Doença da urina preta tem semelhanças com casos antigos do Amazonas, Europa e EUA
Pesquisadores analisam amostras e evidências anteriores para tentar descobrir causa de surto na Bahia e, agora, de casos suspeitos no Ceará
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Doença da urina preta' causa dor muscular intensa, mudança na cor do xixi e insuficiência renal - (Foto: TV Bahia) |
Os pesquisadores que investigam os casos da doença que
deixa a urina preta aguardam os resultados das amostras de urina, fezes
e soro dos pacientes afetados. Por enquanto, eles têm como suspeita uma
intoxicação pelo consumo de peixe ou uma infecção por paraechovírus
(vírus de RNA, assim como o zika).
As duas hipóteses já tiveram
casos semelhantes relatados. No Brasil, em 2008, um surto com 27 pessoas
afetadas pela doença de Haff foi associada ao consumo dos peixes
pacu-manteiga, tambaqui e pirapitinga no Amazonas.
De acordo com a
literatura médica, a doença de Haff foi identificada no verão de 1924 e
é caracterizada por uma grave rigidez muscular, frequentemente
acompanhada por urina escura - mesmos sintomas da doença registradas
neste ano no Brasil.
Entre 1934 e 1984, casos similares da doença
foram descritos na Suécia e na União Soviética. Nos EUA, os primeiros
casos foram registrados em 1984.
Em 2001, mais casos foram
relatados nos Estados Unidos, no estado da Carolina do Norte. Em 2010, a
China também teve alguns registros. Todos causados pela ingestão de
peixes de diferentes espécies.
O infectologista Antônio Bandeira,
coordenador do comitê de arboviroses da Sociedade Brasileira de
Infectologia (SBI) que acompanhou alguns dos casos da “doença da urina
preta” em Salvador, confirmou que os casos são levados em consideração.
Segundo ele, a maioria dos pacientes atuais tinha ingerido algum tipo de
peixe.
“Está reportada na literatura uma síndrome semelhante a
essa [da Bahia], mas que decorre de uma toxina ingerida por peixes. Isso
em várias partes do mundo. Até hoje não se sabe bem como os peixes
acabam contaminados por isso. Aqui no Brasil, por exemplo, teve um surto
desse tipo em Manaus”, lembrou.
Hipótese de vírus
“Tem uma
doença chamada “mialgia epidêmica”, que causa exatamente isso: dores
musculares fortes e as enzimas musculares aumentam bastante”, disse
Bandeira, lembrando a outra hipótese.
A “mialgia epidêmica”, ou
doença de Bornholm, é causada pelo enterovírus Coxsackie B ou outros
vírus. Bandeira disse que, no início do surgimento dos casos na Bahia,
era a hipótese mais aceita pelos pesquisadores. “Nós começamos
acreditando nessa hipótese, mas ponderamos. Um percentual expressivo dos
pacientes que têm essa síndrome - cerca de 30% a 40%- tem outros
quadros, como dores abdominais, às vezes diarreia”, disse.
Nos casos da Bahia, não foram registrados outros sintomas além de dor muscular extrema, urina preta e insuficiência renal.
Parceiro
de Bandeira, o infectologista Gúbio Soares é pesquisador da
Universidade Federal da Bahia. Ele recebeu 11 amostras de pacientes
afetados e disse que encontrou vírus em algumas delas. Um laudo deverá
ficar pronto até o início da próxima semana.
“Nós já chegamos a uma
fase que identificamos a presença do material genético de uma família de
vírus, nós achamos que é Picornavirus, mas ainda estamos na parte de
sequenciamento para ver se conseguimos fechar o caso”, disse. “Nós
suspeitamos que seja um vírus chamado paraechovirus”.
De acordo com Soares, esse vírus já causou um pequeno surto na Dinamarca, em 2014, na França, em 2008 e 2014, e também no Japão em 2008, 2010 e 2014. Ele disse que ainda precisa confirmar se os casos antigos apresentaram o sintoma da urina preta.
De acordo com Soares, esse vírus já causou um pequeno surto na Dinamarca, em 2014, na França, em 2008 e 2014, e também no Japão em 2008, 2010 e 2014. Ele disse que ainda precisa confirmar se os casos antigos apresentaram o sintoma da urina preta.
G1
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