Causa verdadeira do adiamento do depoimento de Lula ao juiz Sergio Moro
Não é oficial, mas encontro deve ser adiado. Agora ou depois, um dado é inquestionável: juiz quer provas do MPF, ou ele próprio fica em situação difícil

(Reprodução/Reprodução)
Nem a decisão de prender Lula, como queria a extrema direita, nem o medinho de Sergio Moro,
como queria a esquerda. Menos ainda a dificuldade de a Polícia Federal
cuidar da segurança do evento. Se o depoimento do petista ao juiz for
mesmo adiado, é outra coisa que está na raiz da decisão. E atende pelo
nome de “prova”. Ou falta dela. Essa palavrinha de cinco letras tem
muito mais poder do que outra, de nove: “convicção”. Explico tudo.
O depoimento-bomba de Léo Pinheiro diz respeito ao apartamento tríplex do Guarujá. O MPF sustenta que o imóvel pertence a Lula. O ex-presidente nega. O empreiteiro endossou a versão dos procuradores.
Quem se conformou com a esmagadora
maioria dos relatos da imprensa sobre o depoimento de Pinheiro a Moro
acabou perdendo coisas importantes. Quem não se conformou, no que fez
bem, assistiu ao depoimento na íntegra e até pode ter lido um post deste blog, publicado no dia 21, às 8h15.
Naquele post, pontuei, apontando a
minutagem, os momentos mais importantes do depoimento. Entre esses
momentos, estavam estes três (publico o vídeo de novo para quem não
viu):
24min50s – Léo Pinheiro
diz que, com efeito, o casal Lula da Silva tinha apenas adquirido uma
cota de um apartamento-tipo, de oitenta metros quadrados: o 141, que os
interlocutores do petista liberaram para venda. O casal, no entanto, não
chegou a fazer a “adesão”, e o apartamento continuou em nome da OAS.
2h16min – Zanin levava
consigo documentos provando que a OAS, numa emissão de debêntures,
listou o tal tríplex entre as suas propriedades.
2h20min – O advogado de
Lula afirma que, em seu processo de recuperação judicial, em 2015, a
OAS listou o imóvel entre suas garantias. E voltou a fazê-lo em janeiro
deste ano.
Retomo
Pois é… Eu acho que o apartamento
pertence, sim, a Lula. Sites e blogs mais idiotas do que o meu também. É
possível que pensem o mesmo até os eventualmente mais inteligentes,
existindo. Mas e daí? Desde quando a convicção de jornalistas define
culpa e inocência? Sim, há uma penca de testemunhas, que agora inclui
Léo Pinheiro, que sustenta: o apartamento é de Lula.
Mas vejam lá os documentos de fé
pública. Eles apontam que não. Se o apartamento é de Lula e se a OAS o
lista, em operações no mercado (debêntures) e negociação com o estado
(recuperação judicial), como propriedade sua, a empresa está cometendo
mais um crime.
Pinheiro tentou se safar afirmando que
isso é coisa normal e coisa e tal… O que é normal? Então a empresa
servia de laranja para Lula, tinha em seu nome um apartamento que
pertencia ao outro e, muito pragmática, o incluiu na lista de seus bens?
Vocês entenderam onde está o nó da
questão? Ao escrever isso, não estou negando que o apartamento seja de
Lula. Eu acho que é, reitero. O que estou dizendo é que o estado de
direito pede que o órgão acusador forneça a prova de que é. Até porque é
essa prova que servirá, então, de… prova de dois outros crimes:
corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Como há uma boa possibilidade de que
você não goste de Lula, corre o risco de achar um absurdo que documentos
valham mais que testemunhos. Faça um breve exercício e pense no
contrário: alguém, com uma penca de testemunhos contra você, tenta lhe
tomar uma propriedade, ao arrepio de toda a documentação, que está a seu
favor. Qual seria a sua escolha? Qual deve ser a escolha do tribunal?
Ah, então Lula tem de ser inocentado?
Se o MPF não produzir a prova, a
resposta é “sim”, ora essa! Ou, porque não gostamos de Lula, vamos
inaugurar agora uma nova prática, que consiste em ignorar as evidências
materiais em benefícios de testemunhos? Atenção! Este não é um debate
sobre verdade ou mentira, moralidade e amoralidade. Estamos falando de
direito e de regras.
Se Sergio Moro não tiver nada além dos
testemunhos contra Lula — ATENÇÃO! REFIRO-ME AO CASO DO APARTAMENTO
APENAS! —, será jantado pelo petista.
“Provas”
Entre as ditas “provas” entregues por
Léo Pinheiro de que o apartamento pertencia a Lula está o registro da
passagem pelo pedágio, a caminho de Guarujá, de dois veículos do
Instituto Lula, ligações de Léo Pinheiro para assessores de Lula e
registro do encontro do empresário com o petista. Bem, avaliem vocês
mesmos…
Lula é rápido. Num seminário promovido pelo PT nesta segunda, ele afirmou: “As provas contra mim são o pedágio…”.
E deu a sua versão para o depoimento de Léo Pinheiro:
“Foi tanta pressão em cima do Léo, condenado a 26 anos (…) Estou vendo delatores com casa com piscina, em condomínios onde moram desembargadores. Desse jeito, o Léo vai falar até da mãe dele”.
“Foi tanta pressão em cima do Léo, condenado a 26 anos (…) Estou vendo delatores com casa com piscina, em condomínios onde moram desembargadores. Desse jeito, o Léo vai falar até da mãe dele”.
Que os delatores vivem uma vida de
nababos, isso, convenham, todos sabemos. O caso de Sérgio Marchado é o
mais vergonhoso. Não sei a idade de Léo Pinheiro, mas já deve passar dos
70. Está condenado a 26 anos… até agora! A pena pode aumentar. Pode ser
apenado, por exemplo, por corrupção ativa nesse caso do apartamento de
Guarujá e em outro, o do sítio de Atibaia. Se isso acontecer, a pena se
aproxima facilmente dos 40 anos.
Para Léo Pinheiro, a delação pode ser a diferença entre ser solto daqui e a pouco e… morrer na cadeia.
Em 2016, ele fez acordo com o MPF para
delatar o que sabia. Mas Rodrigo Janot anulou tudo sem dizer por quê.
Ninguém ficou sabendo de nada. A Folha publicou um texto com este título: “Delação de sócio da OAS trava após ele inocentar Lula”.
Para encerrar
Léo estava em delação em 2016 e, pois,
se está falando a verdade agora, mentiu no ano passado. Mas esperem: se
mentiu no ano passado, e a punição que lhe sobreveio foi severa, por que
estaria falando a verdade agora, quando a versão pode lhe trazer um
enorme benefício?
Oh, sim, inconformado leitor! Eu acho
que o apartamento é de Lula. Mas não sou o órgão acusador e não preciso
provar nada. A minha opinião também não manda ninguém para a cadeia. Já o
MPF é órgão acusados e precisa apresentar a prova. Moro, por sua vez, à
diferença de Reinaldo Azevedo, não tem apenas uma “opinião”. Ele tem
nas mãos o destino das pessoas.
Sua opinião é irrelevante. Ele precisa é das provas.
Como, até agora, elas não apareceram, o
encontro Lula-Moro deve ser mesmo adiado. Ou Lula vencerá facilmente o
embate do dragão da maldade contra o santo guerreiro.
ATENÇÃO! O MINISTÉRIO PÚBLICO PRECISA SER MAIS EFICIENTE EM PRODUZIR PROVAS DO QUE EM PRODUZIR NOTÍCIAS!
Veja
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