domingo, 30 de outubro de 2022

Chegou o grande dia!

Brasil volta às urnas neste domingo, 30 de outubro, em cenário de indefinição entre Lula e Bolsonaro para presidente

Bolsonaro e Lula têm encontro marcado na TV no dia 16 de outubro - Foto: Mauro Pimtentel e Sergio Lima / AFP
Bolsonaro e Lula - Foto: Mauro Pimtentel e Sergio Lima / AFP       

Os mais de 156,4 milhões de brasileiros aptos a votar neste domingo (30/10) vão às urnas para o segundo turno da eleição presidencial sob ambiente de indefinição. Em que pese o fato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), vencedor do primeiro turno, aparecer numericamente à frente do candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) em seis das pesquisas divulgadas nas horas anteriores à abertura das seções eleitorais, quatro delas apontam empate técnico: Datafolha, Genial/Quaest, CNT/MDA e Paraná Pesquisas.

O Datafolha, por exemplo, apontou 49% dos votos totais para o petista, ante 45% do chefe do Executivo, com margem de erro de dois pontos. Em meio à enxurrada de números e projeções sobre o resultado do pleito, Lula e Bolsonaro protagonizaram eventos que reforçaram estratégias adotadas por suas campanhas ao longo do segundo turno: o ex-presidente encerrou a campanha em São Paulo (SP), ao lado de Fernando Haddad (PT), candidato ao governo paulista e um de seus principais aliados. O atual presidente liderou carreata por ruas de Belo Horizonte e esteve ladeado pelo governador Romeu Zema (Novo), um dos principais cabos eleitorais do grupo bolsonarista.

Apesar da proximidade vista nos relatórios de Datafolha, Quaest, Paraná Pesquisas e MDA, outros dois institutos — Ipec e Atlas/Intel — projetaram vitória de Lula. O Atlas, que tem margem de erro de um ponto percentual, calculou o petista com 52,4% dos votos totais, contra 45,7% de Bolsonaro. Campo de batalha bastante explorado nesta eleição, a internet também teve uma disputa própria, enquanto os candidatos iam às ruas para os últimos atos de campanha. De um lado, Bolsonaro apresentou texto com 22 compromissos para eventual segundo mandato; do outro, Lula negou a acusação, feita pelo atual presidente, sobre acabar com a categoria de microempreendedor individual (MEI).

Lula e Bolsonaro chegam às urnas após quatro semanas de intensa busca por apoios. Se, no início do ano, o discurso de parte dos atores políticos era pela construção de uma terceira via, o cenário, agora, é outro. Nomes como a senadora Simone Tebet (MDB-MS) e o senador eleito Sergio Moro (União Brasil-SP), defensores de uma candidatura alternativa à polarização entre PT e PL, optaram por um dos lados e passaram a ser considerados importantes cabos eleitorais.

Terceira colocada no primeiro turno da corrida eleitoral, Tebet explora o espólio de 4,9 milhões de votos, admite nunca ter votado em candidaturas petistas e trabalha para, nas próprias palavras, ser a “avalista” da escolha por Lula. Paralelamente, Moro reforça o discurso antipetista e anticorrupção que baseou sua trajetória política, marcada por idas e vindas na relação com Bolsonaro. Depois de brigas públicas com o atual presidente, ele, agora, é um dos mais importantes auxiliares do candidato à reeleição. Minutos após o debate da “TV Globo”, na sexta-feira (28), foi o ex-juiz que tentou acalmar Bolsonaro após o aliado se enfurecer com a pergunta de um repórter sobre a tentativa de associar uma visita de Lula a traficantes por causa de uma visita ao Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro (RJ).

Pelas redes sociais, Bolsonaro voltou as atenções aos indecisos e apresentou um texto com propostas para o país, como a redução da maioridade penal, fixada em 18 anos, a respeito de crimes hediondos, como estupro e homicídio. “É preciso compreender aqueles que ainda não decidiram e lhes oferecer segurança para que façam a melhor escolha para o futuro da nossa nação. Mais do que promessas vazias e abstratas, o Brasil precisa de um caminho sólido, pautado em ações concretas e, sobretudo, em princípios”, defendeu.

Enquanto isso, Lula compartilhou imagens de seu ato com Haddad em São Paulo e destacou o caráter ampliado de sua campanha. “Somos milhões nas ruas. Somos o povo brasileiro. E com muito amor, contra o ódio, amanhã (hoje) votaremos 13”.

Minas Gerais é front importante

Bolsonaro tem, na ponta da língua, a estatística que atribui a Getúlio Vargas, eleito em 1950, o feito de ser o último a chegar à Presidência da República sem vencer em Minas Gerais. Ciente da importância do estado e impulsionado pelo apoio de Romeu Zema, o presidente fez oito eventos de campanha no estado neste segundo turno. Além das quatro visitas a Belo Horizonte, passou por Juiz de Fora, na Zona da Mata, onde considera ter renascido por causa da facada recebida em 2018, Governador Valadares (Vale do Rio Doce), Uberlândia (Triângulo) e Teófilo Otoni (Vales do Jequitinhonha e Mucuri). Lula também intensificou a presença no estado e, em busca de contrapor a ofensiva governista, fruto da união Zema-Bolsonaro, passou duas vezes por BH. Ele esteve, também, em Juiz de Fora e Teófilo Otoni.

Para tirar a vantagem de 563,3 mil votos conquistada por Lula em Minas na primeira votação, Zema e Bolsonaro escalaram prefeitos e outras lideranças regionais para tentar persuadir eleitores do interior. O presidente chegou a participar, inclusive, de um encontro com gestores municipais em BH. Do outro lado, para conter os efeitos das articulações e preservar o efeito do fenômeno “Luzema” — o voto casado em Lula e Zema —, petistas buscaram estabelecer pontes com associações regionais de prefeitos e pequenos consórcios. O senador Alexandre Silveira (PSD), de bom trânsito com gestores de centenas de cidades mineiras, foi escalado para a tarefa e assumiu o posto de coordenador político de Lula no estado.

No primeiro turno, Lula teve 48,29% dos votos válidos no estado, contra 43,6% de Bolsonaro. Boa parte da diferença entre eles foi preservada segundo o estrato regional da mais recente pesquisa divulgada pelo Datafolha, que apontou liderança de Lula em Minas por 48% a 43% dos votos totais.

Minas deu a ambos, também, peças-chave nas estratégias digitais das campanhas. Do lado lulista, o deputado federal André Janones, do Avante, abriu mão de uma candidatura própria ao Planalto e assumiu o papel de soldado digital do ex-presidente. No núcleo bolsonarista, o deputado federal eleito Nikolas Ferreira (PL), campeão nacional de votos, teve missão similar.

“A eleição de Lula será um marco para virar essa página triste da nossa história, para resgatar o desenvolvimento econômico e as políticas sociais do nosso país, que foram abandonadas pelo atual governo”, falou Alexandre Silveira. “Vamos continuar trabalhando até o último minuto, conversando com as pessoas para podermos comemorar a vitória do Brasil”, completou.

O deputado estadual Bruno Engler (PL), recordista de votos na disputa pela Assembleia Legislativa, adotou tom oposto. “O que se apresenta são duas opções. Um projeto, de Bolsonaro, é sério, honesto e dá resultado. (O presidente) é parceiro de nosso estado. O outro (é) de Lula, maior ladrão da história do país, que defende tudo que há de mais abominável, como liberação de aborto, drogas e ideologia de gênero, assaltou os cofres públicos e ameaça nosso governador de Minas”, opinou. Em que pese a citação de Bruno Engler a aborto e legalização das drogas, as pautas não constam no programa de governo do PT.

Apuração

Doze das 27 unidades da federação vão ter segundos turnos estaduais. Em São Paulo, por exemplo, Fernando Haddad reproduz, contra o bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos), a dicotomia nacional. Na Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT) enfrenta ACM Neto (União Brasil) e, no Rio Grande do Sul, duelam Onyx Lorenzoni (PL) e Eduardo Leite (PSDB). No primeiro turno, todo o eleitorado brasileiro precisou entregar cinco votos à urna. Agora, parte precisará escolher apenas um candidato; outros, somente dois. Isso, além de diminuir o tempo diante das urnas, deve acelerar a apuração.

Segundo o cientista político Alberto Carlos Almeida, autor do livro  “A mão e a luva: o que elege um presidente”, a tendência é que Bolsonaro comece a totalização dos votos à frente de Lula, pois estados do Sul e do Sudeste têm o costume de liderar a marcha da apuração. “Tradicionalmente, e isso vem do voto no papel, o Paraná sempre apurou primeiro. O Paraná gostou e sempre fez questão desse título. Lá, há um voto conservador muito consolidado, onde Bolsonaro vai abrir boa margem”, projetou ele, em seu podcast, o “Bastidor da Política”. Na visão de Almeida, em caso de vitória de Lula, a ultrapassagem do petista deve ocorrer já na reta final da apuração.

Militantes de Bolsonaro e Lula vão às ruas - Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino
Fonte: Estado de Minas

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