PSDB decide manter apoio ao governo Temer
Apesar de racha interno, prevaleceu entendimento de que o partido não abandonará Temer enquanto reformas estiverem tramitando no Congresso
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O presidente nacional do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE)(3º/e), ao lado dos governadores de São Paulo, Geraldo Alckmin (c), e de Goiás, Marconi Perillo (3º/d), do prefeito de São Paulo, João Dória (2°/d), e do Paraná, Beto Richa (d), durante reunião da Executiva Nacional do partida, em sua sede em Brasília (André Dusek/Estadão Conteúdo) |
Principal fiador do presidente Michel Temer (PMDB) no Congresso Nacional, o PSDB decidiu na noite desta segunda-feira, em reunião ampliada da executiva nacional e de demais lideranças do partido, que vai permanecer na base aliada.
Os tucanos adotarão o discurso de que não podem desembarcar agora do
governo, sob o argumento de que um eventual rompimento com Temer poderia
prejudicar a aprovação das reformas da Previdência e trabalhista.
Na reunião, prevaleceu o entendimento de que, enquanto as
reformas estiverem tramitando no Congresso Nacional, o PSDB deve
continuar ao lado do peemedebista. Nos bastidores, tucanos também
defendem que, após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) absolver Temer da
cassação, a legenda deve agora aguardar a possível denúncia contra o
presidente que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pode
apresentar até o fim de junho.
Ex-ministro das Relações Exteriores de Temer, o senador José Serra
(SP) foi o primeiro a anunciar a decisão. Em entrevista à imprensa, ele
afirmou que a maioria dos tucanos decidiu se manter na base aliada até
que novos fatos surjam. “O PSDB não fará nenhum movimento agora no
sentido de sair do governo. Se os fatos mudarem, terão outras análises”,
afirmou o parlamentar. “É um governo que tocou adiante compromissos que
assumiu conosco. Isso é visto como algo positivo”, acrescentou.
A reunião foi comandada pelo presidente interino do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), e contou com as presenças de várias lideranças do partido. Entre elas, a do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e a do prefeito da capital paulista, João Doria.
Os quatro ministros da sigla – Bruno Araújo (Cidades), Antônio
Imbassahy (Secretaria de Governo), Aloysio Nunes (Relações Exteriores) e
Luislinda Valois (Secretaria de Direitos Humanos) – também participam.
Com a decisão de não desembarcar, os quatro permanecerão nos cargos.
Na reunião, as lideranças tucanas se revezaram no microfone.
De acordo com relatos, em seus discursos, o governador de São Paulo e
Serra defenderam que o partido permanecesse aliado ao governo, por
enquanto, para ajudar o Palácio do Planalto a aprovar as reformas da
Previdência, que sequer foi votada no plenário da Câmara, e trabalhista,
que já foi aprovada pelos deputados e que tramita no Senado.
Segundo relatos, José Serra defendeu a unidade do PSDB e que
a sigla leve em consideração a crise econômica pela qual o país passa. O
ex-ministro das Relações Exteriores pregou que a legenda deveria tomar
uma decisão “sensata” para não ser acusada de aprofundar a crise e
pregou a retomada das principais bandeiras do partido, como a defesa
pelo parlamentarismo.
Alckmin, por sua vez, afirmou que o PSDB deveria “observar” o
cenário político até a conclusão da votação das reformas. Conforme
relatos, o governador paulista ainda propôs antecipar a eleição para
escolher novos membros da executiva nacional do partido, incluindo o
substituto definitivo do senador afastado Aécio Neves (MG), licenciado
da presidência nacional da legenda desde 18 de maio, após ser atingido
pela delação de executivos do frigorífico JBS.
A eleição do substituto definitivo de Aécio no comando do
PSDB está prevista somente para maio do próximo ano. Senadores e
deputados querem antecipar o pleito para o segundo semestre deste ano. A
estratégia é tirar o mineiro do foco político para que a legenda possa
tentar “renovar” sua imagem para as eleições de 2018.
Mesmo ausente da reunião, Aécio também trabalhou, nos
bastidores, para evitar o desembarque do PSDB do governo agora. A
avaliação de “aecistas” é a de que, se os tucanos romperem com Temer
agora, o PMDB, partido do presidente e dono das maiores bancadas no
Congresso Nacional, trabalhará a favor da cassação do mandato do senador
mineiro no Conselho de Ética do Senado.
Em sua participação ao microfone, João Doria fez um discurso
em defesa da permanência do PSDB no governo. Segundo relatos de tucanos
presentes no encontro, o prefeito de São Paulo destacou que o partido
precisa manter o compromisso com a governabilidade e com as reformas.
Afilhado político de Alckmin, Doria também acenou ao governador em sua
fala. O prefeito declarou que ele e seu padrinho são “indivisíveis”.
O Palácio do Planalto apelou para Alckmin e Doria
para manter o PSDB no governo. Por meio de aliados, Michel Temer pediu
que os tucanos deem mais tempo a ele para reorganizar sua base de apoio e
mostrar que o governo ainda tem força para aprovar as reformas. O medo
de Temer é de que a saída do PSDB provocasse um desembarque em “cascata”
de outros partidos governistas.
Para auxiliares do presidente, as pretensões eleitorais de
Alckmin e de Doria favorecem um entendimento deles com o Planalto neste
momento. A ambos interessaria manter Temer no cargo, ainda que com baixa
popularidade, até 2018, quando um dos dois poderá ser o candidato a
presidente. No PSDB, a compreensão é de que a substituição do
peemedebista, via eleição indireta, poderia abrir caminho para o
presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ser candidato e permanecer
no cargo de presidente, o que elevaria o cacife eleitoral do partido
dele para 2018 e dificultaria um entendimento com os tucanos.
Entre os que defendiam o desembarque, coube ao senador
Ricardo Ferraço (ES) fazer a fala mais incisiva. Ao chegar à sede da
sigla, ele defendeu a imediata entrega dos cargos no governo por conta
das “denúncias devastadoras” contra a gestão Temer. “Vou defender que o
PSDB entregue os cargos, mas continue apoiando as reformas. A crise
vivida pelo governo é insustentável, as denúncias são devastadoras”,
disse antes de acrescentar que é possível tocar as reformas sem apoiar o
governo peemedebista.
Veja com Estadão Conteúdo
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