domingo, 24 de março de 2013


Os sucessores

Desde 1947 até 2004 a família Rego colecionou uma série de derrotas consecutivas, mesmo alicerçadas na mitologia de uma das mais expressivas lideranças políticas da Paraíba, o Senador Argemiro de Figueiredo.

O Major Veneziano (1947), cunhado de Argemiro, perdeu a eleição municipal de Campina Grande para o jovem e desconhecido médico Elpídio de Almeida. Senador da República, Argemiro partiu para A revanche, tentando derrotar o sucessor de Elpídio de Almeida, promotor público natural de Pombal (PB), Plínio Lemos. O inimaginável aconteceu: Argemiro perdeu. Um pouco mais adiante, conseguiu vencer, mas apoiando ou “se apoiando” na liderança de Elpídio de Almeida. O retorno de Elpídio foi uma vitória sem brilho… Vez que em seguida, Severino Cabral e Newton Rique passaram a dominar a cena política na Rainha da Borborema, eclipsando gradativamente o ex-interventor, e um dos mais brilhantes Senadores da República que representou a Paraíba no Congresso Nacional.

Durante três décadas Argemiro se digladiou contra todos os blocos políticos que se formavam constantemente na cidade, com o propósito de derrotá-lo, tendo a sua frente sempre o saudoso Severino Cabral. Nas eleições de 1968, Argemiro vislumbrou a oportunidade de se livrar – de uma vez por todas – do seu “perene” algoz. Fez um “jogo duplo”: não conteve rompimento do seu sobrinho, tribuno Vital do Rego com Seu Cabral, deixando-o se lançar por uma sublegenda do MDB. E “apostou” em seu genro Orlando Almeida, como vice do poeta Ronaldo Cunha Lima. Liderança populista emergente, Ronaldo ainda não tinha “musculatura” para enfrentar um “peso-pesado” da estirpe de Severino Cabral. Para Argemiro, qualquer que fosse o resultado da contenda teria motivos para comemorar: sua volta ao Senado da República, nas eleições de 1970.

Cabral era Vice-Governador de João Agripino Filho, Milton Cabral (seu filho) Senador da República; contava com a “máquina” do Governo, e ainda atraiu Raymundo Asfora, que compôs sua chapa como vice. Duelo de gigantes… Mesmo assim, o “cabralismo” temia as postulações juvenis: Vital do Rego (Deputado Federal, genro do ex-governador Pedro Gondim); Ronaldo Cunha Lima, incorporando o “Argemirismo”. Cabral perdeu e Vital também. Seis meses depois Ronaldo foi cassado, Orlando não assumiu. Nas eleições de 1970, João Agripino lançou para o Senado da República Domício Gondim – considerado como “Rei do Zinco” no Brasil – derrotando de forma humilhante Argemiro, forçando-o a se despedir da vida pública…

Quatorze anos depois do último grande embate, surge uma chance de recomeço (1982). Mas, Argemiro, Cabral, Elpídio; Plínio Lemos; Domício Gondim… Já não conviviam entre os mortais. Seus seguidores se fixaram em dois nomes: Ronaldo Cunha Lima e Vital do Rego. Ambos estiveram juntos (1968), mas “nos caminhos da volta” alguém se perdeu. A disputa de 1982 foi acirrada, com voto vinculado, e uma série de manobras criadas pelo PDS, para sair vitorioso do pleito. Ronaldo venceu em Campina, e Pedro Gondim (avô do ex-prefeito Veneziano e do senador Vital Filho) perdeu para o Senado da República, ao lado de Antônio Mariz. Foi o fim do Argemirismo, Cabralismo; dos Regos; João Agripino Filho; Pedro Gondim…

Ronaldo Cunha Lima, impulsionado pela conquista de 1982, derrotou uma a uma todas as lideranças que tinham raízes fincadas, desde os anos trinta (século passado), em Campina Grande. Elegeu seu filho Cássio (1986) Deputado Federal mais jovem, e com maior densidade eleitoral da Paraíba, no pleito daquele ano. Aproveitando um “dispositivo transitório” da Constituição de 1988, Cássio sucedeu Ronaldo na Prefeitura de Campina Grande. Dois anos depois o poeta derrotou o ”mito” imbatível Wilson Braga (1990). Finalmente, os Cunha Lima não tinham mais adversários… A Paraíba voltara a ser uma Capitania Hereditária, outorgada pelo voto popular.

O então imberbe Vitalzinho elegeu-se Vereador em Campina Grande. Numa empreitada como Vice – ao lado de Enivaldo Ribeiro – ameaçaram, e quase venciam Cunha Lima na Rainha da Borborema (1996). Num projeto “solo” (eleições 2000) Vital Filho naufragou. Talvez o resultado deste insucesso tenha alterado seu comportamento como herdeiro do Major Veneziano, Vital (pai); Argemiro e Pedro Gondim. Aprendeu a difícil lição de conviver com as adversidades. Mudou totalmente sua estratégia e planejou milimetricamente seus passos, com objetividade. Conquistou um mandato de Deputado Estadual, se tornou líder do Governo Maranhão II. No divisionismo Cozete/Cássio, elegeu seu irmão prefeito de Campina Grande (2004). Chegou a Câmara dos Deputados (2006). Reelegeu Veneziano (2008), e num “cochilo” dos tucanos arrancou um mandato de Senador da República (2010). Em apenas três anos já Presidiu a Comissão do Orçamento Geral da União – se tornando conhecido nacionalmente – penetrou em todos os grotões da Paraíba, premiando prefeitos com Emendas Parlamentares. Na CPI mais polêmica do Senado (Cachoeira) foi escolhido Presidente. Hoje, ocupa a Presidência da CCJ no Senado da República. Tem mais tempo de exposição na TV (em rede nacional) que todos os políticos juntos – desde os anos setenta – (século passado). E com a recente Lei dos Royalties conquistou notoriedade nacional. No momento, é o político mais cortejado pelos prefeitos de todo o país.

Como pré-candidato ao Governo do Estado em 2014 apresenta o discurso mais forte da campanha, capaz de entrar em qualquer município sem a tutela política de quem quer que seja: Os royalties é um incremento significativo nas receitas das pequenas cidades. “Abre alas”, que desafia a ação dos demais: Cássio, Ricardo Coutinho; Veneziano…

Os gigantes voltam a se encontrar (2014), numa batalha renhida. Cássio, na tarefa de manter o espólio conquistado por seu pai, que o escolheu como sucessor. Vital Filho tentará concluir a reconstrução dos “escombros” que seus ancestrais deixaram como legado: rosário sucessivo de derrotas, ao longo das últimas sete décadas

Fonte: Paraíba Confidencial

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