segunda-feira, 21 de julho de 2014

Fala, Gilvan!


Gilvan Freire é de São Mamede(PB, estudou em Patos(PB), onde foi líder estudantil e vereador. Já foi Deputado Estadual duas vezes e presidente da Assembleia. Foi Deputado Federal candidato a Governador da Paraíba em 1998. Atualmente tem banca de advocacia. Atua também na mídia.


Postado por Gilvan Freire em 21/07/14 as 18:04

A CARTA ANÊMICA E INÚTIL DE CÍCERO


É uma pena que o senador Cícero Lucena não tenha sabido se desvencilhar do conflito que viveu dentro do PSDB nos últimos tempos. Em principio, criou a expectativa de que a crise interna terminaria em rompimento formal com Cássio e Ruy Carneiro, os dois principais responsáveis pelo seu isolamento dentro do partido. Depois, deixou por largo tempo em aberto a especulação de que poderia ser candidato a deputado federal, uma candidatura muito viável, por conta de seu peso eleitoral em João Pessoa, mas, mesmo assim, carente de grande aporte financeiro. E, por fim, perdeu o controle sobre seus parentes, que anunciaram apoio a Ricardo Coutinho, numa contradição desmoralizante tamanho família, antes mesmo que anunciasse a sua posição.
Agora, sem ter criado um só fato de relevância política durante todo esse tempo e sem ter revelado uma estratégia mínima de retirada do processo, Cícero simplesmente capitula e se entrega ao abandono.
Em sua nota ou carta, Cícero não se revela altivo, não toma uma posição de líder contrariado em seus legítimos interesses políticos, ou porque deixou o processo se arrastar demais sem uma resistência a altura de seu papel e de seu mandato ou porque está querendo preservar outras conveniências de que não quer ou não pode abrir mão. Se lamuria apenas, de maneira soft, como alguém que perdeu muita coisa mas pouco está se lixando. Ou como quem não perdeu nada de importante (afinal seu mandato de senador chega ao fim). De fato, Cícero não deu manutenção eleitoral ao mandato, o que resultou em certo afastamento das lideranças em torno da defesa de seu nome, circunstância que favoreceu de forma preponderante a operação demolidora que Ruy Carneiro engendrou, em causa própria, objetivando substituí-lo nos intestinos do PSDB.
Cícero não acusa ninguém nominalmente em sua carta, ao contrário do que vinha se queixando entre amigos, e passa até a ideia de que mesmo alijado, como reconhece, não está disposto a reclamar de quem lhe teria traído ou abandonado, e ainda assume compromisso com a candidatura de Aécio Neves, sem dizer que papel terá na campanha. De qualquer forma, a campanha de Aécio é controlada por Cássio na Paraíba e, portanto, não há como Cícero serví-la a não ser que ao lado de Cássio e Ruy.
Trata-se de uma carta que desmancha todas as expectativas que foram criadas em volta dela, que não diz nada nem garante posição nenhuma, muito apropriada aos que desistem de algo sem reclamação. A não ser que Cícero, sem contar mais com alguns de seus familiares, queira se reconciliar com Cássio e Ruy mais adiante, ao devagar, pedindo desculpas pelo que não fez, ou perdoando aos que fizeram, compreendendo que a política sem traição é apenas uma arte de um passado que ele mesmo viveu e do qual tem boas lembranças e saudades. Mas, se é para ficar recordando Ronaldo Cunha Lima, porque não matar a saudade em companhia de seu filho?

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