Ela teve leucemia e recuperou a autoestima tatuando mais da metade do corpo
Quem
assistiu Sarah Rebeca Constantine, de 24 anos, disputando o título de
Miss Tattoo 2019, nem imagina de onde vem seu amor pela arte no corpo.
Até chegar ao concurso organizado pela Tattoo Week, convenção que
aconteceu sábado (26) em São Paulo, Ela não se classificou entre as
primeiras colocadas do evento, mas antes disso percorreu um longo
caminho de aceitação.
Aos
6 anos, foi diagnosticada com leucemia. Devido ao tratamento, perdeu os
cabelos e foi alvo de bullying no colégio. O trauma de ser
ridicularizada pelos colegas foi tanto que, ainda criança, ela perdeu o
interesse pela escola e preferiu dar continuidade aos estudos no
hospital.
“Minha autoestima ficou destruída”, conta. Somente aos
17 anos, quando as sessões finalizaram, convenceu a mãe a permitir que
ela fizesse sua primeira tatuagem, com a liberação da médica que a
acompanhava. Hoje, com 60% do corpo tatuado, considera esta a sua
principal forma de conexão com a própria imagem.
Descoberta da doença
“Quando
era criança, sentia dores fortes na região próxima ao quadril ao
caminhar. Com isso, minha mãe foi buscar respostas com os médios. Mas
não foi fácil chegar ao diagnóstico: uma das profissionais pelas quais
passamos, por exemplo, recomendou que eu amputasse a perna — mas minha
mãe não aceitou. Somente aos 7 anos, por meio de uma conhecida, cheguei
ao hospital onde faria o tratamento. Lá, depois de realizar exames,
descobri que estava com câncer no sangue (leucemia). Passei por
uma quimioterapia agressiva e outras duas mais leves. Ao todo, contando
com as pausas, foram quase sete anos de tratamento”.
Sofrimento na escola
“Por
causa das sessões, meu cabelo caiu. Em alguns períodos, ele crescia um
pouquinho, mas logo ficava careca novamente. Eu sentia vergonha, mas
continuei frequentando a escola. Lembro que usava um chapéu rosa
comprado pela minha mãe. O problema é que as outras crianças não
entendiam minha doença. Um dia, durante o intervalo, tiraram o chapéu e
começaram a brincar de vôlei com ele. Quase todos os alunos reunidos
durante o intervalo riram ao me ver sem cabelo. Enquanto isso, eu
chorava muito. Depois deste dia, não quis mais voltar. Para que eu não
perdesse o ano, minha mãe pegava a descrição dos trabalhos com os
professores e eu fazia dentro do hospital”.
Primeira tatuagem
“Com
14 anos, parei de vez com as quimioterapias e meu cabelo começou a
crescer. Mas minha autoestima estava destruída: acabei repetindo dois
anos por estar desmotivada. Eu tinha um sentimento forte de que era
diferente das outras pessoas. Talvez por isso admirasse tanto as
mulheres com tatuagens. Pensava que queria ser como elas. Falei sobre o
assunto pela primeira vez com a minha mãe aos 15 anos. Ela não deixou:
como a tinta usada no procedimento chega até o sangue, ela teve receio
de que isso pudesse contribuir para o retorno da doença. Mas eu estava
decidida. Insisti muito e, aos 17, conversamos com a médica. Com a
liberação dela, tatuei um filtro dos sonhos na costela. Fiz isso porque
queria sempre ter sonhos bons”.
Reconexão com o corpo
“Depois
da primeira, não parei mais. A cada vez que fazia uma tatuagem nova, me
sentia uma pessoa mais bonita. Isso foi me acalmando e me trouxe
alegria. Passei a ter pensamentos positivos sobre mim. Ao me ver daquela
forma, minha mãe aceitou a ideia e até me incentivou a continuar. Parei
de contar quantas tatuagens tinha quando fiz a trigésima. Sei que tenho
60% do corpo tatuado e não pretendo parar. Hoje trabalho com ela na
área da costura, mas estudo desenho e pretendo montar meu próprio
estúdio de tatuagem em breve”.
Fonte: UOL - Publicado por: Larissa Freitas
Nenhum comentário:
Postar um comentário