Cientistas identificam túmulo do ‘Exército Viking’ no interior da Inglaterra
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Mais
de 200 cadáveres encontrados em um túmulo coletivo no interior da
Inglaterra pertenciam ao Grande Exército Viking que invadiu o país no
século 9, de acordo com um novo estudo realizado por cientistas da
Universidade de Bristol, no Reino Unido.
Descoberta na década de
1980, a sepultura coletiva já havia sido ligada aos vikings, porque
junto aos cadáveres foram encontradas diversos armamentos e artefatos
típicos dos guerreiros escandinavos que aterrorizaram as ilhas
britânicas na Idade Média. Mas as datações feitas na época indicavam que
os corpos haviam sido depositados no local ao longo de vários séculos.
Agora,
uma nova datação muito mais precisa, feita com tecnologia de ponta,
revelou que quase todos os cadáveres foram enterrados entre os anos de
873 e 874. Os registros históricos indicam que o Grande Exército Viking
passou o inverno de 873 no local da descoberta – em Repton, no centro da
atual Inglaterra, – obrigando o rei da Mércia a fugir para o exílio.
Na época, a cidade de Repton era a capital da Mércia, um dos reinos anglo-saxões da Inglaterra medieval.
“A
datação dos ossos de Repton é muito importante, porque sabemos muito
pouco sobre os primeiros incursores vikings, que mais tarde fariam parte
do considerável assentamento escandinavo na Inglaterra”, disse a autora
principal do estudo, Cat Jarman, da Universidade de Bristol.
Em
1975, os arqueólogos Martin Biddle e Birthe Kjølbye-Biddle iniciaram
escavações na área da Igreja de Saint Wystan, em Repton, às margens do
rio Trent. Eles escolheram o local porque ele era indicado como um
acampamento Viking na Crônica Anglo-Saxã, um manuscrito produzido no fim
do século 9. “O Grande Exército Viking se deslocou de Lindsey (no reino
da Nortúmbria, já dominado pelos escandinavos) para Repton, onde
estabeleceu um acampamento de inverno, em 873”, diz o texto.
Os
cientistas descobriram ali vários túmulos Vikings e o grande depósito de
ossos com quase 300 indivíduos enterrados em cova rasa no jardim da
igreja. Eles imaginaram ter encontrado o que procuravam: um cemitério do
exército Viking, que era conhecido na Inglaterra medieval como o
“Grande Exército Pagão”.
A cova parecia ficar dentro de um
monumento mortuário. Um edifício anglo-saxão, provavelmente um mausoléu
real, foi cortado ao meio e parcialmente arruinado, antes de ser
transformado em uma câmara mortuária.
Uma das salas da câmara
estava abarrotada com os restos mortais misturados de pelo menos 264
pessoas. Mais de 80% eram homens com idades entre 18 e 45 anos e alguns
vários apresentavam sinais de ferimentos violentos. Entre os ossos havia
armas e artefatos Vikings, incluindo machados, várias facas e cinco
moedas de prata com datas que iam de 872 a 875.
Tudo apontava para
uma associação com o Grande Exército Viking. Mas, para a perplexidade
dos cientistas, as primeiras datações feitas com radiocarbono refutavam
essa associação: a sepultura coletiva parecia conter uma mistura de
ossos de diferentes épocas – alguns deles centenas de anos mais antigos
que a Era Viking.
Mas a nova datação não deixa dúvidas: os ossos
foram todos enterrados em um período de apenas três anos, entre 872 e
875 – exatamente o período no qual o Grande Exército Viking estava na
região, de acordo com os registros históricos.
“As datações de
radiocarbono anteriores nesse sítio foram afetadas por algo que chamamos
de ‘efeito de reservatório marinho’ e que faz com que os ossos pareçam
muito mais antigos do que sua idade real”, disse Cat.
“Quando nós
comemos peixes e frutos do mar, nós incorporamos nos nossos ossos
carbono que é muito mais antigo que o encontrado na comida terrestre.
Isso confunde a datação de radiocarbono em materiais arqueológicos
ósseos. É preciso corrigir esse efeito, calibrando a datação por meio de
uma estimativa da quantidade de frutos do mar que era ingerida pelo
indivíduo”, explicou a pesquisadora.
Em uma parte do sítio de
Repton, os cientistas encontraram um túmulo com dois homens. O indivíduo
mais velho foi enterrado com um pingente na forma do martelo de Thor –
um deus escandinavo -, uma espada Viking e vários outros artefatos. A
datação indicou que os dois homens foram enterrados entre os anos de 873
e 886.
Segundo os cientistas, o homem enterrado com suas armas
recebeu numerosos ferimentos fatais no momento de sua morte, incluindo
um grande corte no fêmur esquerdo. Um detalhe intrigou os cientistas:
uma presa de javali foi colocada entre suas pernas.
De acordo com
eles, isso sugere que um dos ferimentos arrancou o pênis ou testículos
do indivíduo – e que a presa de javali foi colocada ali para substituir o
órgão perdido na preparação para a ida a Valhala, o local para onde os
guerreiros iam após a morte na mitologia nórdica.
Para os
pesquisadores, a nova datação da sepultura coletiva indica que os dois
homens também estavam ligados ao Grande Exército Viking.
O mesmo
vale para um outro túmulo, considerado extraordinário pelos cientistas,
que também foi encontrado fora da tumba coletiva. Nele, jovens com
idades de oito a 18 anos enterrados juntos em uma única cova, com uma
mandíbula de ovelha a seus pés Perto deles, grandes pedras foram
posicionadas como lápides e o túmulo foi colocado perto da entrada da
sepultura comum.
Os cientistas sugerem que o túmulo dos jovens
pode ter um significado ritualístico, pois há paralelos, em outros
locais onde houve presença da cultura Viking, de pessoas sacrificadas
para acompanhar mortos Vikings para Valhala. As datações de radiocarbono
também indicam que os jovens foram enterrados entre os anos de 872 e
885.
“Embora essas datações de radiocarbono não sejam uma prova
definitiva de que essas pessoas eram membros do exército Viking, agora
isso parece extremamente provável. O estudo também mostra como novas
técnicas podem ser utilizadas para reavaliar descobertas antigas e
resolver mistérios que perduram ao longo dos séculos”, disse Cat.
Correio 24 Horas
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