Liberação de emendas parlamentares bate recorde com o presidente Michel Temer

Em
ano de delação do Grupo J&F e suspensão de duas denúncias criminais
contra o presidente Michel Temer, as emendas parlamentares tiveram em
2017 o maior valor liberado dos últimos quatro anos. Ao todo, foram R$
10,7 bilhões, um crescimento de 48% em relação ao ano anterior e 68%
maior do que o liberado em 2015, quando a execução se tornou
obrigatória.
As emendas parlamentares são indicações feitas por
deputados e senadores de como o governo deve gastar parte dos recursos
previstos no Orçamento. Os parlamentares costumam privilegiar seus
redutos eleitorais. Incluem desde dinheiro para obras de infraestrutura,
como a construção de uma ponte, até valores destinados a programas de
saúde e educação.
Embora impositivas - o governo é obrigado a
pagá-las -, a prioridade dada a algumas emendas ainda é fruto de
negociação política. Por isso, são usadas para barganhar apoio em
votações importantes no Congresso.
Em dezembro, enquanto o governo
ainda tentava votar a reforma da Previdência, houve a maior liberação
mensal de empenhos, com R$ 3,24 bilhões (30,1% do total). A conta inclui
as indicações feitas individualmente por parlamentares e pelas bancadas
estaduais e do Distrito Federal. Os descongestionamentos de recursos no
fim do ano, motivados pela constatação de que o rombo nas contas
públicas seria menor do que o previsto, ajudaram a acelerar o ritmo de
liberações no mês.
Antes disso, os meses seguintes à divulgação da
delação premiada da J&F, que implicaram Temer, concentravam os
maiores valores liberados aos projetos dos parlamentares. Foram R$ 2,02
bilhões em junho e mais R$ 2,24 bilhões em julho.
Durante a
votação da primeira denúncia baseada na delação, no dia 2 de agosto, o
então ministro da Secretaria de Governo, Antônio Imbassahy (PSDB-BA),
foi flagrado negociando a liberação de emendas com deputados da base
aliada. “As emendas existem para serem executadas, independentemente de
serem oriundas de parlamentar da base ou da oposição. Na época das
votações, a oposição sempre vem com essa cantilena, mas na verdade esse
trabalho deve ser permanente”, afirmou o atual titular da pasta, Carlos
Marun (MDB-MS).
Saúde
Levantamento feito
pelo jornal O Estado de S. Paulo nas mais de 7 mil emendas individuais
que tiveram algum valor executado ao longo do ano mostra que 93,5% do
desembolsado pelo governo foi para a saúde, única área cuja destinação é
obrigatória por lei. Os dados são do Sistema Integrado de Planejamento e
Orçamento (Siop).
Do R$ 1,36 bilhão que foi para a saúde, quase a
totalidade (98%) serviu para apoio e manutenção de unidades em cidades
indicadas por parlamentares. O deputado Domingos Neto (PSD-CE), por
exemplo, direcionou R$ 11,28 milhões para abastecer os Fundos Municipais
de Saúde de 36 prefeituras no interior do Ceará. Sua emenda foi a de
maior valor pago no ano.
A segunda área que mais teve emendas
pagas foi agricultura, com R$ 39 milhões. A maior delas foi de outro
governista, o deputado Valdir Colatto (MDB-SC), que conseguiu a
liberação de R$ 2,34 milhões para 21 cidades de seu Estado – entre elas
Cordilheira Alta, que recebeu R$ 341 mil para comprar uma escavadeira
hidráulica, e Vargem Bonita, que teve R$ 253 mil para construir a Casa
do Produtor, local que servirá para o comércio da produção agrícola.
Embora
tenha sido o segundo órgão com o maior número de emendas individuais
empenhadas no Orçamento do ano passado, o Ministério das Cidades não
teve nenhuma delas pagas em 2017. O mesmo ocorreu com Transportes, Meio
Ambiente e Transparência. Quando uma emenda é empenhada, mas não paga,
ela fica na fila de pagamentos do ano seguinte, como restos a pagar.
Partidos
Na
divisão por legendas, 72,8% das emendas empenhadas foram indicadas por
parlamentares da base. O MDB foi o mais contemplado (R$ 1,032 bilhão).
Parlamentares do PT, que tem a segunda maior bancada na Câmara, tiveram
R$ 831 milhões. Na comparação com o que foi efetivamente pago, porém, a
diferença é maior. Foi R$ 1,13 bilhão para parlamentares da base
(75,8%), ante R$ 254,05 milhões (17,1%) para opositores.
MaisPB com jornal O Estado de S. Paulo.
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