domingo, 21 de abril de 2024

Único local no mundo em que esses registros aparecem de forma associada

PESQUISA: Povos originários interagiam há mlhares de anos com pegadas de dinossauros em Sousa, no Sertão da Paraíba

Pegadas e desenhos de povos originários estão lado a lado em Sousa, na Paraíba — Foto: Reprodução/Nature/Leonardo P. Troiano, Heloísa B. dos Santos, Tito Aureliano & Aline M. Ghilardi
Uma pesquisa identificou em Sousa, no Sertão da Paraíba, desenhos de povos indígenas interagindo com pegadas de dinossauros em um sítio arqueológico. De acordo com o estudo feito por pesquisadores brasileiros, bem antes das chegadas dos portugueses ao Brasil, as comunidades originárias descobriram as pegadas e incorporaram as marcas fossilizadas ao seu repertório de conhecimento e na arte realizada no período pré-colonial. Segundo os pesquisadores, essa é o único local no mundo em que esses registros aparecem de forma associada.

Os desenhos, chamados de petroglifos pelos pesquisadores, foram demarcados no sítio arqueológico Serrote do Letreiro, localizado em uma propriedade rural privada, há 11 km do centro urbano de Sousa. A cidade abriga o maior conjunto de pegadas de dinossauros provenientes da fase inicial do período Cretáceo da América Latina.

“Este sítio é relevante para o conhecimento das populações indígenas da região e a sua relação com o ambiente em que viviam, incluindo a interação com os fósseis. E paleontologicamente é relevante pois apresenta um abundante registro de pegadas de dinossauros, algumas das mais antigas pegadas de dinossauro do Período Cretáceo do Brasil, e que, além do mais, estão preservadas de forma excepcional”, afirma a pesquisadora Aline Ghilardi, umas das responsáveis pelo estudo.

De acordo com Aline Ghilardi, uma das responsáveis pela pesquisa e professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o sítio arqueológico Serrote do Letreiro começou a ser pesquisado na década de 1970, pelo padre paleontólogo italiano Giuseppe Leonardi, mas os moradores da região já conheciam o local.

“Apesar de conhecido cientificamente, o sítio nunca tinha recebido uma descrição tão cuidadosa sobre a associação de petroglifos às pegadas fósseis. Trabalhos anteriores apenas mencionaram a ocorrência, sem se aprofundar na relação. A novidade agora é que nos debruçamos com mais cuidado sobre este sítio para interpretar essa associação única no mundo e apresentá-la em mais detalhes”, afirmou Aline Ghilardi.

A pesquisadora afirma que as pegadas e inscrições são facilmente visíveis na região, com exceção para algumas marcas que já foram desgastadas pela ação do tempo. Os desenhos foram feitos no entorno das pegadas, mas nunca em cima delas, o que indica que as comunidades humanas identificaram as marcas e tiveram cautela com elas.

“O fato de a maioria das inscrições terem sido feitas no entorno das pegadas é um forte indício que eles notaram que algo de diferente ou especial estava ali. Além disso, o fato de nenhuma inscrição – apesar de serem muitas- ter sido feita por cima das pegadas ou danificando as pegadas, demonstra algum cuidado por parte dos “artistas”, explicou a pesquisadora Aline.

“Petroglifos similares são encontrados por toda essa área, em distintos sítios arqueológicos, mas a associação com pegadas de dinossauros ocorre apenas no Serrote do Letreiro, em Sousa, na Paraíba”, explica.

A pesquisa foi realizada por pesquisadores da Universidade Regional do Cariri (URCA), Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), pesquisadores independentes e uma arqueóloga da Fundação Casa Grande do Ceará. O estudo foi publicado em 19 de março na revista Nature.

Blog JURU EM DESTAQUE com G1 PB

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