Voto de protesto: Rinoceronte Cacareco como vereador de São Paulo, macaco Tião candidato à Prefeitura do Rio de Janeiro e prefeito mosquito em Vila Velha
Bem colocado. Macaco Tião, símbolo da rejeição aos candidatos à Prefeitura do Rio de Janeiro, em 1988: entre os 12 concorrentes, ele ficou em terceiro lugar - Cezar Loureiro 01/07/1988 / Agência O Globo
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A maneira jocosa de os eleitores brasileiros lidarem com a frustração na
política e nos políticos votando em animais, especialmente os de
zoológico, vem de muito longe.
Além dos inúmeros relatos de
fraudes, as cédulas eleitorais de papel protagonizaram os maiores micos
da política brasileira e deram espaço aos insatisfeitos para eleger
candidatos bizarros. Nasceu assim, em 1959, o voto de protesto, que
colocou o Rinoceronte Cacareco como vereador de São Paulo. Anos depois,
em 1988, o macaco Tião ficou em terceiro na disputa pela prefeitura do
Rio de Janeiro.
Rinoceronte Cacareco
O rinoceronte Cacareco foi
destaque na imprensa após ser emprestado por seis meses pelo Rio de
Janeiro para a inauguração do Zoológico de São Paulo, em 1959. Segundo
os jornais da época, o sentimento de insatisfação com políticos e
candidatos a vereadores da capital paulista dominava a população.
Reprodução/Folha da Manhã
Reprodução do jornal Folha da Manhã sobre a candidatura de Cacareco, em 1959
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Como uma brincadeira, o
jornalista Itaboraí Martins do jornal “O Estado de São Paulo” lançou a
candidatura do rinoceronte, que era fêmea, apesar do nome masculino.
Milhares de cédulas eleitorais foram impressas em gráficas com o nome do
bicho como parte da intervenção. E o resultado foi estrondoso. Cacareco
conquistou quase 100 mil votos nas eleições.
Um fato interessante é que o rinoceronte
não conseguiu comemorar a vitória nas urnas porque dois dias antes da
eleição foi devolvido às pressas ao Rio. A curiosa eleição foi parar nas
páginas da revista norte-americana “Time”, que deu ênfase para as aspas
de um eleitor: “É melhor eleger um rinoceronte do que um asno.”
Macaco Tião
Anos depois, em 1988, o jornal
“O Planeta Diário” e a revista “Casseta Popular” lançaram no Zoológico
do Rio de Janeiro, na zona norte, a candidatura do chimpanzé Tião à prefeitura da cidade. Os profissionais promoveram uma grande festa para
libertar “o último preso político”. Cantores da MPB, como Ed Motta,
fizeram até um show de lançamento da candidatura do macaco como protesto
já que o Brasil enfrentava um importante período de transição
democrática pós-ditadura.
Reprodução/O Globo
Macaco Tião virou celebridade no Brasil e estava presente nas páginas dos jornais
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Antes mesmo da candidatura
inusitada, Tião ganhou fama pelo seu temperamento ruim. Chamado de
mal-humorado, ele foi parar nas páginas dos jornais após atirar fezes e
lama nos visitantes do zoológico – até o ex-prefeito Marcello Alencar
foi alvo do animal.
Estima-se que o Macaco Tião tenha
recebido naquele pleito mais de 400 mil dos votos dos eleitores,
alcançando o que seria equivalente ao terceiro lugar entre 12
candidatos. Com 1,52 de altura e 70 kg, ele virou uma celebridade no
Brasil. E o feito foi parar no “Guinness World Records” como o chimpanzé
a receber mais votos no mundo.
Tião morreu de diabetes em 23 de
dezembro de 1996, aos 34 anos. Foi decretado luto oficial de três dias
no município do Rio de Janeiro.
Prefeito mosquito
No final dos anos 80, a cidade de Vila
Velha (ES) enfrentou uma invasão de Aedes Aegypti, o mosquito
transmissor da dengue. Com as eleições municipais chegando, moradores
encontraram uma oportunidade para protestar contra a ineficiência do
poder público, que não conseguiu evitar o aumento dos focos de mosquito
na cidade.
O dia 14 de dezembro de 1987 ficaria
marcado então como um dos maiores micos da política pela bem sucedida
candidatura do “mosquito” à Prefeitura de Vila Velha. Ao todo, o nome do
candidato inusitado foi escrito por 29.668 eleitores nas cédulas
eleitorais depositadas nas urnas. Os outros candidatos, Magno Pires da
Silva e Luiz César Maretto Coura, conquistaram 26.633 e 19.609 votos,
respectivamente.
Apesar do favoritismo, “mosquito” teve
todos os votos anulados pela Justiça Eleitoral do Espírito Santo, que
proclamou o segundo colocado como prefeito de Vila Velha. Silva tomou
posse no dia 18 de dezembro do mesmo ano e mostrou que entendeu o recado
das urnas, promovendo ações de combate à doença. O caso foi divulgado
pela imprensa como a mais surpreendente manifestação política do Estado.
Fonte: iG
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