Romancista da Paraíba retrata saga de Pedro Jeremias, um suposto cangaceiro do bando de Lampião


Entre os séculos 19 e meados do 20, um tipo específico
de banditismo se desenvolveu no sertão nordestino: o cangaço. Os
cangaceiros saqueavam fazendas, povoados e cidades, impunemente e
impondo sua própria lei à região em que atuavam. Um dos mais famosos
cangaceiros do clamado ciclo do banditismo, foi Virgulino Ferreira, mais
conhecido como Lampião. As últimas horas de Lampião, e o surgimento de
um novo líder foi retratado pelo escritor paraibano Efigênio Moura na
trilogia do cangaço “Pedro Jeremias”.
A saga começa no Sertão de
Alagoas no ano de 1938. Naquele ano, o ciclo do banditismo estava em
alta. Em meio a triunfos e embates, a saga de Lampião, o mais conhecido
cangaceiro brasileiro, chega ao fim. Virgulino Ferreira da Silva e parte
de seu bando morreram na Grota de Angicos, no sertão sergipano, depois
que uma força volante descobriu onde eles estavam acampados. Naquele
fatídico 28 de julho,segundo o romancista paraibano, Pedro Jeremias
assistiu das margens do Rio São Francisco todo o massacre de longe, ao
lado do temível Corisco, inclusive, o cortejo macabro realizado com as
cabeças dos cangaceiros, que percorreram cidades e vilarejos, sendo
expostas para visitação pública.
Esse é o enredo inicial de uma ficção que se apresenta em três livros e tendo Pedro Jeremias como nome principal da trama.
Com
a morte do líder, Pedro Jeremias, no comando de seu grupo resolve parar
com aquela vida, mas somente entrega suas armas a Padre Cicero e
passa a percorrer vários sertões tentando chegar no ‘Joaseiro do
Cariri’. Pedro Jeremias é o personagem fictício da trilogia escrita pelo
paraibano de Monteiro, Efigênio Moura, ambientado no cangaço pós
Lampião.
Os livros publicados com o selo das edições Eita Gota e
Leve atingem um total de oito publicações do escritor Efigênio Moura. A
obra mistura ficção e realidade numa linguagem tipicamente da região e
riqueza cultural inestimável. Pedro Jeremias teria chegado atrasado a
uma reunião marcada por Lampião com os seus subchefes, José Sereno,
Labareda e Corisco, e apenas ouvido os estopidos que dizimaram o bando.
Embora
comece em 1938 na Fazenda Emendadas, Pão de Açúcar em Alagoas, a
história ganha destaque no ano de 1935, na cidade de Bonito, na Zona da
mata de Pernambuco, precisamente na Fazenda Serra Verde, quando o
agricultor Paulo Rubem mata um policial, batizado pelos cangaceiros
de“macaco”, e desperta os olhares de Lampião.
Paulo
Rubem que ao entrar para o bando adota o nome de Pedro Jeremias, vive o
auge do cangaço quando o bando de Virgulino Ferreira ainda espalhava
medo e derrame de sangue nos sertões nordestinos. A população vivia
aterrorizada. Os ataques de Lampião e seu bando eram sempre cruéis. Em
meio ao clima seco e hostil da região, Lampião estava se preparando para
mais um ataque, e .o alvo desta vez seria a cidade de Bonito (PE).
Só
que a pedido de Pedro Jeremias, Lampião desiste de invadir a cidade.
Mais um ataque sanguinário foi evitado. Aliás, evitar o ataque a Bonito
foi a condição de Pedro Jeremias para se juntar ao bando e se arriscar
nos combates com as “volantes”. Efigênio observa que a tentativa de
Lampião de invadir Bonito foi fictícia, já que a região não era um
terreno favorável para os cangaceiros, que só sabiam andar na caatinga.
Ambientado
no ano de 38, ano da morte de Lampião, o livro percorre os sertões de
Alagoas e Pernambuco e encerra-se em Alagoa de Baixo, atual Sertânia,
região do Moxotó. “Pedro Jeremias” tem sangue, a coragem e as
indumentárias de cangaceiro. Em sua trajetória, se tornou um dos
cangaceiros mais fiéis a Virgulino Ferreira. O livro é uma cachoeira de
datas, de momentos que marcaram a saga do cangaço na região no século
passado. Fatos históricos enriquecem o enredo, como a criação do
primeiro campo de concentração do mundo, em Fortaleza em 1915; a Quebra
de Xangó em Maceió em 1912 entre outros eventos.
Para elaborar a
história dá vida a seus personagens, o escritor realizou uma pesquisa de
seis anos sobre traços históricos e linguísticos da época. “A
geografia e a oralidade do livro são de 1938.
O encontro entre
Pedro e Lampião resulta no “cangaço refúgio”, no qual a pessoa entrava
para o bando para não ser perseguida pelas autoridades. Um dos destaques
da obra, é o romance inevitável entre Pedro Jeremias e Maria de Jesus. O
romance se torna ainda mais complicado devido à perseguição iniciada
por um parente do policial que o protagonista matou.
“Mesmo já
tendo mulheres no bando, ele não quer levar Maria para salvaguardar a
vida dela. Quando ele manda buscar ela, arruma uma maneira para trazer
ela para junto dele e aí também é outra peleja que tem dentro do livro”,
pontuou.
No primeiro livro, o Efigênio narra a formação do bando
de Pedro Jeremias, a fuga das “volantes” com destaque para perseguição
do capitão Miguel Eugênio, que também é um personagem fictício.
“O
que temos de verdade nessa história, são os combates que aconteceram
com Lampião e eu coloco os meus personagens naqueles combates. É verdade
também a geografia e a oralidade da época” destacou.
A história
de Pedro Jeremias ganhou vida e inspirou um curta-metragem, gravado em
Cabaceiras, no Cariri da Paraíba. O filme dirigido pelos cineastas
paulistas Antônio Fargoni e Tiago Neves, e .protagonizado pelo
jornalista Hipólito Lucena, foi realizado em forma de literatura de
cordel.
2º Livro – “Pedro Jeremias dentro dos Cariris Velhos”. A
Saga continua. O segundo livro da trilogia, editado pela editora de
Campina Grande, Leve Editora, foi ambientado em Monteiro de 38 e
cercanias, terra natal do autor. Começa com o cerco da política na casa
de Isabel Torquato na tentativa de prender Maria de Jesus. O bando
inicialmente formado por 4 cangaceiros, foi refeito nesse novo livro,
devido ao aumento do cerco policial.
Na fuga das volantes
especialmente, a peleja com o capitão Miguel Eugênio, Pedro Jeremias
percorre o Cariri, atravessa o Sertão da Paraíba. Entre a ficção e os
romances históricos, parte da peleja acontece em, São Sebastião de
Umbuzeiro, Prata, Ouro Velho, Amparo, Camalaú e São Thomé que hoje é
Sumé. No segundo livro, lançado em 2019, o autor procurou explorar a
religiosidade e as crendices da região como as histórias do “corpo
fechado” entre outros elementos culturais do povo nordestino. Um dos
destaques da obra, é crescimento da Polícia Militar da Paraíba entre os
anos de 38 e 39 e as estratégias do coronel José Vasconcelos para
sufocar o cangaço.
Traz citações a Guerra de Doze entre Augusto
Santa Cruz e o governo da Paraíba, a fuga pelo Cariri paraibano e
volantes no seu encalço não impedem de Pedro Jeremias de ter uma folga
para ‘fechar o corpo’. É outra situação do livro: o misticismo, a
religiosidade, as crenças, a fé inabalável e os encantos. No segundo
livro a força da mulher nordestina é explicitada através de personagens
que viveram a rigidez do cangaço sem demonstrar inferioridade ou inteira
submissão.
O segundo livro foi lançado em 2019, pela Editora Leve.
A história encerra com a perseguição das volantes em torno do bando e mais uma escapatória do cangaceiro.
3º Livro – “Pedro Jeremias nos Cariris Novos”. A saga de Jeremias terá o
fim no terceiro livro da trilogia que terá um caráter mais político.
Efigênio aproveitou o enredo para mostrar como os coronéis usavam os
cangaceiros em favor próprio, beneficiando-se da lei do bacamarte e do
fuzil. O livro será lançado no primeiro semestre de 2020.
A
história se passa entre Misericórdia, hoje Itaporanga, e Piancó, no
Sertão da Paraíba. Naquela região, aconteceu o célebre ataque ao bando
de Lampião. Nessa fase, a presença da Polícia Militar é mais forte,
dentro dos combates com os cangaceiros, trazendo os resquícios de 1930
na Guerra de Princesa.
Nos embates de Pedro Jeremias com a
polícia, o autor transporta o personagem principal para as terras do
Ceará. Nesse novo solo, ele relata a vida dos beatos e romeiros e o
sentimento de Juazeiro e dos Romeiros, pós morte de padre Cícero.
A
ideia de Efigênio é contar no 3ª livro, o sentimento dos nordestinos
pós Lampião que culminou com o fim do cangaço em 1940 com Corisco. O
último livro fala de ambientes históricos como as guerras de Canudos e
do Caldeirão de Santa Cruz do Deserto, relata o luto do dia da morte de
padre Cicero, traz respingos da Guerra de 30 em Princesa Isabel, mostra
como a política se utilizava do cangaço e a força da policia Militar da
Paraíba no combate ao banditismo. Editado pelo Leve, o livro contará com
quase 400 páginas.
O fim de Pedro Jeremias -que já escapou de duas emboscada, só se vai saber ao adquirir o livro.
O terceiro livro tem lançamento previsto para o primeiro semestre deste
ano. Todas as capas da trilogia foram feitas pelo jornalista e
cartunista Júlio Cesar Gomes.
Natural do Cariri paraibano,
Efigênio Moura tem a verve do povo nordestino e se aproveita de sua
terra para extrair a riqueza do lugar e dá vida a seus personagens. Em
sua obra ele busca valorizar o regional e as coisas do Cariri paraibano,
numa linguagem típica da região.
O escritor romancista é autor de
oito livros, lançados a partir de 2009, e que têm como cenário a
Paraíba, sendo esses “Eita Gota! Uma viagem paraibana”, “Ciço de Luzia”,
“Santana do Congo”, “Caderneta de Fiado” que está esgotado, “Apurado de
Contos” e Pedro Jeremias ( trilogia). O livro Ciço de Luzia teve
tradução para o inglês publicado em 2019.
Severino Lopes - PB Agora
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