é bom para a instituição? A gente
teve um exemplo recente que se provou que não é. Se o gestor não tiver
legitimidade interna, ele não consegue permanecer. Eu não tenho
influência nas investigações. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Notícias ao Minuto
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