Setor destinado ao pagamento de propinas da Odebrecht movimentou US$ 3,3 bilhões

O setor destinado ao pagamento de propinas da
Odebrecht movimentou cerca de US$ 3,370 bilhões (R$ 10,6 bilhões) entre
2006 e 2014. O número consta de uma tabela entregue à Procuradoria Geral
da República (PGR) pelo ex-executivo do grupo Hilberto Mascarenhas,
responsável pela chamada Área de Operações Estruturada, que realizava o
controle de vantagens indevidas pagas a políticos.
Em
depoimento aos investigadores da Operação Lava Jato, ele contou que chegou a alertar o presidente do grupo, Marcelo
Odebrecht, para o volume do dinheiro, que alcançou, tanto em 2012 quanto
em 2013, US$ 730 milhões (R$ 2,2 bilhões, na cotação atual).
No
depoimento, o procurador questiona o motivo da queda, no ano seguinte,
para US$ 450 milhões e Hilberto diz que a movimentação trazia risco de
“suicídio” para a empresa.
“Sabe
por quê? Porque eu tava de saco cheio de falar. E aí eu pressionei. Os
outros anos eu falava, falava que eu estava preocupado, estava
preocupado, muita gente participando desse assunto nas obras … Eu fui a
Marcelo várias vezes. Marcelo, ó pra isso? Não tem condição. 730 milhões
de dólares é mais de bilhão [de reais]. Nenhum mercado tem isso em
disponibilidade de dinheiro por fora e nem tem como você operar isso,
rapaz. Isso aqui é suicídio”, disse.
“Suicídio financeiro suponho?”, emenda o procurador.
“Suicídio
financeiro, suicídio de risco, suicídio de segurança, suicídio de
tudo”, completa o ex-executivo. “Eu pedia um formalismo, entendeu? A
questão não era o dinheiro. Era um formalismo. Vamos tratar esse assunto
como um extra, como uma necessidade. Isso não é você ter o prazer de
comprar alguém. Já estava virando o cara ter o prazer de comprar
alguém”, narrou.
O setor funcionou até 2015, mesmo após o início da Operação Lava Jato, por ordem de Marcelo Odebrecht.
Forma dos pagamentos
Em
outro trecho, o responsável pelo departamento de propina explica que os
pagamentos, para brasileiros ou estrangeiros de vários países onde a
Odebrecht tinha obras, era quase todo feito via offshores, empresas que
são criadas em paraísos fiscais apenas pra essas operações financeiras.
Outra
parte, menor, era feita em espécie, com a entrega de pacotes ou malas
de dinheiro em locais combinados entre funcionários da empresa e
intermediários dos políticos. Com o crescimento do volume de pagamentos,
foi preciso contratar um funcionário só para administrar os valores.
Hilberto
ainda explicou que, por ordem de Marcelo Odebrecht, as propinas só
podiam ser pagas naquelas obras cujos pagamentos já haviam sido
efetuados para a empreiteira.
“Ele
[funcionário] tinha um papel determinado por Marcelo, que não desse
andamento a nenhuma solicitação, de nenhuma obra, que tivesse conta
corrente negativa. Acho que o que ele queria era forçar aquela obra a
correr atrás de regularizar a conta corrente”, afirmou.
O
executivo ainda conta que depois tentou convencer o presidente do grupo
a autorizar repasses de propina antes do pagamento pela obra, de forma a
viabilizá-lo.
“Se você proíbe que ele receba esse dinheiro, ele não vai receber a fatura, ele vai continuar sempre negativo… ‘Não, mas eu quero que ele corra atrás’, ele dizia, ‘sem precisar dar nada’… Isso é um sonho na noite de verão né, porque não era assim que funcionava. Esperamos que no futuro mude, mas as tesourarias dos órgãos não funcionavam assim… Se não me der o meu, não sai aqui o pagamento”, contou.
“Se você proíbe que ele receba esse dinheiro, ele não vai receber a fatura, ele vai continuar sempre negativo… ‘Não, mas eu quero que ele corra atrás’, ele dizia, ‘sem precisar dar nada’… Isso é um sonho na noite de verão né, porque não era assim que funcionava. Esperamos que no futuro mude, mas as tesourarias dos órgãos não funcionavam assim… Se não me der o meu, não sai aqui o pagamento”, contou.
G1
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