Crise argentina e redução da produção na Vale devem travar crescimento da indústria este ano
O Ibre, da FGV, estimava, em dezembro, uma alta de 2,5% na indústria em 2019. Agora, após analisar as consequências da crise no país vizinho, prevê 1,8%

© Reuters
A indústria
brasileira fechou 2018 com resultado decepcionante, um crescimento de
apenas 1,1%. E, segundo analistas, 2019 não deve ser tão diferente. A
recessão argentina e a redução na produção da Vale em decorrência do
rompimento da barragem em Brumadinho já fazem economistas reverem, para
baixo, as projeções de crescimento do setor para este ano.
O Ibre, da FGV, estimava, em dezembro, uma alta de 2,5% na
indústria em 2019. Agora, após analisar as consequências da crise no
país vizinho, prevê 1,8%, e ainda fará uma nova redução para incluir os
efeitos da Vale. A Tendências Consultoria, que projetava 3,5%, também
está revendo o número para baixo - o dado ainda não foi fechado.
A
crise instalada na Argentina, com poucas perspectivas de recuperação no
curto prazo, tem um papel crucial nesse novo desempenho fraco, já que o
país vizinho é destino importante para as exportações das fábricas
brasileiras. No caso da indústria de transformação, a mais afetada, o
Ibre reduziu sua projeção de crescimento de 2,8% para 1,4%.
Além
das montadoras e das companhias de autopeças, empresas como Braskem e
Alpargatas, que têm na Argentina um de seus principais mercados, devem
ser prejudicadas. No terceiro trimestre do ano passado, o lucro bruto da
Alpargatas na Argentina, por exemplo, já recuou 67,2%. No mesmo
período, o PIB do país caiu 3,5% e as importações, 10,2% - o Brasil é o
principal parceiro comercial da Argentina. A Anfavea (associação das
montadoras) projeta uma redução de 6,2% nas exportações deste ano, após
queda de 17,9% em 2018.
"Hoje,
a principal fonte de incerteza na indústria está relacionada à
Argentina, e isso só deve diminuir a partir de julho", destaca a
economista Luana Miranda, do Ibre. Para Rafael Cagnin, do Instituto de
Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), outras instabilidades
externas, como a guerra comercial, podem se acentuar e serem mais um
entrave para o setor.
Segundo Luana, o desempenho da indústria no
mercado interno também deve ser fraco por causa da lenta retomada do
mercado de trabalho. Portanto, uma melhora nas exportações seria
essencial para o setor ter um resultado significativo.
Vale
Para
a indústria extrativa - que inclui as atividades da Vale -, o Ibre
projetava uma alta de 2,6% neste ano. O segmento seria o principal
propulsor da indústria. Porém, o impacto de Brumadinho não poderá ser
desprezado. A extração de minério de ferro é responsável por 40% do PIB
do segmento, e a Vale, que já anunciou uma redução de 10% na produção, é
responsável quase pela totalidade disso.
O economista Lucas Silva, da Tendências, lembra que o índice de
expectativa da indústria é o que tem se recuperado mais lentamente.
Enquanto os de serviços e de comércio já ultrapassaram a barreira dos
100 pontos, o que indica otimismo, o da indústria ainda está na casa dos
90 pontos.
Economia ao Minuto com informações do jornal O Estado de S. Paulo
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