Estado do Amazonas escolhe neste domingo novo governador e vice em eleição suplementar
MANAUS – Na segunda-feira passada, dezenas de
militares e 15 servidores do Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas
(TRE-AM) especialistas em transmissão de dados iniciaram viagem de barco
que só terminaria dois dias depois. O grupo cruzou 983 quilômetros de
rio, entre Manaus e os municípios de São Gabriel da Cachoeira, Maraã e
Itamarati, para preparar a eleição suplementar do governo do Amazonas,
marcada para este domingo, 6.
Enquanto na última semana as atenções estavam voltadas para a Câmara
dos Deputados, em Brasília, que votava a denúncia contra o presidente
Michel Temer, as Forças Armadas mobilizavam 4,4 mil militares, 87
embarcações e cinco helicópteros para garantir que o pleito transcorra
normalmente, especialmente nas 30 regiões mais remotas do Estado.
Em um processo judicializado e cercado de incertezas, a nova eleição
foi marcada após a cassação, em maio, do mandato do governador José Melo
(PROS) e de seu vice, Henrique Oliveira (SD), por compra de votos. O
motivo da cassação de Melo, contudo, foi tema dominante na campanha
convocada às pressas.
Ao todo nove candidatos disputam um mandato-tampão de 15 meses. Três
deles, que já foram do mesmo grupo político, aparecem mais bem
posicionados nas pesquisas – os ex-governadores Amazonino Mendes (PDT) e
Eduardo Braga (PMDB) e a ex-deputada Rebecca Garcia (PP).
Diversas denúncias chegaram ao Ministério Público Eleitoral (MPE)
local: de carros-fortes que teriam sido usados para transportar malotes
de dinheiro para eleitores no interior à distribuição de panelas,
bonecas e ventiladores por um prefeito. Esses dois casos ainda não foram
analisados, por isso os nomes dos envolvidos foram preservados.
O MPE investiga também a denúncia de que um barco, que teria sido
alugado pela Secretaria de Educação de Parintins, foi flagrado com
material de campanha de Amazonino. Um recibo que revelaria o vínculo. A
assessoria do candidato não atendeu às ligações da reportagem.
O caso mais rumoroso e recente foi uma ação cautelar da Procuradoria
Eleitoral contra Rebecca e o governador interino, David Almeida (PSD),
por uso da máquina pública. A ação relata a demissão de 48 servidores da
Superintendência Estadual de Habitação que teriam se recusado a fazer
campanha para a candidata, aliada de Almeida.
Ao Estado, Rebecca tratou a acusação como “mais uma falácia em
período de campanha”. “Houve uma mudança de governo. É natural que haja
mudança nos cargos de confiança”, afirmou. O governador também disse
considerar “natural” as mudanças.
Incertezas. O ministro Ricardo Lewandowski, relator
do caso no Supremo Tribunal Federal, confirmou a realização da eleição
somente na quinta-feira, 3, horas antes do debate final que reuniu oito
dos nove candidatos na afiliada da TV Globo.
Lewandowski já havia suspendido a eleição uma vez, em julho (a
decisão foi derrubada pelo ministro Celso de Mello), e a campanha seguia
sob o clima de indefinição. Em sua decisão, o ministro ainda deixou uma
incerteza jurídica: o vencedor só será diplomado após o plenário do
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) julgar os recursos, o que não tem data
para ocorrer. No sábado, 5, o PROS, partido do governador cassado,
entrou com um mandado de segurança no TSE alegando que o TRE do Amazonas
cadastrou eleitores fora do prazo previsto na Lei das Eleições. O
pedido, porém, foi indeferido, na noite de sábado, pela ministra Rosa
Weber.
Eleitorado
As 82 famílias que vivem em Vila
Catalão, uma comunidade de palafitas no município de Iranduba, na divisa
com Manaus, usarão canoas e pequenas embarcações para chegar até o
local de votação, uma escola flutuante de madeira.
Ao Estado, a dona de casa Adriana Borges da Silva,
de 20 anos, disse que planeja ir com o marido e o filho, de 3 anos, até a
urna, que fica a poucas remadas de sua palafita. Ela ainda não tem
candidato. “Nessa campanha não apareceu ninguém por aqui. Nem parece
eleição.”
Em outro extremo de Catalão, o pescador João Félix Pinto da Silva, de
31 anos, brincou com o pouco tempo de duração do mandato. “Pelo menos,
se der errado vai durar pouco.”
Ele também “reparou” na ausência de políticos na comunidade e disse
que os candidatos devem estar mais preocupados com a capital. Pudera:
dos 2,3 milhões de eleitores aptos a votar hoje, 1,2 milhão são de
Manaus.
Estadão
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