SOZINHOS E SEM ABRAÇOS: Acostumado a contatos físicos nas festas de fim de ano, brasileiros mudam planos do Réveillon
Com o avanço da pandemia do novo coronavírus e a chegada das festas de fim de ano, pode ficar ainda mais difícil para o brasileiro, acostumado a contato físico. Mas se cuidar é preciso
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Nunca antes as pessoas tiveram tanta dificuldade para dar um abraço. Com o avanço da pandemia do novo coronavírus e a chegada das festas de fim de ano, pode ficar ainda mais difícil para o brasileiro, acostumado a contato físico. Mas se cuidar é preciso.
Na sexta-feira passada
(11), o Brasil registrou mais de 180 mil mortes pela Covid-19 e a 6,8
milhões de casos. Com o aumento dos números da doença pelo país, muita
gente já mudou os planos para a virada de 2020 para 2021. Há quem tenha
cancelado viagens e encontros e aqueles que resolveram ficar mais
reclusos, longe de aglomerações e dos próprios familiares.
No
estado de São Paulo, onde festas de Réveillon estão proibidas em bares,
restaurantes e hotéis, o governo pede que as famílias façam celebrações
caseiras que reúnam no máximo dez pessoas - e sem a presença de idosos. A
recomendação também inclui o uso de máscaras e o distanciamento social.
A
influenciadora digital carioca Thaix Alves, 29, pretende passar o
Réveillon apenas come quem mora: o noivo, Fabrício, 26, e a filha,
Lilyan Vitória, 10. "A gente sempre viaja, eu vou ao Rio, passo na praia
de Copacabana, faço churrasco em família. Neste ano mudou tudo. Minha
menina entendeu numa boa. Teve todo um processo durante o ano", diz Thaix, que atualmente mora em Belo Horizonte (MG).
Todos os
planos que ela tinha para este ano foram adiados. "Minha mãe já
teve Covid. Mesmo assim, não dá para bobear. Sempre estive no meio do
povão, mas agora será impossível. Não sabia que iria durar tanto tempo
essa pandemia", diz.
A dentista mineira Fernanda
Fiuza, 41, resolveu cancelar o voo que tinha para Paris, na França. A
ideia era passar o Réveillon bem de frente à Torre Eiffel, mas o
coronavírus não deixou. "Vamos passar em casa mesmo, só eu, meu filho e
meu marido. Também íamos à igreja no dia 31, outro plano alterado", diz
Fernanda, que é casada com o assistente de palco do SBT Liminha. Eles
também terão a companhia dos cãezinhos Bidu e Minie, da raça maltês.
Não
bastasse a mudança de rota, ela ainda teve de passar pela dor de cabeça
de um cancelamento de viagem. Mas não se arrepende. "Foi uma decisão
difícil, a gente se programa com antecedência, mas com pandemia não
podemos arriscar. Sou da área de saúde e mais do que tudo tenho que
reforçar a prevenção."
A modelo e atriz Denise Dias, 31 anos,
decidiu que vai passar o Ano-Novo apenas com a mãe em um resort na
Bahia, seguindo todas as recomendações e protocolos para evitar à Covid.
As duas já contraíram a doença. "É um local mais isolado e tem número
limitado de frequentadores. Como eu já tive a doença, fiz questão de me
certificar de tudo. "
Ela diz que nunca foi adepta de viagens
em grupo no Réveillon. E passar isolada só com a mãe já será o
suficiente para que tenham uma virada bacana. A viagem só não ficará
completa pelo fato de a modelo não poder levar seu pai que, aos 70 anos,
sofre de diabetes e hipertensão.
"Para ele seria maior
exposição. Não vejo o meu pai desde fevereiro. Ele está quase oito meses
em casa. Ele e minha mãe são separados, mas são amigos. Vamos fazer
muita ligação de vídeo para matar a saudade e transportá-lo para o
ambiente que vamos curtir na Bahia". diz. "Quando começou pandemia, eu
não imaginava que este seria o mais diferente Réveillon da minha vida."
SOZINHOS POR OPÇÃO
A
pandemia trouxe muitas lições e reflexões para a atriz paulistana Maria
Aparecida Torlai, 60 anos, que perdeu para a Covid-19 quatro pessoas da
família, além de amigos com os quais tinha mais de 30 anos de amizade.
Ela diz que tudo isso a fez perceber que não é hora de celebrações. E já
avisou aos familiares e ao filho que, na virada para 2021, estará
isolada em casa, fazendo orações.
"Vou passar sozinha por
opção. Tenho minhas irmãs, uma delas em grupo de risco. Às vezes elas
têm um contato a mais com outras pessoas, mas eu não. Estou cumprindo
quarentena como deve ser. Sou atriz de teatro há 38 anos e estou parada.
Você começa a repensar o que é a vida. Não adianta mais estar com
pessoas presencialmente, pois todos nós vamos correr risco", diz Aparecida Torlai,
que só sai de casa a cada 45 dias para fazer compras.
Assim, o
bom e velho celular será seu companheiro de passagem de ano. "Vou fazer
umas ligações de vídeo na hora em que estivermos comendo. Infelizmente
não tenho como receber ninguém. Nem todo mundo tem o cuidado que estou
tendo. Tenho obrigação de me cuidar e cuidar dos outros, pois a vida é
preciosa", afirma a atriz.
"Aquilo que não se aprende pelo
amor, a gente aprende pela dor. A solidão existe para ensinamento
também. O grande lance é Deus. Neste ano ele trouxe ensinamentos, pois o
que não é bênção é lição", completa a atriz, cujo maior desejo é voltar
a beijar suas irmãs. "Réveillon será diferente por causa das pessoas
que eu amo e que não estão mais aqui. Elas deixaram o mundo mais pobre e
o céu mais rico."
O também ator Fernando da Silva Teixeira,
56 anos, natural de Ubá (MG), vai apelar às mesmas videochamadas para estar
mais perto de sua família, que não vê desde janeiro. Morando em São
Paulo desde 1989, ele se considera quase um paulistano, mas sempre viaja
no fim do ano para a sua terra natal.
"Devido
à pandemia e a paralisação da minha profissão, estou sem muito
dinheiro. Vou passar sozinho. Na virada pretendo ficar solitário mesmo.
Fazer uma oração. Tenho interiorizado minhas emoções. Será uma
comemoração mais enxuta, reclusa", diz o ator, que vai comemorar com
algumas taças de um bom champanhe.
E embora a saudade seja
grande, ele afirma que não teme a solidão. "Minha mãe é tranquila e está
conformada. Somos em 13 filhos e só eu e outro irmão estamos em São
Paulo. Mas nem mesmo ele passará o Réveillon comigo", afirma Teixeira,
que negocia com os sobrinhos uma festa virtual em família no Ano-Novo.
FAMÍLIA REUNIDA, MAS SEM ABRAÇO
A
modelo e empresária mineira Núbia Óliiver, 47 anos, é mais uma que,
preocupada com os números da Covid-19 pelo país, decidiu mudar de planos
que havia feito para a passagem do ano. Ela afirma que tinha tudo
programado para fazer um cruzeiro com a filha, de 16 anos, e uma amiga. A
virada aconteceria em alto-mar, mas veio a pandemia. "Pagamos tudo, dez
dias selecionados. Mas cancelamos."
Uma fazenda na região de
Uberada (MG) será o refúgio de Óliiver e alguns familiares para o
Ano-Novo. "Mesmo assim, não é hora de fazer grande festa. Sou mais
cautelosa. Tenho meus pais em grupo de risco. Por ser um lugar aberto,
dá para ter mais distanciamento [entre as pessoas]", explica.
E
por falar em cautela, ela diz que vai evitar até mesmo demonstração de
carinho. "Toda minha família está se cuidando. Minha mãe também não sai
de casa, só agora que ela passou a ter contato com netos e filhos. Mas
não vai ter abraço", afirma. Ela conta que fará novos testes de Covid
antes de se encontrar com a mãe, que tem 60 anos, e com o pai, hoje com
74.
"Temos muito essa coisa de abraçar os irmãos, os sobrinhos, mas,
infelizmente, não podemos. E mesmo que tenha feito exame, posso pegar a
estrada e é um risco levar a doença para dentro de casa. Não está na
hora [de abraçar]. É difícil, mas é preciso segurar a onda."
Notícias ao Minuto
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