MISSÃO ARTEMIS 1: Nasa lança nesta segunda-feira, 29 de agosto, foguete projetado para levar humanos à Lua
A missão Artemis 1 marca o primeiro passo para a retomada da exploração tripulada do espaço profundo pelos Estados Unidos, quase duas décadas após a agência espacial americana receber instruções para tanto.
© NASA
SALVADOR NOGUEIRA / SÃO
PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Nesta segunda-feira (29), após meio século, a
Nasa voltará a lançar um foguete projetado para levar humanos à Lua. A
missão Artemis 1 marca o primeiro passo para a retomada da exploração
tripulada do espaço profundo pelos Estados Unidos, quase duas décadas
após a agência espacial americana receber instruções para tanto.
Batizado
de Space Launch System (Sistema de Lançamento Espacial), ou SLS, o
foguete gigante (98 metros) é um misto de novidade com herança.
Problemático, ele ao menos deixa agora de ser uma miragem. Se tudo
correr bem, seus motores poderão ser ativados às 9h33 (de Brasília) numa
escalada que o levará à órbita terrestre e depois, numa injeção
translunar, impulsionando a cápsula Orion rumo à Lua.
A
janela de lançamento nesta segunda dura duas horas. Caso não seja
possível voar nesta data, há outras reservadas, nos dias 2 e 5 de
setembro. Se passar disso, as coisas se complicam mais, em razão da
certificação do dispositivo de autodestruição a ser ativado caso o
foguete saia do curso previsto.
Dizer
que há incertezas é ser gentil. A Nasa não lança um foguete desse tipo
desde 1973, quando foi lançado o último Saturn 5, foguete responsável
pelas primeiras expedições humanas à Lua, no programa Apollo. (Por
sinal, na ocasião, ele serviu ao transporte de um laboratório orbital, o
Skylab; o último voo lunar com um Saturn 5 ocorreu em dezembro de 1972,
na derradeira missão Apollo 17.)
Ninguém que trabalhe na
agência hoje estava lá. Além disso, o SLS passou por muitas dificuldades
técnicas, programáticas e orçamentárias para chegar à plataforma 39B do
Centro Espacial Kennedy, em Cabo Canaveral, Flórida, de onde deve subir
ao espaço.
Entender o percurso é perceber que o novo foguete
lunar da Nasa já nasceu velho e obsoleto, em parte porque sua gestação
precisou atender a demandas políticas em detrimento de escolhas
técnicas.
Um
passo atrás, dois à frente As escolhas feitas para o SLS parecem hoje
absurdas: um foguete descartável baseado em tecnologias e métodos
originalmente desenvolvido nos anos 1970 para um veículo reutilizável, a
um custo exorbitante (entre US$ 2 bilhões e US$ 4 bilhões por voo) e
com uma cadência de voos modorrenta (é razoável esperar um lançamento a
cada dois anos, embora a Nasa diga que a frequência pode aumentar com o
futuro).
O maior ícone dessa aparente loucura é o uso dos
motores dos ônibus espaciais no novo foguete lunar. Veja bem: os quatro
RS-25 que impulsionam o SLS neste primeiro voo não são meramente
idênticos aos que eram empregados nos ônibus. Eles são os mesmos,
desatarrachados de um veículo antigo em que eles eram usados de novo e
de novo e plugados em outro em que, após apenas alguns minutos de uso,
terminarão no fundo do oceano Atlântico.
Chega a espantar que
algo assim possa ter ido adiante, mas não custa também lembrar que
vivemos neste momento uma revolução na indústria espacial.
Estágios
de foguete para voos orbitais não retornavam e pousavam suavemente até
2015, quando a SpaceX pela primeira vez demonstrou a capacidade com o
seu Falcon 9. Desde então, a empresa de Elon Musk não só tornou a
reutilização do primeiro estágio rotineira como também demonstrou o
Falcon Heavy, um veículo de alta capacidade que não chega a ser tão
poderoso quanto o SLS, mas consegue levar mais da metade da massa que
seu rival público, por no máximo um vigésimo do custo.
E
mesmo essa comparação empalidece diante do próximo veículo de alta
capacidade da SpaceX. O Starship levará mais massa que o SLS, a uma
fração do custo, 100% reutilizável e capaz de voar, pelo menos, dezenas
de vezes por ano. É uma mudança de escala tão absurda que fará o
programa Apollo, responsável por levar humanos à Lua entre 1968 e 1972,
parecer uma brincadeira.
Por ora, contudo, o Starship ainda
tem muito a provar, e o SLS está na plataforma de lançamento. Podemos
ver a missão Artemis 1 como o ensaio não tripulado de um retorno
"vitaminado" à era Apollo.
Embora o foguete em si, na sua
primeira versão (há outras nas pranchetas, mas é duvidoso que se
concretizem), seja menos capaz que o Saturn 5, a Orion voará mais longe
que qualquer nave destinada a transportar humanos jamais foi, a quase
meio milhão de quilômetros da Terra, numa órbita lunar distante.
Além
disso, vai realizar o voo de espaço profundo mais longo de uma nave
tripulada. A mais longa das missões lunares, a Apollo 17, durou pouco
mais de 12 dias. A Orion do Artemis 1, se for lançada mesmo nesta
segunda (29), poderá passar até 42 dias em espaço profundo. Será um
ótimo experimento para medir o nível de radiação a que astronautas serão
submetidos ao voar tanto tempo para longe da Terra.
Se tudo
correr bem nessa longa jornada, o plano da Nasa é realizar a missão
Artemis 2 com astronautas a bordo, em 2024 (embora 2025 já comece a
parecer mais provável, mesmo com tudo mais indo à perfeição). Seria um
voo semelhante, apenas orbitando a Lua, antes de voltar à Terra. O
primeiro pouso estaria reservado à Artemis 3, possivelmente em 2026 ou
2027. Mas isso ainda pende pelo desenvolvimento bem-sucedido do
Starship.
Pela primeira vez, além de vermos mulheres indo à
Lua, teremos não americanos a bordo: os europeus, que desenvolveram o
módulo de propulsão da Orion, têm direito a três assentos em futuras
missões lunares Artemis. E logo ali na esquina, por volta de 2030, os
chineses planejam realizar seu primeiro pouso lunar tripulado. Em
resumo, muita gente deve ir à Lua nos próximos anos.
Tudo isso, claro, ainda é
história do futuro. Mas a essa altura difícil seria imaginar que não
estamos de fato na aurora de uma nova era de exploração lunar tripulada,
após um hiato de meio século. Se a meteorologia e a telemetria
ajudarem, começa nesta segunda (29).
Notícias ao Minuto
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