Cenas de violência entre as torcidas de Flamengo e Vasco

O que se sabe da briga entre torcedores do clássico entra as equipes do Flamengo e Vasco, realizado no último domingo (05)

Torcidas negam relação com a pancadaria e dizem que Polícia Militar mudou o trajeto e houve o encontro. Um homem morreu e outros 7 foram hospitalizados. Dois estão em estado grave.

Por Rafael Nascimento, G1 Rio

Torcedores de Flamengo e Vasco brigam antes de partida no Maracanã

Torcedores de Flamengo e do Vasco protagonizaram cenas de selvageria no entorno do Maracanã no domingo (05), dia de clássico entre as duas equipes pelo Campeonato Carioca. Na confusão, um homem morreu e outros sete foram hospitalizados, alguns em estado grave.

As torcidas organizadas dizem que os enfrentamentos aconteceram após mudança de trajeto feita pela Polícia Militar o que teria provocado o encontro dos torcedores. A corporação informou que o comando do Batalhão Especializado de Policiamento em Estádios (Bepe) planejou os trajetos em reunião prévia com as torcidas organizadas (leia detalhes mais abaixo).

Veja o que se sabe sobre o a violência entre as torcidas.

Como a confusão começou?

O foco principal de pancadaria começou por volta de 16h30, em São Cristóvão, bairro vizinho ao Maracanã.

Segundo testemunhas, um grupo de vascaínos que caminhava para o Maracanã, saindo de São Januário e com escolta policial, acabou se dividindo. Um grupo maior, acompanhado dos policiais, desceu a rua para a Mangueira. Outro foi para a Quinta da Boa Vista, sem escolta, onde ocorreu um dos maiores focos de briga.

"Bateram de frente com a torcida do Flamengo. Eles estavam com paralelepípedo, com pedra, com pau, fogos", conta um torcedor do Vasco.

O Corpo de Bombeiros informou que foi acionado às 16h45 para atender duas vítimas de agressão na Rua Almirante Baltazar. Vídeos que circularam em redes sociais mostraram pessoas feridas e confusão no entorno do estádio.

Vídeos mostram cenas de selvageria

Campista torcedor do Vasco é um dos feridos em briga antes do Flamengo x Vasco no Rio de Janeiro

Os vídeos mostram cenas de muita violência e covardia. Em um deles, um homem, já desacordado, continua sendo covardemente agredido e tem suas roupas arrancadas (veja acima; as imagens são fortes). Ele foi identificado como Ludvictor Wanbethoven, de 28 anos, promotor de vendas em Campos, no Norte Fluminense.

A mãe contou ao g1 como está o filho.

"Sofreu várias pancadas na cabeça, eles acharam que tinha matado ele e comemorado", contou. Segundo a mãe, o filho está consciente e tem previsão de ficar mais alguns dias no hospital particular onde está internado.

Morre um dos feridos em briga entre torcidas de Flamengo e Vasco; dois estão internados em estado grave

Outro homem, identificado como Bruno Macedo dos Santos, morreu nesta segunda-feira (06) no Hospital Souza Aguiar, no Centro do Rio. Ele foi atingido por um tiro, segundo o hospital. A polícia investiga o crime.

Outros dois torcedores seguiam internados no Souza Aguiar até a noite desta segunda. Eles estão em estado grave.

Um deles é o motoboy Carlos Henrique Silva Ferreira, de 34 anos. Segundo a família, ele sofreu traumatismo craniano, estava com um coágulo no cérebro e precisou passar por uma cirurgia.

Éder dos Santos Eliasar, de 38 anos, estava com o irmão quando a confusão começou. Três pessoas tiveram alta.

Homem carrega pedaço de pau após briga de torcedores de Flamengo e Vasco — Foto: Reprodução

O que dizem a Polícia Militar e as torcidas organizadas

A Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar disse que o comando do Batalhão Especializado de Policiamento em Estádios (Bepe) planejou os trajetos que foram feitos pelas torcidas organizadas, em uma reunião prévia com lideranças e com a Associação de Torcida Organizada (Anatorg).

Segundo a PM, o objetivo era "evitar possíveis encontros de torcedores rivais".

O planejamento, segundo a polícia, foi: torcida do Flamengo desembarcaria na estação de trem de São Cristóvão, com escolta desde a estação de Madureira até a entrada do setor Norte, nos acessos E e F do estádio.

A do Vasco saiu das imediações de São Januário, a pé, escoltados por policiais militares, seguindo pela Rua Visconde de Niterói, até o estádio do Maracanã.

A PM nega que os envolvidos no confronto estivessem nos grupos que foram escoltados.

A polícia diz ainda que, assim que a briga começou em São Cristóvão, enviou apoio e prestou socorro aos feridos. Segundo a PM além do reforço dado à equipe da UPP Mangueira, 600 policiais atuaram na região do estádio.

Torcedores do Flamengo andam com paus no Rio de Janeiro , com carros da Polícia Militar atrás — Foto: Reprodução

Organizadas do Flamengo afirmam que os enfrentamentos ocorreram após uma mudança de trajeto, em cima da hora, feita pelo Bepe e que acabou fazendo com que as torcidas se encontrassem.

Através de comunicados em suas redes sociais, a Torcida Jovem Fla e a Raça Rubro-Negra se queixaram de mudanças na logística.

As duas organizadas afirmam que foram orientadas, ao contrário do combinado, a desembarcar do trem perto de concentrações de torcedores vascaínos em São Cristóvão.

A Torcida Jovem do Vasco diz que saiu de São Januário às 15h45, e passou, por decisão do Bepe, pela Mangueira, e não pela Quinta da Boa Vista, local do conflito. A organizada afirma que nenhum de seus pontos de concentração tiveram registros de confusão.

Comunicado da Torcida Jovem do Flamengo — Foto: Reprodução

Brigões já foram identificados?

Procurada, a Polícia Civil não informou que delegacia vai investigar a confusão e se alguém já foi identificado.

A PM diz que um homem foi preso em flagrante, mas não divulgou a identidade. Afirma ainda que foram apreendidos, em diferentes pontos de São Cristóvão, Maracanã e Madureira:

• cerca de 50 pedaços de madeira;
• 9 barras de ferro;
• 5 bombas caseiras;
• fogos de artifício;
• soco-inglês;
• artefato explosivo.

Vídeo com paus e rostos cobertos

Ms em viaturas aparecem ao lado de flamenguistas com rostos cobertos e carregando paus

Imagens compartilhadas em redes sociais mostram torcedores do Flamengo caminhando com paus e outros objetos usados para brigar sendo aparentemente escoltados por viaturas policiais.

No vídeo, é possível ver centenas de torcedores parecendo estar caminhando para um confronto. Alguns deles dizem que são de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.

Atrás do bando trafegam lentamente vários carros da PM. A PM afirmou ao g1 que investiga as gravações.

A Associação Nacional de Torcidas Organizadas (Anatorg) divulgou uma nota questionando porque os torcedores que estavam com todo esse material não foram presos.

Na nota de repúdio, a entidade diz que enviou para as torcidas organizadas, parlamentares, Bepe, MP e ao governo do estado “todos os pontos de deslocamentos”.

“Durante o percurso, até a chegada no entorno do estádio, não houve conflito”, destaca em um dos trechos.

Ainda segundo a entidade:

• “Na quinta-feira (02), houve a reunião de pré-jogo no Bepe, com 20 torcidas organizadas representadas, mas muito breve e protocolar, sem maiores orientações;
• Os uniformes e carros da PM não têm as câmeras, para registro das ocorrências, como determina o STF.
• Durante um longo período, não tivemos conflito entre as torcidas do Rio de Janeiro.
• A torcida do Flamengo tem como rota de chegada ao Maracanã, a avenida Radial Oeste, e a do Vasco, a Quinta da Boa Vista. Por qual razão, não havia policiamento na passarela que separa as duas vias, permitindo assim, que houvesse o encontro dos torcedores?
• Diversos artefatos, pedaços de pau foram apreendidos. Por que os supostos torcedores que os portavam, não foram detidos?
• Não há relação dos torcedores baleados com torcidas organizadas.”

Mais de cem ônibus danificados

Além da pancadaria contra torcedores rivais, os ônibus também foram alvos dos brigões. Mais de 100 coletivos foram depredados no Grande Rio. Um prejuízo de mais de R$ 200 mil, segundo o consórcio Rio Ônibus.

Metrô fechado por conta da confusão

O Metrô Rio informou que a estação São Cristóvão precisou ser fechada por cerca de 10 minutos por causa da briga entre integrantes de torcidas organizadas na parte externa do terminal.

Qual é a situação atual das torcidas organizadas no Rio de Janeiro

A confusão ocorre meses depois que algumas das principais torcidas organizadas do estado terem autorização a participar dos jogos do Maracanã após anos proibidas.

Raça Rubro Negra, Torcida Jovem, Young Flu, Força Jovem do Vasco e Fúria Jovem do Botafogo estavam impedidas de levar símbolos, bandeiras e instrumentos aos estádios do Rio de Janeiro.

As proibições aconteceram após diversos casos de brigas, depredações e até mortes entre os arquirrivais.

Mas, uma lei de autoria dos deputados Zeidan (PT), Carlos Minc (PSB), Luiz Paulo (PSD) e Martha Rocha (PDT) concedeu anistia às torcidas em setembro de 2022.

A ideia da nova lei é punir as pessoas a cada caso de violência, mas não as coletividades das torcidas. O slogan da campanha para a aprovação da lei foi de punição ao CPF, mas não ao CNPJ.

Após a aprovação da lei, o governador do Rio, Cláudio Castro (PL), chegou a vetar o projeto, mas o veto foi derrubado na Alerj.

Após isso, as torcidas entraram em acordo com a Polícia Militar e com o Ministério Público do Estado (MPRJ) para ajustar as condições para a volta aos estádios. Em 15 de janeiro deste ano, o jogo entre Flamengo e Portuguesa foi o primeiro em que Jovem Fla e Raça Fla se beneficiaram da nova lei. 

G1 Rio