Vale sabia de problemas com sensores de barragem dois dias antes de rompimento
A Polícia Federal identificou em e-mails
trocados por funcionários da Vale e da consultoria alemã Tüv Süd que a
empresa de mineração já sabia de problemas com sensores da barragem do
Córrego do Feijão, em Brumadinho, dois dias antes do rompimento. As informações constam do
depoimento do engenheiro Makoto Namba, coordenador de projetos da
empresa Tüv Süd, à PF.
Namba e outro engenheiro, André Yassuda,
foram presos no dia 29 de novembro, quatro dias depois do estouro da
barragem que despejou o mar de lama em Brumadinho. Na terça, 5, o
Superior Tribunal de Justiça mandou soltar os dois engenheiros.
O delegado Luiz Augusto Nogueira leu os
e-mails para o engenheiro durante seu depoimento. Segundo a PF, as
mensagens “foram iniciadas pelo indivíduo Denis Valentim no dia 23 de
janeiro de 2019, às 14h38” e endereçadas a executivos da Vale a da Tüv
Süd. No dia 24 de janeiro, às 14h44, funcionários da terceirizada Tec
Wise também receberam mensagens.
“(O) assunto tratado diz respeito a
dados discrepantes obtidos através da leitura dos instrumentos
automatizados (piezômetros) no dia 10 de janeiro de 2019, instalados na
barragem B1 do CCF, bem como acerca do não funcionamento de 5
piezômetros automatizados”, narrou a Polícia.

A PF questionou o engenheiro “qual seria sua providência caso seu filho estivesse trabalhando no local da barragem B1”.
“Respondeu que após a confirmação das
leituras, ligaria imediatamente para seu filho para que evacuasse do
local bem como que ligaria para o setor de emergência da Vale
responsável pelo acionamento do PAEBM (Plano de Ação de Emergência para
Barragens) para as providências cabíveis”, disse Makoto Namba.
Makoto Namba disse à PF que trabalha há
24 anos na Tüv Süd. Segundo o engenheiro, “a 1ª auditoria externa
realizada pela Tüc Süd na Barragem do Córrego Feijão ocorreu em setembro
de 2018 e consistiu na avaliação das condições da estrutura da barragem
se seus dispositivos de segurança e dos dados referentes à mesma de
inspeções anteriores bem como da revisão periódica realizada em junho de
2018”.
“A auditoria externa ou inspeção regular realizada em setembro de
2018 e os respectivos relatórios serviram como base para a declaração de
estabilidade assinada pelo declarante em setembro de 2018 referente a
barragem B1 do CCF”, contou.
De acordo com o depoimento, o engenheiro relatou ter ouvido uma frase
“do funcionário da Vale de nome Alexandre Campanha”, durante uma
reunião: “A Tüv Süd vai assinar ou não a declaração de estabilidade?”.

Namba declarou ter respondido: “A Tüv Süd irá assinar se a Vale
adotar as recomendações indicadas na revisão periódica de junho de
2018.”
“Apesar de ter dado esta resposta para
Alexandre Campanha, o declarante sentiu a frase proferida pelo mesmo
como uma maneira de pressionar o declarante e a Tüv Süd a assinar a
declaração de condição de estabilidade sob risco de perderem o
contrato”, relatou.
O engenheiro declarou também à PF saber
“da existência de uma nascente a montante do reservatório da barragem B1
do CCF e que a água excedente desta nascente corria para dentro da
barragem”.
“O declarante não sabe dizer ao certo,
mas pode afirmar que desde final de julho/2018 foi construída uma
barreira e colocada uma tubulação na nascente para desviar a água do
reservatório”, afirmou.
“Em setembro de 2018, na apresentação do
relatório de inspeção regular, o declarante solicitou à Vale a
construção de um SUMP para que o excedente que extravasasse a barreira e
a tubulação colocada na nascente ficasse represado neste local e
bombeada para o extravasor.”
À PF, o engenheiro disse ainda que “se o
DAM BREAK da barragem B1 mostrou que o refeitório e a sede
administrativa estavam no caminho da lama que escorreu após o
rompimento, a Vale deveria ter transferido a sede administrativa e o
refeitório bem como demais construções para outro local fora do caminho
da lama”.
Com a palavra, a Vale
“A Vale informa que vem colaborando
proativamente e da forma mais célere possível com todas as autoridades
que investigam as causas do rompimento da Barragem I da Mina Córrego do
Feijão, em Brumadinho. Como maior interessada no esclarecimento das
causas desse rompimento, além de materiais apreendidos, a Vale entregou
voluntariamente documentos e e-mails, no segundo dia útil após o evento,
para procuradores da República e delegado da Polícia Federal. A
companhia se absterá de fazer comentários sobre particularidades das
investigações de forma a preservar a apuração dos fatos pelas
autoridades.”

Fonte: http://www.itatiaia.com.br
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