Brasil registra aumento de casos de feminicídio durante a quarentena, segundo levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública
Desde
o início das medidas de isolamento social, motivados pela pandemia do
novo coronavírus (Sars-Cov-2), houve um aumento de casos, em todo o
mundo, de violência doméstica. Segundo a ONU Mulheres, foi relatado que,
na China, primeiro país impactado pela pandemia, o número de casos
triplicou.
No
Brasil, porém, o cenário parece ser ainda pior. Apesar de apresentar
queda no em casos de lesão corporal dolosa, o número de mulheres
assassinadas aumentou em 2,2% em relação ao mesmo período do ano passado — o levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública observou 12 estados brasileiros e levou em consideração o período entre março e maio dos dois anos.
“Já
tínhamos a percepção de que os registros iriam cair justamente pela
dificuldade da mulher em acessar equipamentos públicos de proteção, como
delegacias”, afirma a diretora executiva do Fórum, Samira Bueno.
“O
que preocupa mais é que as mortes de mulheres estejam aumentando. Além
disso, há alguns estados em que percebemos uma subnotificação de
feminicídios, como no Ceará, que registrou o dobro de casos de
homicídios de mulheres em comparação com o ano passado, mas somente um
feminicídio a mais. Isso mostra um problema na classificação da
violência de gênero que precisa ser resolvido com urgência.”
Segundo
o estudo, a queda de casos e o aumento de mortes significa um
“indicativo de que as mulheres estão encontrando mais dificuldades em
denunciar as violências sofridas neste período”
O Fórum vem
acompanhando os registros envolvendo violência contra a mulher na
pandemia desde março e já lançou outros dois estudos. O último,
divulgado em junho, indicava um aumento de feminicídios de 22,2% nesses
mesmos 12 estados entre março e abril deste ano em comparação com o ano
passado. O que parece não ser coincidência é o fato de que, nos lugares
com medidas mais restritas, o número de casos é maior.
De acordo
com Samira, alguns estados conseguiram frear a violência doméstica
possibilitando à vítima fazer o registro e pedir uma medida protetiva
pela internet. “Um exemplo é São Paulo, que disponibilizou os serviços
da delegacia eletrônica e teve uma queda no número de feminicídios, de
21 casos em abril para oito em maio.”
Para a diretora executiva,
as quedas nos registros formais de violência doméstica trazem duas
consequências graves. “Primeiro, tem o risco imediato para a mulher que
não consegue chegar na delegacia e pedir uma medida protetiva”, diz. “Em
segundo lugar, há o risco de os gestores públicos pensarem que há menos
casos e, com a escassez de recursos, decidirem fechar os poucos
equipamentos que existem, como delegacias da mulher e casas-abrigo.
Falar de violência doméstica, do ponto de vista do discurso formal, está
na moda, mas infelizmente isso não se traduz nas ações.
IG - Publicado por: Larissa Freitas
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