Casos de novo coronavírus devem começar a crescer exponencialmente no Brasil
Diante
de uma projeção de aumento de casos do novo coronavírus nas próximas
semanas, o Ministério da Saúde pediu a cinco hospitais filantrópicos de
excelência no país que usem recursos e pessoal envolvidos hoje em
projetos desenvolvidos no SUS no enfrentamento da epidemia.
O
Brasil registra 34 casos confirmados de infecção. No pior cenário, a
previsão do ministério é que em até duas semanas e meia, o país tenha
aumentado exponencialmente os registros, que se manteriam em um platô
por mais oito semanas.
Nesse
período, o governo estima um grande aumento da demanda por atendimento
hospitalar, ainda mais levando em conta a possibilidade de o momento
coincidir com o pico de casos de gripe por influenza.
A projeção
foi descrita pelo ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, em reunião
na última segunda-feira (9), em Brasília, com gestores de cinco
hospitais: Sírio-Libanês, Albert Einstein, Oswaldo Cruz e Hospital do
Coração (HCor), de São Paulo, e Moinhos de Vento, de Porto Alegre.
As
cinco instituições convocadas para a reunião integram o Proadi
(Programa de Apoio e Desenvolvimento Institucional do SUS), o maior
projeto público-privado na área da saúde no país. Existente desde 2009,
ele atua em várias frentes, de capacitação pessoal à assistência
especializada.
“Foi pedido para
que fiquemos atentos à curva de aumento de casos, nos resguardarmos de
estrutura e pessoas e redirecionarmos os recursos do Proadi, durante a
crise [do coronavírus], para projetos de atendimento e suporte dos
hospitais públicos”, diz o médico Paulo Chapchap, diretor-geral do
Sírio-Libanês.
Um dos projetos do Proadi é o “Lean nas
Emergências”, que tem a meta de sanar o problema de superlotação e o
longo tempo de espera nas emergências do SUS. Neste ano, cem hospitais
públicos devem participar do projeto. Outros 59 já passaram por
treinamentos.
“Naqueles hospitais onde estou fazendo o ‘Lean’, vou
dar suporte para que as emergências consigam absorver o grande número
de casos da epidemia”, explica o diretor.
Outro projeto que deve
estar envolvido na contenção da epidemia, por meio da telemedicina, é o
“Saúde em Nossas Mãos”, que tem como objetivo reduzir casos de três
tipos de infecções hospitalares em 119 instituições públicas do país.
“Vamos
fazer o que for necessário. Os ‘gaps’ [brechas] vão aparecer, as
necessidades vão ficar claras se epidemia vier na intensidade vista nos
outros países. O ministério vai nos apontar as necessidades e a gente
vai tentar ajudar.”
Segundo Ana Paula Marques de Pinho,
superintendente de Responsabilidade Social do Hospital Oswaldo Cruz, a
ideia é que as instituições ligadas ao Proadi usem a capilaridade dos
projetos que já estão em curso no SUS.
“Você estende o mesmo nível de controle, a mesma lógica do privado, e o conhecimento fica mais equânime.”
O cenário leva em conta a possibilidade de que nas próximas semanas o país já tenha transmissão comunitária do novo coronavírus.
“Os
primeiros casos contaminaram de duas a três pessoas. Agora a progressão
é geométrica, não tem jeito. É um para dois, dois para quatro, quatro
para oito, oito para 16. A gente espera que a situação seja menos grave
no Brasil por causa do clima, mas temos obrigação de estarmos preparados
para o grave”, afirma Chapchap.
Segundo o diretor do Sírio
Libanês, a orientação é que, caso o pior cenário se confirme, cirurgias
eletivas (como de hérnias, vesícula, quadril, joelho entre outras) sejam
adiadas para que os leitos fiquem reservados às vítimas de coronavírus.
“Numa hora de estresse, são procedimentos que podem ser adiados sem prejuízo aos pacientes”, diz Chapchap
Outra
preocupação é com a proteção dos profissionais de saúde, mais
suscetíveis à contaminação. No Irã, 40% dos profissionais de saúde se
infectaram.
Na Itália, até profissionais não treinados, como
bombeiros e pessoal do exército, estão ajudando no atendimento de
pacientes. O país registra a maior taxa de letalidade até agora: 5%.
“A
mensagem é: vamos nos preparar para o pior para evitarmos sustos. A
gente não quer subsestimar a situação. Se não acontecer, ótimo, vamos
celebrar”, diz ele.
No Sírio-Libanês, eventos já foram cancelados e médicos proibidos de viajar de avião, inclusive no Brasil.
“Você
entra num avião e não sabe quem tem e quem não tem [o coronavírus]. Se
eu ficar sem o profissional, fico sem conseguir atender os pacientes”,
afirma o diretor.
Fonte: UOL - Publicado por: Larissa Freitas
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