Até 2020, a depressão será a doença mais incontrolável do mundo, diz Organização Mundial de Saúde
Ela chega de mansinho, assim como quem
não quer nada. Num dia, você acorda triste, desanimado. No outro, bate
uma sensação de vazio e uma vontade incontrolável de chorar, sem
qualquer motivo aparente. A depressão é assim, um mal silencioso e ainda
mal compreendido – até mesmo entre os próprios pacientes.
Considerada um transtorno mental
afetivo, ou uma doença psiquiátrica, a depressão é caracterizada pela
tristeza constante e outros sintomas negativos que incapacitam o
indivíduo para as atividades corriqueiras, como trabalhar, estudar,
cuidar da família e até passear.
De acordo com OMS (Organização Mundial
de Saúde), até 2020 a depressão será a principal doença mais
incapacitante em todo o mundo. Isso significa que quem sofre de
depressão tem a sua rotina virada do avesso. Ela deixa de produzir e tem
a sua vida pessoal bastante prejudicada.
Atualmente, mais de 120 milhões de
pessoas sofrem com a depressão no mundo – estima-se que só no Brasil,
são 17 milhões. E cerca de 850 mil pessoas morrem, por ano, em
decorrência da doença.
Descrita pela primeira vez no início do
século 20, a depressão ainda hoje é confundida com tristeza, sentimento
comum a todas as pessoas em algum momento da vida. Brigar com o
namorado, repetir o ano escolar e perder o emprego são motivos para
deixar alguém triste, cabisbaixo. Isso não significa, porém, que o
sujeito está com depressão. Em alguns dias, ele, certamente, vai estar
melhor.
O desconhecimento real do funcionamento
desse transtorno afetivo é o principal responsável por um dos maiores
problemas para quem sofre com a depressão: o preconceito. Para Marcos
Pacheco Ferraz, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), ele
ainda existe e prejudica muito o paciente.
– Principalmente no ambiente de
trabalho, onde há competições e cobranças por bom desempenho, é comum as
pessoas nem comentarem sobre a enfermidade. Nesses casos, o melhor é
tirar férias ou licença médica.
E não é só isso. A ignorância em torno
da doença faz com que familiares e amigos, na tentativa de ajudar,
piorem ainda mais a condição do depressivo.
Frases como “tenha um pouco de força de
vontade”, “vamos passear no shopping que melhora”, “você tem uma vida
tão boa, tá com depressão por que?” e “se ocupe com outras coisas que
você não terá tempo de pensar em bobagens”, funcionam como uma bomba na
cabeça de quem já se esforça, diariamente, para conseguir sair da cama.
– Isso mostra que as pessoas não
conhecem o transtorno. Achar que é frescura ainda é comum. Elas não
imaginam que o paciente não consegue reagir. Não depende de força de
vontade.
A designer C.N., 35 anos, que passou por
uma depressão severa há alguns anos, sabe bem o que é isso. Mesmo
trabalhando em um ambiente com pessoas bastante esclarecidas, ela cansou
de ouvir esse tipo de comentário. E os efeitos eram devastadores. Ela
conta que “até críticas sobre o meu médico eu ouvi. Uma colega disse que
ele não devia ser bom, pois depois de um mês de tratamento eu já
deveria estar curada.”
– É incrível o poder que algumas
palavras tem sobre o doente. A primeira coisa que as pessoas perguntavam
era o motivo da minha depressão, pois eu tinha uma vida tão boa, uma
família, filha, um casamento bacana, um emprego legal. O fato de não ter
uma explicação para a doença me deixava péssima. Era um sentimento de
culpa enorme.
Por isso, Ferraz diz que é muito
importante a participação da família no tratamento. Eles precisam saber o
que devem e o que não devem fazer em relação ao doente. Para ele,
“fazer com que todos entendam o mecanismo do transtorno e como agem os
remédios é fundamental para o sucesso do tratamento. Ainda existe o mito
de que antidepressivo vicia, o que é um grande engano.”

Fonte: www.revistapazes.com
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