Dani
Suzuki, Grazi Massafera, Juju Salimeni, Juliana Paes, Gwyneth Paltrow,
Kate Winslet e Monique Evans são algumas das famosas que declararam
publicamente que ganharam peso na quarentena imposta pela pandemia de
Covid-19. E elas não estão sozinhas.
Pesquisa
online feita pelo Instituto Ipsos mostra que o isolamento social trouxe
consequências à forma física das pessoas em 30 países. Levantamento
mostra que 31% dos entrevistados engordaram desde o início da pandemia.
No Brasil, o índice chega a 52%.
O aumento de peso
médio global foi de 6,1 kg enquanto a média no Brasil foi de 6,5 kg. A
pesquisa foi realizada com 22 mil pessoas de 16 a 74 anos, entre 23 de
outubro e 6 de novembro de 2020, e divulgada em janeiro deste ano.
A
analista financeira Cláudia Fragoso, 48, diz que engordou dois quilos
no final do ano e reclama que está difícil de eliminar o peso. "Perdi
oito quilos em 2019 e quatro quilos em 2020. E agora estou com todas as
luzes de alerta acesas."
Membro do programa de emagrecimento
do Vigilantes do Peso, Fragoso afirma que, neste momento de quarentena, é
natural recorrer à comida diante da ansiedade, tristeza e falta de
perspectiva. "Não dá para sair, passear, ver os amigos e estar perto da
família. Para quem tem condições, o entretenimento é comer alguma coisa
diferente, beber um vinho. E tudo isso vem acompanhado de calorias.
Ninguém descontrai com uma saladinha e água com gás."
Ela
afirma que a redução "absurda" dos movimentos do corpo -de uma forma
geral, não só a prática de atividade física- contribuiu para o ganho de
peso. "Não é só deixar de praticar atividade física, é parar de se
movimentar, não temos mais aquela caminhada na hora do almoço, as
escadas, aquela corridinha para pegar o ônibus. Nada."
Fragoso
diz que ainda não se animou a introduzir nenhuma atividade física em
casa, apesar da enxurrada de tutoriais de ginástica e de crossfit que
tem na Internet. "Já não era muito chegada [em exercícios], imagina
agora. A matemática é imbatível: mantendo o mesmo consumo de alimentos e
reduzindo radicalmente a queima, poderia até amargar resultados piores
que esses quilos contra os quais eu venho brigando."
Para a
gerente de relacionamento Dayane Raniel Santos, 38, que ganhou sete
quilos na quarentena, a rotina atribulada de trabalho em home office não
favorece a manutenção de uma dieta equilibrada. Além disso, ela começou
a ficar sem pique para ir à academia de ginástica.
"Não tinha
mais pique para ir à academia. Depois, veio o fechamento e você fala
vou adaptar o exercício em casa, mas você trabalha tanto. Tem o
emocional de cuidar dos outros, que esqueci de mim. Se você não trabalha
o emocional, começa a ficar sem energia", diz.
Na quarentena,
a gerente diz que começou a ter insônia e uma sequência de problemas,
um sinal de que o corpo não estava bem. Ela passou a ficar dias sem ir
ao banheiro e a ter crise de ansiedade, com falta de ar. Após esses
sintomas, ela decidiu fazer terapia e buscar ajuda de um nutrólogo para
controlar o peso.
Santos
diz que o médico a ensinou a controlar a ansiedade, principalmente
durante a TPM (Tensão Pré-Menstrual). "[Ele] me ensinou a pegar um
pedaço de chocolate 85% cacau, fazer uma respiração e ficar cheirando.
Isso vai te acalmando. Depois, coloco o pedaço na boca e começo a chupar
[como bala]."
Ela afirma que está aprendendo com o nutrólogo a
se reconectar com o corpo, comer saudável e diz acreditar que em pouco
tempo conseguirá perder peso. "Estou bebendo bastante água, evitando
suco e tenho certeza de que em pouco tempo vou conseguir perder peso.
Ele [o nutrólogo] me ensinou a olhar a comida com outro olhar e não me
limitar ao treino [atividade física]."
A quarentena também levou o
administrador Bruno Marinho, 31, a ganhar sete quilos em apenas quatro
meses. Ele conta que fazia musculação e, com o fechamento das academias,
parou os treinos. "Eu percebi que a minha barriga estava maior, a roupa
apertada, e que algo estava errado. Eu engordei porque deixei de
treinar, dormia mal e compensei na comida", diz ele, ao recordar pedir
muito fast food à noite, por delivery, e ficou com horário desregulado
de sono.
"Antes, às 22h eu estava dormindo porque treinava às
6h, começava o dia na academia. [A quarentena] desregulou tudo, o médico
disse que eu precisava regular o sono", afirma o administrador, que
ressalta que o teletrabalho ajudou a desregular a alimentação. "A gente
não gosta de monotonia, mas precisa de uma rotina."
Com a
falta de atividade física, ele diz que passou a sentir vontade de comer
mais doce, principalmente após o almoço. Passou a ser fundamental.
"Agora, com um ano de pandemia eu vejo que [o doce] era como se fosse
uma válvula de escape, uma recompensa", diz Marinho, que retomou a
atividade física e procurou ajuda de um nutrólogo para perder peso.
Marinho
diz que regulou o sono e segue uma reeducação alimentar indicada pelo
médico. Ele tem evitado comidas ultraprocessadas até sucos naturais, que
são saudáveis, mas calóricos. "Procurei o médico quando voltei para a
academia e estava fatigado. A disciplina faz a diferença."
A
empresária do setor de turismo Renata Raddi, 44, diz que engordou cinco
quilos durante a quarentena devido a uma mudança drástica na rotina,
uma preocupação com a paralisação dos negócios, ansiedade e insegurança.
Ela afirma que fazia exercícios praticamente quase diariamente, mas não
conseguiu fazer nenhum atividade física em casa após o fechamento das
academias.
"Comecei a comer mais e não fazia exercícios. Antes
[da quarentena], fazia musculação, aeróbico e aula de boxe duas vezes
por semana", diz Raddi, ao ressaltar que contraiu Covid e demorou três
meses para voltar a fazer atividade física. "Tive sintomas leves da
Covid, mas fiquei cansada e, depois disso, fiquei sem treinar, fazer
atividades físicas."
Com a quarentena, a empresária decidiu
passar os dias de semana no sítio, em Porto Feliz (interior paulista), e
voltar para São Paulo aos finais de semana para ver a mãe. "No sítio
faço mais comida, como mais e não tenho muita coisa para fazer. Estou
estudando francês online e montando quebra-cabeça", diz.
Após se
recuperar da Covid, Raddi afirma que começou a fazer uma série de
exercícios funcionais, que fazia na academia, e alguns que assistiu pelo
YouTube. "Perdi dois dos cinco que ganhei na quarentena."
BEM-ESTAR MOMENTÂNEO
O
nutricionista do Vigilantes do Peso, Matheus Motta, afirma que na
quarentena as pessoas começaram a buscar alimentos que dão conforto e
bem-estar emocional. Ele lembra, inclusive, de ir ao supermercado no
início da pandemia e ver a prateleira de leite condensado vazia.
"As
pessoas estavam muito ansiosas e acabaram procurando alimentos que são
ricos em açúcar em busca de um bem-estar momentâneo", diz o
nutricionista, ao recordar também o aumento da produção de pão caseiro.
A
armadilha disso, diz Motta, é resolver os problemas emocionais comendo
doce ou carboidrato. "Tentam resolver uma coisa que estão sentindo com
um chocolate e dizem que estão merecendo comer todo dia. Quando você
para ou diminui [atividade física], isso mexe com o metabolismo. Ao
parar a atividade, tem que ter uma mudança na alimentação."
Motta
recomenda que as pessoas mantenham a rotina que faziam antes da
pandemia -fazer o mesmo número de refeições ao dia e nos mesmos
horários, por exemplo. Para evitar o ganho de peso, ele orienta a
ingestão de alimentos mais saudáveis, como frutas e iogurte desnatado em
vez de um chocolate, hambúrguer ou alimento ultraprocessado, rico em
açúcar e gordura saturada.
Outra estratégia destacada por ele é
se organizar no final de semana para planejar as refeições da próxima
semana. Com relação à fome emocional, Motta diz ser preciso trabalhar a
ansiedade e o estresse -uma dica é parar por cinco minutos, quando
sentir fome, e fazer outra atividade para passar.
"Se a fome
persistir, você recorre à comida, do contrário você vai perceber que não
era fome", afirma. Mas se o objetivo é eliminar o peso conquistado, ele
explica ser preciso uma reeducação alimentar, sem restringir grupos de
alimentos, para não baixar a imunidade e perder a energia. "É preciso
respeitar o seu corpo, o tempo do seu corpo e do organismo."
O
nutrólogo Carlos Eduardo Portela diz que o número de consultas de
pessoas que buscam ajuda para perder peso dobrou em seu consultório
desde o início da pandemia. Ele afirma que o perfil dos pacientes são
homens e mulheres com idade acima de 35 anos que perceberam aumento de
peso.
Portela associa o aumento de peso à mudança da rotina na
vida das pessoas, que abandonaram as atividades físicas e passaram a
comer mais fast food e consumir alimentos ultraprocessados, mais
calóricos e pobres em micronutrientes. "A qualidade dos alimentos
piorou."
A má alimentação, diz o nutrólogo, causa indisposição
ao acordar, com gases e desarranjo intestinal. Ele cita como exemplo as
segundas-feiras, em que as pessoas acordam indispostas porque exageram
na alimentação. "O que eu mais controlo nos meus pacientes é o
intestino, que é um dos principais órgãos do corpo. 90% da serotonina
[regula o humor, o sono e apetite] é produzida no intestino."
Carlos Eduardo Portela alerta
que a qualidade do sono também afeta quem deseja emagrecer. Ele afirma
que dormir pouco atrapalha o emagrecimento porque o sono reparador está
relacionado ao metabolismo, a diabetes e aos hormônios, como cortisol e
grelina (que estimula o apetite). "O corpo é dependente do ciclo
circadiano (sono e vigília), claro e escuro."
Notícias ao Minuto
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