Busca por advogados para divórcio cresceu 177% no Brasil durante a pandemia do novo coronavírus
Levantamento do Google mostra que o Brasil se une a países como China, Itália, Portugal e Austrália quando o assunto são os números sobre separação de casais
Os
pedidos de divórcio cresceram na pandemia. Isso é fato. Conviver de
maneira tão intensa sufoca até os casais mais apaixonados. Amor também
precisa de trégua, de respiro. Mas como faz em tempos de pandemia? Em
que a única possibilidade de respiro é cada um se manter num cômodo
diferente da casa. Ou pelo menos tentar.
A expressão “confinados entre quatro paredes” parece nunca ter feito
tanto sentido. Países como China, Itália, Portugal e Austrália se juntam
ao Brasil quando o assunto são os números sobre separação de casais.
Segundo levantamento do Google para a revista Pais&Filhos, em março,
o site de buscas registrou aumento de 82% na pergunta “como dar entrada
no divórcio?”. Enquanto em abril, houve um salto de 9900% no interesse
de buscas pelo termo “divórcio online gratuito”.
E
como vai seu casamento na pandemia? Será que todo casamento está ruindo
nesta quarentena? E a culpa é de quem, da pandemia? Em cartaz no
Netflix, desde o final de 2019, o filme Histórias de um Casamento já
rendeu muito artigo e matéria sobre o assunto e é quase impossível não
se voltar a ele para falar sobre as relações amorosas.
Para quem é casado, ou vive uma relação estável, o filme traz a pausa
necessária para reflexões, do começo ao fim. Aliás, o começo traz o fim
de uma história. E quando é o começo do fim? É preciso viver uma
relação para saber. O casal protagonista do filme aparece lendo a carta
que um escreveu ao outro, em que dizem muitas das coisas que não foram
capazes de dizer ao longo da relação.
O filme fala de comunicação – ou a falta dela. Das coisas que ela
provoca. Das mensagens que a gente envia e recebe, dia a dia, mas com
uma falta de percepção gigantesca da fala do outro. A dificuldade em
falar e ouvir o que não vem da gente mesmo fica escancarada em muitas
cenas do filme e, de novo, faz a gente refletir sobre as relações.
“Foi quando eu percebi que ele não me via de verdade”, é uma das
falas da atriz Scarlett Johansson, no papel do filme. E quando o outro
nos vê de verdade? Que verdade é essa que a gente transparece nas
relações que estabelecemos vínculos? O filme traz mais perguntas que
respostas. E é ambígua a beleza e tristeza das relações significativas
que muitas vezes se desperdiça, se deixa ruir.
E o que tudo isso tem a ver com a pandemia? Talvez a pandemia seja o
começo de muitos fins. Talvez ela seja a janela de muitas relações que
já tinham terminado, mas sobreviviam. Como a gente tem sobrevivido a
muitas coisas. Porque quando a vida lá fora nos dá pouca oportunidade de
distração é preciso voltar-se a si mesmo e ao entorno. Não há fuga.
Não há fuga para os muitos não ditos. A falta de comunicação
desorganiza as relações. E os contratos que não andavam muito claros sem
rompem. Con.trato – a gente precisa aplicá-los com mais trato. Com mais
gentileza. A palavra que tem nela um trocadilho entre dureza e cuidado
gera entroncamento, gera rupturas. São as quebras de contratos.
Mas a gente esquece que contratos precisam ser refeitos a todo
momento. Contratos ficam velhos, caducam ao longo do tempo. E con.tratos
garantem a saúde das relações. Não aqueles que se assina em cartórios.
Aqueles são os contratos sociais. Estes, aliás, são os responsáveis pela
permanência de muitos casamentos. Quando socialmente não se permite a
ruptura de pactos, vive-se a custas deles em troca de algo.
Só que a gente precisa compartilhar as expectativas que estão neste
contrato. Nesse combinado que os casais fazem, ou que supostamente
deveriam fazer. Porque precisa ter a participação de ambos pra não ser
imposição. “Combinado não. Eu não combinei nada”. Quem nunca?
Expectativas fazem parte das relações, sejam elas quais forem. Sempre
se espera algo do outro e isso não seria diferente num casamento.
Porque é assim. A gente espera coisas na vida e espera também do outro. E
não tem nada de errado nisso. Mas precisa ser falado, comunicado e
combinado. Feito quem estabelece parceria. Dai a palavra parceiro.
“Não é o amor q sustenta um casamento”, fala a psicóloga Rosely
Sayão, durante o encontro do Pausa Para Prosa, há duas semanas atrás. “O
amor talvez seja o 1ª passo de aproximação entre as pessoas.
Inicialmente. Mas depois ele não sustenta a relação e a justificativa
passa a ser ‘eu não amo mais’. Ninguém deixa de amar assim. O que
sustenta é o respeito, diário. Depois a parceria. E ter projetos de vida
em comum. Algum projeto tem que ter para além dos filhos”, fala.
Nem todo amor não é incondicional. Alguns são condicionais a
muitas coisas, a muitos combinados. E o “até que a morte os separe” já
caiu por Terra. Sociedade e Igreja não seguram mais casamentos. Precisa
de vida, juntos. Precisa de cumplicidade, de companheirismo. Da tal
parceria. A gente precisa rediscutir as relações antes que elas cheguem a
ruir.
Paraíba Já - Do blog da Carolina Delboni
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