Cientista descobre quatro novas espécies de mamíferos no Brasil
Quatro
novas espécies de mamíferos que vivem na Mata Atlântica e na Amazônia
foram descobertas por uma cientista brasileira com a ajuda de
sequenciamento genético.
São tipos diferentes de
cuícas-de-rabo-curto, marsupiais que são parentes próximos do gambá, mas
que, diferente de seu "primo", não possuem a bolsa abdominal comum em
animais desta infraclasse, como o canguru, outro parente distante.
A
investigação científica foi publicada na última semana na revista
"Molecular Phylogenetics and Evolution", em artigo assinado por Silvia
Pavan, Sharon Jansa e Robert Voss.
Em entrevista ao G1, Silvia, que está nos Estados Unidos, conta que pesquisa há anos o gêneroMonodelphis,
ao qual pertencem as cuícas-de-rabo-curto. Esses animais podem ser
encontrados desde o sul do Panamá, passando por vários biomas do Brasil,
até a região central da Argentina.
O artigo afirma que das quatro
espécies novas, três vivem na Amazônia e uma na Mata Atlântica. Os
animais ainda não receberam um nome, já que a descrição oficial deve
acontecer nos próximos anos.
De hábito terrestre, são bichos que
vivem entre as folhagens de florestas, fazem ninhos em troncos ocos de
árvores e podem ter capacidade de viver em tocas abaixo do solo - uma
característica que ainda precisa ser melhor estudada.
São animais
que se alimentam de insetos, mas que também podem consumir pequenos
vertebrados. Seu comprimento varia de 7 centímetros a 20 centímetros, e
chegam a pesar entre 6 gramas e 140 gramas.
Refazendo as contas
Espécies de "cuícas-de-rabo-curto" ilustrando diferentes padrões de coloração da pelagem: A: Monodelphis domestica (coloração uniforme); B: M. touan (laterais avermelhadas); C: M. emiliae (cabeça e lombo avermelhados); D: M. americana (listras dorsais esc (Foto: Divulgação/T. Semedo; S. Pavan; T. Semedo; D. Pavan)
Além
de descrever quatro novos animais, o trabalho de pesquisa publicado na
última semana sugere alterar a quantidade de espécies de
cuíca-de-rabo-curto descritas pela ciência. Até então, segundo a
literatura, existem 26 variações. Mas foi possível verificar que cinco
descrições eram, na verdade, repetições. Isso se esclareceu com análise
genética. Assim, com as quatro novas espécies descritas no trabalho da
brasileira, o total ficaria em 25.
Preservação
De
acordo com a pesquisadora, ainda não é possível dizer se as novas
espécies estão ou não ameaçadas de extinção. Dentre os animais já
descritos, não há indicação de que estejam em risco de desaparecer da
natureza, mas pouco ou nada se sabe para estabelecer o status de
conservação de muitas delas.
No entanto, surpreende a ocorrência
de uma cuíca desconhecida na Mata Atlântica, o bioma brasileiro mais
devastado e que disputa lugar com a expansão urbana. "Mesmo com todos os
trabalhos de exploração [científica], coletas etc., não é incomum
encontrar espécies que ainda não tem nome na Mata Atlântica. Isso
enfatiza a necessidade de preservar o bioma. Muitas espécies podem
desaparecer sem antes sabermos da sua existência".
Somados todos
os fragmentos de floresta nativa acima de 3 hectares, restam 12,5% da
área original do bioma, que tinha 1,3 milhão de km² quando o Brasil foi
descoberto. Essa paisagem natural é uma das mais ricas em
biodiversidade, e até 60% de suas espécies de plantas são endêmicas, ou
seja, só existem naquela região.
Silvia ressalta ainda sobre a
necessidade de mais investimentos em pesquisa básica no país, já que
esse tipo de descoberta escancara que os brasileiros sabem pouco sobre a
própria biodiversidade.
G1
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