Presidente Jair Bolsonaro ignora desvio eleitoral e volta a nomear ministro do Turismo
Deputado federal mais votado em Minas, o ministro patrocinou um esquema de candidaturas laranjas no estado.

© Valter Campanato/Agência Brasil
Em ato assinado em conjunto
com o ministro Sergio Moro (Justiça), o presidente Jair Bolsonaro voltou
a nomear Marcelo Álvaro Antônio para o cargo de ministro do Turismo. A
decisão foi publicada no Diário Oficial da União desta quinta-feira (7).
Deputado federal mais votado em Minas, o ministro patrocinou
um esquema de candidaturas laranjas no estado que direcionou verbas
públicas de campanha para empresas ligadas ao seu gabinete na Câmara. O
caso foi revelado pela Folha de S.Paulo na última segunda-feira (4).
No
mesmo dia da revelação do caso, o vice-presidente, general Hamilton
Mourão, afirmou que o caso deve ser investigado. Segundo ele, se os
órgãos de investigação confirmarem a existência da irregularidade em
relação ao ministro, trata-se de uma denúncia grave. Bolsonaro foi
eleito sob a promessa de combater qualquer tipo de desvio na máquina
pública.
Álvaro
Antônio havia sido exonerado nesta quarta-feira (6) do cargo na
Esplanada para tomar posse como deputado federal, cargo para o qual foi
eleito em outubro pelo PSL de Minas.
Inicialmente sem explicações,
sua saída gerou desconfianças sobre se teria relação com o esquema de
candidaturas laranjas. Após a divulgação de sua exoneração, o ministro
foi às redes sociais explicar que se tratava de decisão temporária para
assumir mandato na Câmara e que retornaria no dia seguinte.
Nesta
quarta-feira, Álvaro Antônio foi ao plenário da Câmara em cadeira de
rodas, permaneceu apenas o tempo necessário para que fosse cumprido o
protocolo da posse e depois deixou a Casa. Ele disse que realizou uma
cirurgia na perna.
No período eleitoral, após indicação do PSL de
Minas, presidido à época pelo próprio ministro, o comando nacional do
partido de Bolsonaro repassou R$ 279 mil a quatro candidatas do estado.
Apesar
de figurarem entre os 20 candidatos do PSL no país que mais receberam
dinheiro público, essas quatro mulheres tiveram desempenho
insignificante. Juntas, receberam pouco mais de 2.000 votos, em um
indicativo de candidaturas de fachada, em que há simulação de alguns
atos reais de campanha, mas não empenho efetivo na busca de votos.
Sobre
o teor da reportagem da Folha de S.Paulo, o ministro Marcelo Álvaro
Antônio afirmou, por meio da assessoria, que "a distribuição do fundo
partidário do PSL de Minas Gerais cumpriu rigorosamente o que determina a
lei" e que "refuta veementemente a suposição com base em premissas
falsas de que houve simulação de campanha com laranjas no partido."
A
reportagem da Folha de S.Paulo visitou as cidades de Ipatinga,
Governador Valadares, Timóteo e Coronel Fabriciano, na região do Vale do
Rio Doce, leste de Minas Gerais, e investigou as informações prestadas
por elas à Justiça Eleitoral.
Dos R$ 279 mil repassados pelo PSL,
ao menos R$ 85 mil foram parar oficialmente na conta de quatro empresas
que são de assessores, parentes ou sócios de assessores do hoje ministro
de Bolsonaro.
Esse é o caso, por exemplo, de Lilian Bernardino,
candidata a deputada estadual em Governador Valadares. Ela é próxima a
Haissander Souza de Paula, que foi assessor do gabinete parlamentar de
Álvaro Antônio de dezembro de 2017 ao início deste ano, quando o
deputado assumiu o Ministério do Turismo. Haissander hoje é secretário
parlamentar do suplente de Álvaro Antônio na Câmara, Gustavo Mitre, do
PHS.
Lilian recebeu da direção do PSL R$ 65 mil de recursos
públicos, declarou ter gasto todo esse valor e obteve apenas 196 votos.
No mesmo dia ou poucos dias depois de ter recebido as verbas, ela
repassou boa parte para quatro empresas que têm ligações com o ministro
do Turismo.
Um total de R$ 14,9 mil foi para duas empresas de
comunicação de um irmão de Roberto Silva Soares, conhecido como
Robertinho Soares, que foi assessor do gabinete de Álvaro Antônio e
coordenou sua campanha no vale do Rio Doce. Outros R$ 10 mil foram
direcionados para uma gráfica de uma sócia do irmão de Robertinho.
Houve
também pagamento de R$ 11 mil à empresa de Mateus Von Rondon Martins,
de Belo Horizonte, responsável pela divulgação do mandato de Álvaro
Antônio e hoje assessor especial do Ministério do Turismo.
Lilian
declarou gasto de R$ 2.500 com o secretário do PSL em Ipatinga, Edmilson
Luiz Alves, que, segundo o que informou a candidata à Justiça
Eleitoral, fez atividades de militância e mobilização de rua para a
campanha.
À Folha de S.Paulo, Edmilson, que coordenou o comitê de campanha do PSL na região, disse nunca ter visto a candidata.
"Em
Valadares eu não acompanhei ninguém", afirmou, dizendo que jamais
assinou recibo eleitoral de serviços para Lilian. "Não, não conheço essa
Lilian não. Nem o telefone dela eu tenho."
Um dia após a Folha de
S.Paulo procurar ouvir os envolvidos, Edmilson ligou de novo dizendo
ter se lembrado do trabalho. Segundo ele, sua tarefa consistiu em
intermediar a contratação para Lilian de uma empresa de disparo de
mensagens de WhatsApp.
Ele não soube explicar por que o nome dele,
e não da suposta empresa, aparece na prestação. Também se comprometeu a
passar o nome e o contato dessa empresa, mas não fez isso até a
conclusão desta reportagem.
A reportagem da Folha de S.Paulo procurou Lilian por telefone e em
endereços de Valadares em que teria morado, mas não conseguiu contato.
Política ao Minuto com informações da Folhapress
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