terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Emocionante narrativa sobre o ex-prefeito paraibano recentemente assassinado em João Pessoa

O dia em que o então prefeito Expedito Pereira atendeu o pedido de uma criança – por Felipe Nunes

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“Da mesma forma, jovens, sujeitem-se aos mais velhos. Sejam todos humildes uns para com os outros, porque Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes”. Esse foi o conselho do apóstolo Pedro, que se dirigiu aos membros do cristianismo do primeiro século, exortando-os sobre a forma como deveriam viver, em busca da paz e da humildade.

Essa passagem bíblica pode ilustrar muito bem um episódio que ocorreu em Bayeux, na região metropolitana de João Pessoa, há cerca de 20 anos, quando o ex-prefeito da cidade, Expedito Pereira, resolveu ‘acatar’ o pedido de uma criança de apenas 6 anos. Foi humildade em via de mão dupla.

O ano era 1999 e Bayeux vivia um período de efervescência na política. Expedito exercia seu segundo mandato à frente da prefeitura. No campo administrativo, muitas ruas eram calçadas, PSF’s eram construídos e a economia local fluía bem, já que as fábricas instaladas na cidade, de Sisal, funcionavam a pleno vapor. Era uma época de otimismo.

Ao passo em que a cidade pulsava politicamente, uma criança de apenas 6 anos de idade achou que poderia ‘contribuir’ naquele contexto, mesmo sem ter direito ao voto. Parece curioso, mas era daquelas crianças que trocavam a brincadeira própria da idade por uma conversa com as pessoas mais velhas, sobretudo com os idosos.

Numa noite, o pequeno rapaz não descansou enquanto não foi até a casa onde residia o prefeito. Levado por seus pais, ele bateu à porta de Expedito Pereira por volta 8 horas da noite, mas o médico não estava em casa. Ainda não havia chegado da agenda do dia. A criança, então, deixou um recado  com parentes do político: “Prefeito, gostaria de falar com o senhor”, e o número do telefone residencial escrito num papel.

No dia seguinte, as 7 horas da manhã, enquanto o menino ainda dormia, o telefone da residência onde ele morava, tocou. O barulho acordou a casa inteira. Afinal, quem poderia ligar naquela hora da manhã? “Será uma notícia ruim?”, questionaram.

Do outro lado da linha, estava Expedito Pereira: “Por favor, eu quero falar com Felipe, a criança que veio me visitar essa noite. Ele deixou o número do telefone e eu quero ouvir o que ele tem a dizer”. O médico ligara enquanto ainda estava na mesa de casa, tomando café, antes de seguir para a prefeitura.

Naquele início de manhã, eu (criança) e Expedito (o prefeito da cidade) conversamos durante alguns minutos. Expedito falou da felicidade de ‘conversar com uma criança’. O diálogo terminou com “um abraço fraterno do médico da cidade”, como ele gostava de finalizar suas mensagens para o público. Dias depois, encontrou-me pessoalmente.

A criança cresceu, tornou-se adulta e embora tenha deixado para trás a visão romântica da política, teve a oportunidade de exercer efetivamente a cidadania, de forma madura, na condição de eleitor. Enquanto profissional, entrevistou várias vezes aquele senhor que, mesmo com toda a experiência, um dia preocupou-se em ligar para uma criança e ouvir o que ela tinha a dizer. Respondia todas as perguntas, não importava a pauta.

Expedito Pereira, ex-prefeito, médico, sai de cena abruptamente, e de forma lamentável, sem poder se despedir nem mesmo dos seus pacientes, na maioria humildes, atendidos gratuitamente por ele. Expedito morreu, mas deixou um legado, sobretudo de atenção aos mais vulneráveis.

Finalizo, com pesar, a escrita desta narrativa, mas em meio à violência que nos entristece, lembro-me também do que disse o Apóstolo Pedro, na mesma carta em que fala sobre graça, humildade e restauração futura da humanidade:

“Paz a todos vocês que estão em Cristo”.

Fonte: Polêmica Paraíba - Créditos: Felipe Nunes - Publicado por: Felipe Nunes

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