Recurso do ex-presidente Lula na Operação Lava Jato andou mais rápido que 76% dos casos
O
processo do sítio de Atibaia (SP), cujo principal réu é o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, teve um período inicial de tramitação no
TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) mais rápido que o de 76%
dos casos da oitava turma da corte, responsável pelos processos da Lava
Jato.
O recurso que envolve o
petista levou 120 dias entre o momento em que foi protocolado e o fim da
elaboração do voto do juiz relator.
O
processo contra Lula, que foi condenado em primeira instância por
corrupção e lavagem de dinheiro, é considerado complexo e demanda mais
análise do que outros casos julgados pelo TRF-4, como crimes de
contrabando.
O
levantamento foi feito pela Folha de S.Paulo com base em 993 processos
que corriam este ano na turma e que foram liberados pelo relator para a
revisão -ou seja, nos quais o voto já havia sido concluído.Apesar da
rapidez com que tramitou, o caso do sítio de Atibaia pode retroagir em
nove meses por causa de uma decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) de
que réus que não são delatores precisam se manifestar por último em
ações penais.
O entendimento fez o
TRF-4 marcar para esta quarta-feira (30) um julgamento que irá decidir
se, por este motivo, o caso de Lula deve ter a sentença anulada e voltar
à primeira instância. O procurador regional Maurício Gerum, da
força-tarefa da Lava Jato, já se manifestou de forma favorável à
anulação.
Os dados de todos os
processos que tramitavam nas turmas criminais do TRF-4 em 15 de maio
deste ano foram informados pelo próprio tribunal no dia 30 de setembro à
defesa de Lula.
Em uma análise mais
ampla, contando os processos da oitava turma que nem sequer tiveram o
voto do relator concluído, o processo do sítio foi mais célere que 86%
das 1.702 ações.
O
TRF-4 é o tribunal que analisa os recursos a decisões da Justiça
Federal de 1ª instância nos estados da região Sul, inclusive os da Lava
Jato em Curitiba.
Quando um recurso
chega ao tribunal, normalmente ele é distribuído a um juiz relator (no
caso dos processos da Lava Jato, a João Pedro Gebran Neto), que elabora
um relatório e, ao final, encaminha para um juiz revisor (na operação, é
Leandro Paulsen), que pauta a data do julgamento.
O
caso do sítio de Atibaia foi enviado para a revisão em 11 de setembro,
120 dias após chegar ao tribunal. Nem sempre os processos costumam
correr de forma tão rápida. Por exemplo, numa ação que analisava o
recurso de um homem acusado de entrar em uma agência dos Correios em
Jaguapitã (PR) e roubar R$ 2.482, o voto demorou 380 dias para ser
enviado ao revisor.
Antes do sítio, o
outro processo em que Lula foi condenado na Lava Jato, sobre o tríplex
em Guarujá (SP), também havia tramitado de forma célere no TRF-4. Foram
154 dias até o julgamento na corte. À época, apenas um réu da Lava Jato
havia sido julgado pela oitava turma de forma mais rápida: Nestor
Cerveró, ex-diretor da Petrobras, em 138 dias.
Levantamento
feito pela Folha de S.Paulo em 2017 apontou que, naquele ano, apenas
dois processos públicos por corrupção foram decididos em menos de 150
dias no TRF-4. No caso de lavagem de dinheiro, nenhum mérito foi julgado
-foi apenas decidido em um caso que a competência para a decisão era da
Justiça Federal do Rio Grande do Sul.
À
época, o ex-presidente havia sido condenado a nove anos e seis meses de
prisão pelo então juiz Sergio Moro. A pena foi aumentada por
unanimidade pelo TRF-4 a 12 anos e um mês em janeiro de 2018 -e depois
reduzida neste ano no STJ (Superior Tribunal de Justiça). Em abril do
ano passado, Lula foi preso e levado à sede da Polícia Federal em
Curitiba, onde cumpre pena.
No caso do sítio de Atibaia, o ex-presidente foi condenado a 12 anos e
11 meses de prisão pela juíza Gabriela Hardt. O pagamento de obras na
propriedade pela Odebrecht foi revelado pela Folha de S.Paulo em
reportagem de janeiro de 2016. O ex-presidente nega ter cometido
irregularidades.
A
defesa de Lula, comandada pelo advogado Cristiano Zanin Martins, queria
que o TRF-4 suspendesse a sessão desta quarta-feira que irá decidir se o
caso do sítio deve ou não voltar para a primeira instância visando
eventual correção da ordem de apresentação das alegações finais.
O
ex-presidente pretendia que o tribunal analisasse não apenas a
possibilidade do retorno do processo à fase anterior à sentença, mas
também a anulação total da ação.
O
pedido dos advogados foi negado pelo relator João Pedro Gebran Neto. O
magistrado afirmou que não cabia à defesa de Lula contestar por meio de
agravo regimental (um tipo de recurso) a inclusão de um julgamento na
pauta da corte.
Procurado, o tribunal não se manifestou ao ser questionado pela reportagem sobre os tempos de tramitação dos processos.
Na
ação do tríplex, a corte havia afirmado que a celeridade é “fato comum”
a ela e que o próprio Código de Processo Civil afirma que julgar
processos em ordem de distribuição não é regra absoluta.
A defesa do ex-presidente Lula não se manifestou.
O QUE PESA CONTRA LULA:
AÇÕES PENAIS
Tríplex (set.16)Lula
foi condenado pela acusação de ter recebido propina da OAS por meio da
reforma de um tríplex em Guarujá. Em abril, o STJ confirmou a condenação
e reduziu a pena do petista para 8 anos e 10 meses.
Operação
Janus (out.16)Lula é acusado de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e
tráfico de influência por, segundo a denúncia, ter agido para favorecer
a Odebrecht em Angola. Na ação, que tramita no DF, ele já foi absolvido
pelo crime de organização criminosa e de parte das acusações referentes
a lavagem de dinheiro.
Instituto Lula (dez.16)Lula é réu sob acusação de corrupção passiva e
lavagem de dinheiro por, segundo a denúncia, ter recebido propina da
Odebrecht por meio da compra de terreno para a sede do Instituto Lula.
Ação tramita em Curitiba.
Operação
Zelotes (dez.16)A acusação diz que Lula praticou lavagem de dinheiro,
tráfico de influência e integrou organização criminosa por fazer parte
de esquema para beneficiar empresas na compra de caças. Ação tramita no
DF.
Sítio de Atibaia (ago.17)Lula foi
condenado em 1ª instância a 12 anos e 11 meses de prisão por corrupção e
lavagem de dinheiro por meio de reformas e benfeitorias bancadas por
OAS e Odebrecht na propriedade rural.
Operação
Zelotes 2 (set.17)É réu sob acusação de corrupção passiva por favorecer
empresas na edição da Medida Provisória 471, de 2009. Ação tramita no
DF.
‘Quadrilhão do PT’ (nov.18)Lula e
Dilma se tornaram réus acusados de integrar organização criminosaGuiné
Equatorial (dez.18)Acusação trata de suposta lavagem de dinheiro devido a
doação de R$ 1 milhão ao Instituto Lula em troca de interferência em
negócios de empresa brasileira no país africano. Ação tramita em SP.
Propina
da Odebrecht (abr.18)Lula e os ex-ministros Antônio Palocci e Paulo
Bernardo viraram réus em ação em que são acusados de terem recebido
propina da Odebrecht em forma de doação eleitoral.
DENÚNCIA: Indicação para ministro (set.17) Caso não virou ação penal
Fonte: Noticias ao minuto - Publicado por: Suedna Lima
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