O que acontece com o ex-presidente Lula após a nova condenação em segunda instância?
Apesar da decisão do TRF4, ex-presidente só voltará à prisão após trânsito em julgado, porém continua impedido de disputar eleições
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi condenado, na tarde desta quarta-feira, 27, em segunda instância pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4)
a 17 anos, um mês e 10 dias de prisão no caso do sítio de Atibaia. Por
unanimidade, os desembargadores João Pedro Gebran Neto, Leandro Paulsen e
Carlos Eduardo Thompson Flores negaram anular o processo envolvendo o
petista e aumentaram a sua pena. Em fevereiro deste ano, Lula foi
condenado a 12 anos e 11 meses, em primeira instância, pela juíza
federal Gabriela Hardt.
Apesar da condenação desta quarta-feira, Lula não voltará para a
prisão, de onde saiu no dia 8 de novembro, após 580 dias preso, em razão
da condenação no caso do tríplex do Guarujá. Isto ocorre porque, no dia
7 de novembro, o Supremo Tribunal Federal (STF)
derrubou a possibilidade de prisão após condenação em segunda
instância. Segundo o entendimento firmado pela Corte, a execução da pena
só poderá ocorrer após o trânsito em julgado, isto é, o esgotamento de
todos os recursos.
Embora Lula não possa ser preso, a decisão do TRF4 desta
quarta-feira atrapalha os planos do petista de disputar novas eleições.
Uma vez condenado em segunda instância, o ex-presidente é enquadrado na
Lei da Ficha Limpa. A recuperação plena dos
direitos políticos de Lula depende de uma combinação de fatores: o STF
precisa reconhecer a suspeição do ex-juiz Sergio Moro na condução do
processo do tríplex do Guarujá e estender os efeitos deste entendimento a
todas as ações que tiveram a participação do atual ministro da Justiça e
Segurança Pública do governo Bolsonaro — como é o caso do processo do
sítio de Atibaia.
No caso específico do sítio de Atibaia, por exemplo, a defesa de Lula
poderá entrar com embargos declaratórios no próprio TRF4. Este recurso é
utilizado para questionar determinados aspectos de uma decisão
proferida. Mesmo se eventualmente derrotados, os advogados do petista
poderão, ainda, impetrar recursos no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e no STF.
Congresso pode mudar cenário
A decisão desta quarta-feira, 27, pode significar mais um capítulo na
luta da ala lavajatista do Congresso para reverter a decisão do STF que
impediu a possibilidade de prisão após condenação em segunda
instância. Como reação ao julgamento da Corte, a Comissão de
Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados (CCJ) aprovou a
constitucionalidade de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que
permite a prisão após sentença proferida em órgão colegiado. A matéria
enfrenta resistência de alguns setores do Congresso e, para ser
aprovada, precisa de 308 votos favoráveis em dois turnos de
votação. Caso uma mudança na Constituição seja aprovada pelos
parlamentares, Lula poderia voltar à prisão.
Há, ainda, um projeto de lei simples (PLS 166/2018), de autoria do
senador Lasier Martins (Podemos-RS), sobre o mesmo tema, e que teria
tramitação mais rápida, uma vez que precisaria apenas de maioria simples
para ser aprovada. No entanto, um acordo entre líderes partidários do
Senado, na terça-feira 26, decidiu que a Casa irá priorizar a PEC que
está sendo discutida pelos deputados.
O acordo foi costurado pelo presidente da Casa, Davi Alcolumbre
(DEM-AP), que acha que a aprovação da questão por meio de uma emenda
constitucional é mais segura, embora seja mais lenta, do que a votação
de um projeto de lei, que poderia ser contestado. Com isso, a eventual
retomada da prática de execução de pena após condenação em segunda
instância ficará para 2020.
VEJA - Por André Siqueira
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