Ao atingir 400 mil mortes, Brasil tem apenas 90 cidades sem óbitos em decorrência do novo coronavírus
Estão livres da marca municípios com até 11 mil habitantes, no interior de 12 estados
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Ao atingir mais de 400 mil mortes em decorrência da Covid-19, o Brasil tem apenas 90 cidades sem óbitos causados pela doença. Estão livres da marca municípios com até 11 mil habitantes, no interior de 12 estados.
Rio
Grande do Norte, Minas Gerais e Tocantins têm os maiores percentuais de
cidades sem mortes. Em todo o país, somente 1,6% dos municípios não
registrou um óbito.
Desde dezembro, no entanto, o coronavírus chegou a
todas as 5.570 cidades brasileiras. Cedro do Abaeté, em Minas, foi a
última a computar ao menos um caso da doença, notificada pela primeira
vez no país em fevereiro de 2020.
Especialistas
explicam que municípios pequenos têm menor circulação da população. Essa
dinâmica social contribui para evitar a propagação do coronavírus.
No
entanto, eles dizem que é provável que venham a ocorrer óbitos em todos
os municípios, em algum momento, em razão do grave quadro
epidemiológico atual e do elevado número de casos no país.
"[Essas
cidades] São pequenas, muito isoladas e não tiveram um volume muito
significativo de casos e, consequentemente, não tiveram óbitos", diz
Diego Xavier, pesquisador do Instituto de Comunicação e Informação
Científica e Tecnológica em Saúde da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).
Xavier,
porém, pondera que a pandemia pode ter impactado o dia a dia nessas
localidades. Dependente de assistência em saúde de municípios vizinhos, a
população pode não ter conseguido atendimento e leito para outras
doenças.
Por enquanto, a análise dos dados exige
cautela, diz Ethel Maciel, pós-doutora em epidemiologia e professora da
Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo). Segundo ela, óbitos podem
ter sido registrados em outra cidade e há risco até de subnotificação
nesses locais.
"Vamos
saber melhor quando fizermos uma análise sobre o excesso de mortes. Nós
analisamos quantas pessoas morreram nos últimos anos e quantos morreram
no período da pandemia. Se estiver muito acima da série histórica do
período, deve ser considerada morte relacionada à pandemia", afirma
Maciel.
Nas cidades ainda sem registros, gestores municipais
temem a ocorrência de mortes, principalmente por causa da falta de
infraestrutura. Em geral, essas são cidades que dependem da rede de alta
complexidade de municípios maiores.
Para evitar esse cenário,
Lilian Pereira de Carvalho Xavier, secretária de Saúde de Bonito de
Minas, no estado mineiro, diz que a cidade investiu em medidas
sanitárias para tentar evitar a disseminação do coronavírus.
Agentes
foram contratados para visitar as casas e orientar a população. Eles
também fiscalizam o comércio. Foi criado ainda um disque-denúncia para
flagrar aglomerações e firmada uma parceria com a Polícia Militar.
Na avaliação da gestora, o fato de 80% da população morar na zona rural também contribuiu para a contenção do vírus.
"Não
fizemos nenhuma mágica, só estamos seguindo as orientações sanitárias e
monitorando para evitar que as pessoas se infectem e que os casos se
agravem. Temos receio de que isso aconteça porque teríamos de recorrer a
outros municípios por não ter hospital na cidade", diz Lilian.
Davi
Cássio Fernandes (PL), prefeito de Riacho de Santana, no Rio Grande do
Norte, destaca que o município segue regras sanitárias definidas pelo
estado. Assim como Lilian, as limitações de equipamentos de saúde
preocupam.
"Nossa cidade não está imune e já tivemos casos de
hospitalização, mas nada grave. Tomamos os cuidados necessários, o que
nos ajuda é a baixa circulação de pessoas de fora da cidade, só temos
uma via de acesso para a rodovia", afirma.
Enquanto há cidades sem registros de morte por Covid, em 3.148 (56,5%) houve mais óbitos em 2021 do que em 2020.
Rondônia,
Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul são os estados com os
maiores percentuais de municípios com essa realidade.
O alto
número de óbitos atinge cidades de pequeno a grande portes. São 11
capitais nessa situação: Belo Horizonte, Manaus, Curitiba, Goiânia,
Porto Alegre, Campo Grande, Cuiabá, Porto Velho, Florianópolis, Boa
Vista e Palmas.
Médico infectologista e professor da Faculdade
de Medicina de Ribeirão Preto da USP (Universidade de São Paulo),
Fernando Bellissimo Rodrigues diz ser esperado o crescimento do número
de mortes em 2021 como resultado do aumento do volume de casos no
período. Em março e abril, a doença alcançou marcas alarmantes no país.
Rodrigues
afirma que há indícios de que a Covid esteja entrando em declínio, mas
evita fazer projeções em virtude de três fatores: comportamento da
população; velocidade da vacinação; e efetividade dos imunizantes contra
a cepa brasileira do coronavírus.
"A princípio esse aumento
de casos é atribuído à cepa P.1, mas ainda não há nada conclusivo.
Estudos in vitro sugerem que as vacinas têm efetividade menor em relação
às novas variantes, mas não nula", diz.
Por isso, de acordo
com ele, todas as cidades deverão manter ações em saúde para segurar a
circulação do coronavírus, inclusive aquelas que ainda não tenham
registrado mortes, a fim de conter o avanço da doença.
"Mesmo com toda a população vacinada, não vamos poder abdicar das medidas sanitárias", afirma Rodrigues.
Notícias ao Minuto
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