Histórico do Superior Tribunal de Justiça diminui chance de recurso de Lula
O julgamento do mérito pelo grupo de juízes ocorreu em junho passado, e apenas um réu, Chater, conseguiu algum benefício no tribunal: redução de pena em três meses

© Reuters
Esperança do ex-presidente
Lula para reverter sua condenação no caso tríplex, o STJ (Superior
Tribunal de Justiça) só julgou até agora o mérito sobre uma das ações
penais sentenciadas pelo juiz Sergio Moro no Paraná e com resultado
amplamente favorável às teses da acusação.
Após quase quatro anos de Lava Jato, chegaram à corte com sede
em Brasília, que funciona como terceira instância da Justiça, poucos
recursos a respeito das sentenças do juiz e de apelações decididas no
TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região).
O caso já decidido
envolvia dois operadores presos ainda na primeira fase da operação, em
2014: Renê Pereira e Carlos Habib Chater, que se tornou conhecido por
ser dono do posto de combustíveis de Brasília que originou o nome Lava
Jato.
O julgamento do mérito pelo grupo de juízes ocorreu em junho
passado, e apenas um réu, Chater, conseguiu algum benefício no
tribunal: redução de pena em três meses.
A corte em Brasília já
julgou, porém, dezenas de pedidos de habeas corpus, quase sempre
favorecendo as teses dos juízes e procuradores.
A análise cabe à
quinta turma do tribunal, que se tornou conhecida pela tendência ao
alinhamento com as instâncias inferiores. O relator é Felix Fischer.
Os
réus Chater e Pereira encaminharam argumentos de nulidade já tratados
no início da Lava Jato, como a suposta origem irregular da operação, com
uma investigação sobre um deputado com foro, e a incompetência de um
juiz federal do Paraná para tratar de crimes que não foram consumados no
Estado. O tribunal com sede em Brasília os rejeitou.
Um
levantamento feito por uma equipe do próprio STJ e divulgado na semana
passada apontou que apenas 0,62% dos recursos encaminhados pelas defesas
contra decisões de segunda instância resultaram em absolvições de réus.
A pesquisa aborda processos de 2015 a 2017 na corte, não apenas da Lava
Jato.
Entre as cerca de 20 apelações já julgadas no TRF-4
relacionadas a sentenças de Moro, ainda há vários casos com pendências
em Porto Alegre. As ordens para início do cumprimento de pena, que só
são dadas a partir do esgotamento dos recursos na corte regional, só
começaram a sair em agosto de 2017.
Há casos que não irão para Brasília, que envolvem delatores já com acordos de colaboração firmados com a Justiça.
Pelo
ritmo de outros casos, o processo do ex-presidente Lula ainda tem pela
frente muitos meses de tramitação no tribunal com sede no Rio Grande do
Sul, o que inclui o julgamento de embargos de declaração.
FORMATO DE DEBATE
Os
próximos capítulos do caso tríplex vão envolver a discussão de
elementos bem diferentes do debate sobre quantas vezes o ex-presidente
esteve no apartamento em Guarujá (SP) ou se ele sabia das reformas
feitas no imóvel pela empreiteira OAS.
No STJ, o processo contra Lula não poderá mais tratar do exame de provas.
Ou
seja: a defesa precisará mostrar que a ação na Justiça do Sul do país
contra o petista violou leis federais ou interpretou a legislação de
modo diferente do que outro tribunal, requisitos para que o caso seja
novamente apreciado pelo Judiciário.
Lula pode, por exemplo,
tentar convencer os ministros de alguma nulidade em seu processo. A
dificuldade para os advogados, porém, é o fato de que argumentos contra a
Lava Jato, como os citados pelas defesas de Chater e Pereira, já terem
sido sucessivamente negados.
No TRF-4, Lula também se disse vítima
de infrações à lei por parte de Sergio Moro, mas os pedidos foram todos
rejeitados em preliminares no julgamento do último dia 24.
Não
cabe ao STJ reexaminar provas feitas nos autos. Não é um tribunal de
prova. É um tribunal de direito aplicável, de uniformizar a
jurisprudência, para não ser diferente o Rio Grande do Sul do Amazonas,
diz Vladimir Passos de Freitas, ex-presidente do TRF-4.
Para o
professor de direito penal Alamiro Velludo, da USP, a defesa do
ex-presidente no STJ pode envolver a discussão sobre a necessidade, para
caracterizar um crime de corrupção, de um ato de ofício
(contrapartida).
Antes de o caso subir para a terceira instância, a vice-presidente da
corte com sede em Porto Alegre declarará se há ou não fundamentos para
uma rediscussão em instância superior.
Notícias ao Minuto com informações da Folhapress
Nenhum comentário:
Postar um comentário