Ameaçados de morte, líderes indígenas pedem diálogo com o presidente Jair Bolsonaro
A demarcação de terras indígenas e as tentativas de flexibilizar as permissões para exploração de recursos naturais em terras indígenas são as principais preocupações

"Bolsonaro não sabe o que a gente quer e a gente não sabe o que ele quer; temos que dialogar", diz o cacique Almir Suruí, 45.
Líder do povo Paiter Suruí na terra indígena Sete de Setembro,
em Cacoal (RO), e um dos conselheiros da Coiab, a Coordenação das
Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira; ele é ameaçado de morte
por madeireiros desde 2005 e chegou a ser escoltado pela Força Nacional.
Desde a década de 90, os Suruí tentam conter a extração ilegal de
madeira na região.
A
demarcação de terras indígenas e as tentativas de flexibilizar as
permissões para exploração de recursos naturais em terras indígenas são
as principais preocupações citadas por Almir sobre o novo governo. O
alerta é semelhante ao de outras lideranças indígenas.
"A
propaganda eleitoral do Bolsonaro foi de entregar esses territórios para
grandes empresários e para o estrangeiro, porque o agronegócio não é
brasileiro; é estrangeiro. Enquanto isso, os indígenas e os pequenos
produtores que produzem alimento para o brasileiro são marginalizados
nesse sistema", aponta Ninawá Huni Kui.
Aos 40 anos, Ninawá lidera o povo Huni Kui no estado do Acre e também denuncia sofrer perseguições de grupos armados desde 2012.
"Para
o povo Huni Kui, a relação com o território é sagrada. Não é econômica.
Na nossa visão, o índio não é nada sem o seu território", afirma
Ninawá, após ser questionado sobre a visita à Amazônia prestada pelos
ministros da Agricultura, Tereza Cristina, e do Meio Ambiente, Ricardo
Salles, que publicou no seu Instagram uma foto posando à frente dos
indígenas Parecis, no Mato Grosso.
"Alguns indígenas podem querer,
podem aceitar [a exploração econômica nos seus territórios], mas isso
não representa todos os indígenas. Há interessados em dividir os
indígenas, mas nós defendemos o coletivo", afirma Almir Suruí.
A
reportagem conversou com as duas lideranças em São Paulo, no lançamento
para a imprensa da série Guerreiros da Floresta, que vai ao ar a partir
desta quarta (20) às 22h30 no canal Futura e também na página da
emissora na internet.
Em 13 episódios, a produção da Santa Rita
Filmes mostra a luta pela preservação da cultura indígena e de seus
territórios a partir das lideranças dos povos Suruí, Huni Kui e
Yanomami, contando ainda com o xamã e líder dos Yanomami Davi Kopenawa,
62.
Premiado pelo Global 500 da ONU em 1992 e autor traduzido nas
línguas francesa e inglesa, Kopenawa também tem denunciado sofrer
ameaças de morte nos últimos anos, vindas de garimpeiros em Roraima.
A
situação das três lideranças é análoga à de Chico Mendes, seringueiro e
sindicalista assassinado no Acre em 1988. No ano anterior, ele havia se
tornado o primeiro brasileiro a receber o prêmio Global 500 da ONU, em
reconhecimento à sua defesa da conservação das florestas aliada à
produção econômica.
"Meus avós trabalharam junto com Chico Mendes e
criaram com ele a Aliança dos Povos da Floresta", conta o acriano
Ninawá. Ele conta que a criação das reservas extrativistas, propostas
por Chico Mendes e hoje regulamentadas pelo governo, foi inspirada pela
proteção das terras indígenas.
"Mas os governos transformaram a
história dele em marketing, enquanto a exploração e as ameaças daquela
época continuam até hoje no meu estado", completa Ninawá. Segundo ele,
as tentativas de emboscadas são frequentes.
"É normal, se você é
uma liderança, defende seu território, você sofre ameaça". Questionado
se havia recebido escolta policial, Ninawá respondeu que sua proteção é
espiritual.
Depois de perceber que madeireiros e garimpeiros
aliciavam indígenas para que se voltassem contra ele, Almir Suruí abriu
mão, em 2014, da escolta da Força Nacional - que já recebia havia dois
anos. Desde então, sua principal aposta é o diálogo.
"Nós temos propostas para o desenvolvimento do país. Não digo que a
floresta é intocável, digo que temos que conhecer os critérios para usar
a floresta. E o povo Suruí pode ser exemplo para o Brasil conquistar
seu espaço de liderar o modelo de desenvolvimento sustentável no mundo,
unindo conhecimentos científicos e tradicionais", ele propõe.
Brasil ao Minuto com
informações da Folhapress
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