Presidente Jair Bolsonaro demite Mandetta do Ministério da Saúde; Nelson Teich assume a pasta
Pressão da "ala ideológica" e insistência do ministro em seguir orientações da Organização Mundiak de Saúde irritaram o presidente
Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, durante entrevista coletiva em Brasília 03/04/2020 - REUTERS/Adriano Machado
Foto: Reuters
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Apesar do trabalho aprovado por 76% da população, de acordo com uma
pesquisa do Instituto Datafolha, durante a crise do coravírus, o
ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, foi demitido nesta quinta-feira (16) pelo presidente Jair Bolsonaro.
O próprio ministro confirmou a informação através do Twitter. "Acabo de
ouvir do presidente Jair Bolsonaro o aviso da minha demissão do
Ministério da Saúde. Quero agradecer a oportunidade que me foi dada, de
ser gerente do nosso SUS, de pôr de pé o projeto de melhoria da saúde
dos brasileiros", escreveu Mandetta. A exoneração de Mandetta e a
nomeação de Teich já foram publicadas no Diário Oficial da União.
Mandetta começou a incomodar Bolsonaro desde o início da epidemia do
novo coronavírus no Brasil. De acordo com interlocutores do Planalto, o
presidente se incomodou com o fato de o chefe da pasta da Saúde estar
"tomando seu protagonismo". No entanto, o grande racha entre os dois
aconteceu após Bolsonaro ignorar as recomendações da Organização Mundial
da Saúde (OMS) e clamar pela "volta à normalidade" em um pronunciamento
oficial. A gota d'água também teria sido a entrevista de Mandetta ao
Fantástico no último domingo (12) em que defendeu uma "fala única" do
governo. Desde o início da crise, o presidente brasileiro defendia o fim
do isolamento e argumenta que as consequências na economia por conta da
paralisação seriam ainda mais graves que as da pandemia.
Acabo de ouvir do presidente Jair Bolsonaro o aviso da minha demissão do Ministério da Saúde.
Quero agradecer a oportunidade que me foi dada, de ser gerente do nosso SUS, de pôr de pé o projeto de melhoria da saúde dos brasileiros e
Por diversas vezes, o capitão da reserva fez questão de minimizar a
doença, chamando a Covid-19 de "gripezinha" e culpando a imprensa por
uma suposta "histeria" em torno do tema. A crise ainda agravou ainda
mais a relação do governo com os governadores de Estado, em especial
João Doria, de São Paulo, e Wilson Witzel, do Rio de Janeiro, antigos
aliados de Bolsonaro.
Entre alguns recuos, o presidente brasileiro acabou mantendo sua
posição, indo na contramão do resto do mundo, incluindo de líderes de
direita, como o norte-americano Donald Trump e o britânico Boris
Johnson, que reconheceram os perigos da pandemia. Mandetta também chegou
a recuar, criticando a imprensa e dizendo que alguns governadores
estariam "exagerando" com os decretos de quarentena. No entanto, acabou
ficando do que chamou de "lado da ciência" e defendeu as quarentenas,
irritando ainda mais Bolsonaro, que afirmava que governadores e
prefeitos defendem o isolamento social para prejudicar e economia e,
consequentemente, o governo federal.
Após uma série de conversas mais ríspidas, com o ministro inclusive
colocando o cargo à disposição em uma discussão no último dia 3, o
presidente se reuniu com aliados e determinou a queda de Mandetta, o que
acabou não acontecendo naquela semana. A maior pressão pela saída de
Mandetta surgiu da chamada "ala ideológica" do governo, que tem como
representantes os ministros Abraham Weintraub, da Educação, e Ernesto
Araújo, das Releções Exteriores, além Carlos e Eduardo Bolsonaro, filhos
do presidente.
O oncologista Nelson Teich, que se reuniu com Bolsonaro na manhã desta
quinta-feira, deve ser o escolhido para assumir o cargo. Teich se
reuniu com o presidente pela manhã, quando, segundo interlocutores do
Planalto, causou boa impressão. O médico foi consultor da área de saúde
na campanha de Jair Bolsonaro, em 2018, e é fundador do Instituto COI,
que realiza pesquisas sobre câncer. Teich teve o apoio da classe médica e
contou a seu favor a boa relação com empresários do setor da saúde. O
argumento pró-Teich no Ministério da Saúde é o de que ele trará dados
para destravar debates "politizados" sobre a Covid-19.
Em artigo publicado no dia 3 de abril em sua página no LinkedIn, o
escolhido para a Saúde critica a discussão polarizada entre a saúde e a
economia. "Esse tipo de problema é desastroso porque trata estratégias
complementares e sinérgicas como se fossem antagônicas. A situação foi
conduzida de uma forma inadequada, como se tivéssemos que fazer escolhas
entre pessoas e dinheiro, entre pacientes e empresas, entre o bem e o
mal", afirma ele no texto.
Terra
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