SÍFILIS NO CARNAVAL: cuidado com a epidemia silenciosa que deixa rastros terríveis após os quatro dias de folia
Carnaval
chegou e junto com a folia, cresce a preocupação com infecções
sexualmente transmissíveis (IST). A sífilis, uma das grandes
representantes deste grupo, vem sorrateiramente na fase primária,
podendo se manifestar como uma lesão no pênis/vagina, que logo depois
desaparece e deixa a sensação de que tudo está resolvido, porém o que
muitos pacientes não sabem é que esta falsa resolução é apenas uma pausa
para as próximas etapas de manifestações.
Os
quatro dias de folia terminam, mas a doença deixa rastros terríveis. No
Brasil, os dados assustam, em outubro de 2016, o Ministério da Saúde
reconheceu que a situação estava em níveis alarmantes e decretou a
epidemia de sífilis. Como chegamos a este ponto e quais as estratégias
para frear o Treponema?
Infecção por sífilis

Em
comparação ao ano de 2017, observou-se aumento de 25,7% na taxa de
detecção em gestantes, 5,2% na incidência de sífilis congênita e 28,3%
na incidência de sífilis adquirida. O número de óbitos por sífilis
congênita foi de 241 casos em 2018, maior que em relação a 2017, quando
foram registrados 206 casos.
Ver o
crescimento absurdo nos números da doença soa até contraditório quando
pensamos que o tratamento é tão simples e barato: penicilina benzatina.
Então como o Brasil conseguiu ser alvo de uma epidemia tão facilmente
curável? A queda no uso de camisinhas surge como uma questão importante,
mas parece não justificar estes números por completo. Um fato que chama
bastante a atenção é o desabastecimento global da penicilina.
Em
janeiro de 2016, um levantamento feito pelo Ministério da Saúde indicou
que 60,7% dos estados relataram falta de penicilina. Os baixos estoques
do medicamento afetam, principalmente, a rede pública de saúde do
Brasil. Uma das causas para este cenário é justamente o que seria a
maior qualidade da penicilina, o fato de ser um produto barato, e não
estar gerando lucros significativos para os fabricantes.
Outro
ponto que pode ter pesado a favor da disseminação da doença era
proibição (até julho de 2015) da aplicação do medicamento pela equipe de
enfermagem de locais que não estivessem equipados para evitar um choque
anafilático. Na prática, se o posto de saúde não tivesse material para
uma entubação, por exemplo, não poderia medicar portadores de sífilis.
Como frear o Treponema pallidum?
Para
driblar esta questão do desabastecimento dos antibióticos, o Ministério
da Saúde passou, em 2016, a centralizar as aquisições dos produtos para
garantir o acesso da população aos medicamentos. A compra, na
realidade, era de responsabilidade de estados e municípios, porém entes
federativos isolados estavam com dificuldades em adquirir o remédio.
Entre 2016 e setembro de 2017, foram entregues 2.175.000 frascos-ampola
de penicilina benzatina.
Outra
mudança realizada para ampliar o atendimento se referiu à parte
operacional. Isso porque, até julho de 2015 a aplicação do medicamento
pela equipe de enfermagem dos locais era restrita. Porém, em 2017 o
Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) publicou uma nota técnica
revisando a recomendação e afirmando que os profissionais da área
estavam aptos a administrar a medicação mediante prescrição médica ou de
enfermagem. Esta medida teve um papel importante, pois riscos do
não-tratamento superam o de ocorrências adversas.
Por
fim, o médico tem um papel essencial neste combate na conscientização
dos pacientes sobre a doença e necessidade de prevenção (basicamente
orientando preservativos!), ainda mais neste período de folia, em que há
tanta transmissão de IST. Além disso, o diagnóstico e tratamento
precisos são essenciais. Então, vamos terminar a recordando:
Quando pensar em sífilis?
Sífilis primária
- Lesão, geralmente única, no local de entrada da bactéria (pênis, vulva, vagina, colo uterino, ânus, boca, ou outros locais da pele), que aparece entre 10 a 90 dias após o contágio.
- Normalmente indolor, podendo estar acompanhada de linfonodomegalias na virilha.
Sífilis secundária
- Os sinais e sintomas aparecem entre seis semanas e seis meses do aparecimento e cicatrização da lesão inicial.
- Pode ocorrer rash pelo corpo, incluindo palmas das mãos e plantas dos pés.
- Pode ocorrer febre, mal-estar, cefaleia, linfonodomegalias
Sífilis latente – fase assintomática
- Não aparecem sinais ou sintomas.
- É dividida em sífilis latente recente (menos de dois anos de infecção) e sífilis latente tardia (mais de dois anos de infecção).
- A duração é variável, podendo ser interrompida pelo surgimento de sinais e sintomas da forma secundária ou terciária.
Sífilis terciária
- Pode surgir de dois a 40 anos depois do início da infecção.
- Costuma apresentar sinais e sintomas, principalmente lesões cutâneas, ósseas, cardiovasculares e neurológicas, podendo levar evoluir com óbito.
Como tratar?
Tratamento sífilis | |
Sífilis primária, secudária e latente precoce | Penicilina G benzatina 2,4 milhões UI (1,2 milhões UI em cada glúteo) via IM dose única. |
Sífilis latente tardia e sífilis terciária | Penicilina G benzatina 2,4 milhões UI (1,2 milhões UI em cada glúteo) via IM 1x em cada semana (total de 3 semanas) |
Neurossífilis | Penicilina G cristalina 3 a 4 milhões UI EV 4/4h (ou 18 a 24 milhões UI por infusão contínua) por 10 a 14 dias |
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