Delação premiada cita pagamento de R$ 2,5 milhões para show do cantor Roberto Carlos no Réveillon e envolve o senador Davi Alcolumbre

O Réveillon do Amapá de 2024 contou com uma programação de grandes shows, com atrações como João Gomes, Alceu Valença, Pablo do Arrocha, Alok e Roberto Carlos. À época, material institucional do governo estadual destacou a atuação do governador Clécio Luís (Solidariedade) e do senador Davi Alcolumbre (União-AP) na captação de apoio para os eventos, sem detalhar o papel do parlamentar nos preparativos. As informações são do Portal Piauí.
Uma versão distinta dos bastidores do evento consta em proposta de colaboração premiada apresentada à Procuradoria-Geral da República (PGR) por dois empresários investigados por fraudes no setor de combustíveis: Roberto Leme, conhecido como Beto Louco, controlador da Copape, e Mohamad Hussein Mourad, apelidado de Primo. No documento, eles afirmam ter repassado recursos a parlamentares entre 2021 e 2025 em troca de influência política, com menções a Davi Alcolumbre e ao presidente do União Brasil, Antonio Rueda.
Segundo a proposta de delação, Beto Louco teria desembolsado R$ 2,5 milhões para custear o show de Roberto Carlos em Macapá, a pedido de Alcolumbre. A tratativa, de acordo com o relato, teria ocorrido em 20 de dezembro de 2024, em reunião no gabinete do senador, em Brasília. Os empresários afirmam que o pagamento teria relação com a tentativa de reverter decisão da Agência Nacional do Petróleo (ANP) que proibiu a Copape de produzir combustível.
Ainda conforme o documento, o senador teria indicado um intermediário identificado como “Cleverson” para operacionalizar a transferência. Os valores teriam sido divididos em dois depósitos de R$ 1,25 milhão, enviados para contas de empresas distintas na véspera do show, realizado em 28 de dezembro. A revista piauí apurou que o número atribuído ao intermediário pertence a Kleryston Pontes Silveira, empresário do setor musical com atuação no Nordeste.
A proposta relata também que, após os depósitos, Beto Louco teria informado o senador, que respondeu com mensagens de agradecimento. Procurado, Alcolumbre afirmou, por meio de sua assessoria, que não mantém relação comercial ou empresarial com os empresários citados e que as empresas mencionadas não patrocinaram o Réveillon do Amapá nem eventos articulados por ele. O senador declarou ainda que busca apoio institucional de empresas para eventos culturais no estado e negou qualquer associação a atos ilícitos. Parte dos questionamentos — como a realização da reunião, o pedido de recursos e a identificação do intermediário — não foi respondida.
A defesa de Beto Louco e Mohamad Mourad informou que não comenta eventuais tratativas de colaboração premiada e negou ligações dos empresários com organizações criminosas. Kleryston Pontes Silveira declarou conhecer Alcolumbre apenas profissionalmente e disse não ter ingerência no show de Roberto Carlos; não respondeu sobre os dados bancários mencionados na delação.
Os indicados pelo governo federal para a diretoria da ANP à época foram posteriormente sabatinados e aprovados pelo Senado. A proposta de colaboração apresentada pelos empresários à PGR acabou rejeitada. Em nota, a procuradoria afirmou que não comenta discussões ou confirma tratativas, em razão do sigilo legal, e que o material apresentado não apresentou materialidade suficiente. Os empresários encaminharam informações complementares e aguardam nova análise.
O governo do Amapá informou que o Réveillon foi realizado pelo Instituto Acender (Iseap), com patrocínios privados e apoio institucional, e que os patrocinadores foram responsáveis pela contratação e pagamento dos artistas. O Executivo estadual não detalhou valores de cachês nem os responsáveis diretos pelas contratações. O empresário de Roberto Carlos disse desconhecer qualquer intermediação do senador no pagamento do show e não informou o valor do cachê por cláusulas contratuais.
Segundo dados oficiais, o Réveillon 2025 teria movimentado a economia local e registrado alta ocupação hoteleira. O governo estadual também destacou o apoio institucional do senador Davi Alcolumbre a eventos do calendário turístico do Amapá.
Blog JURU EM DESTAQUE com Polêmica Paraíba - Gerlane Neto
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