Guerra entre forrozeiros e sertanejos tira foco de tradição da festa junina
Publicado por: Érika Soares
No início deste mês de junho de 2017,
Elba Ramalho acendeu fogueira cujas labaredas ainda crescem e estão
inflando egos de artistas ligados ao forró e ao universo sertanejo. Com
argumentos plenamente justificados e justificáveis, a cantora paraibana
defendeu o território dos cantores e grupos de forró no palco principal
da festa de São João de Campina Grande, autointitulada “O maior São João
do mundo”.
Sem atacar os colegas do universo sertanejo, Elba questionou a
legitimidade da contratação de artistas sertanejos para apresentações no
principal palco da festa com o argumento de que artistas ligados ao
forró nunca se apresentaram na Festa do Peão de Barretos, evento
tradicional que sempre foi reduto de duplas e cantores sertanejos.
A questão é que, a partir da discussão
aberta por Elba de forma pacífica e legítima, artistas de um gênero e de
outro estão se atacando. A cantora e compositora Marília Mendonça saiu
na frente e mandou recado para Elba: “Vai ter sertanejo no São João,
sim, viu? Porque quem quer é o público”, alfinetou a artista goiana,
cheia de si, em apresentação no Recife (PE).
O contra-ataque foi rápido. De forma deselegante, o cantor cearense
Alcymar Monteiro criticou Marília com argumentos e falas indefensáveis
como a de que a artista “canta para cachaceiros”. Com ataques do gênero,
Alcymar revela preconceito contra a música sertaneja, ignora o alcance
nacional do gênero e perde a razão que está do lado dos artistas de
forró.
A questão é que os artistas que se
sentem lesados devem cobrar das prefeituras de cidades ligadas ao forró,
como Campina Grande (PB), a preservação das tradições da programação
principal das festas de forró. São as prefeituras que contratam os
artistas e arcam com os custos das festas de São João. Elba teve foco e
maturidade ao abrir a discussão. Infelizmente, esse foco está se
perdendo com indiretas e ataques desnecessários de artistas como Alcymar
Monteiro e Marília Mendonça.
Em um Brasil que pouco faz pela cultura do país, é fundamental que haja
união entre os artistas de todos os gêneros. Até porque todos os gêneros
(sertanejo, forró, MPB, pop etc) acabam se misturando. A cantora e
compositora Ana Carolina, por exemplo, já fez parceria e já gravou com
Luan Santana, para citar somente um exemplo de união musical entre um
ídolo sertanejo e uma cantora identificada com a MPB pop.
Alertar contra o crescente domínio dos
sertanejos nos nichos forrozeiros é legítimo. Desqualificar de forma
grosseira artistas deste gênero amado por grande parte do povo
brasileiro é atitude que em nada contribui para a resolução da questão. O
discurso enérgico, mas pacífico, de Elba Ramalho deve ser tomado como
exemplo nesse guerra que já acendeu a fogueira de vaidades, tirando o
foco da questão primordial.
Aos forrozeiros, o que é dos forrozeiros. Mas que estes respeitem os
sertanejos. E que os sertanejos também reflitam sobre a questão sem
dispararem ataques e sem se sentirem superiores somente porque, no
momento, a máquina da indústria da música opera, sobretudo, a serviço do
gênero. Basta somente que os respectivos nichos e territórios sejam
respeitados por uns e por outros…
Fonte: G1 Paraíba

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